Duros golpes

By | 07/02/2015 8:48 pm

(Editorial da Folha, na sexta)

Os papeis da Petrobras se valorizaram mais de 20% na Bolsa desde a sexta-feira da semana passada, quando haviam atingido seu menor preço em 11 anos. Ainda assim, o governo federal, principal acionista da empresa, não teve nenhum motivo para comemorar.

Na terça-feira (3), a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu as cartas de renúncia de diretores da estatal. Precisando de tempo para encontrar substitutos, combinou com Graça Foster, chefe da Petrobras, que o grupo sairia no final deste mês, após a publicação do montante desviado por corrupção.

Menos de 24 horas depois do acerto, contudo, cinco dos sete diretores rejeitaram o cronograma, e a troca no comando da empresa será confirmada nesta sexta-feira (6).

Se se tratasse de uma estatal qualquer, já seria uma situação indigesta para Dilma; estando em jogo o futuro da maior companhia do país, a abdicação coletiva representou um duríssimo golpe contra a petista. E era só o primeiro.

Na própria quarta-feira (4), 182 deputados federais preencheram requerimento para a abertura de nova Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o escândalo da Petrobras. Prostrado, o Planalto viu o número mínimo de assinaturas (171) ser ultrapassado com a ajuda de 52 parlamentares governistas.

Por dever de ofício e provável satisfação pessoal, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), criou a CPI no dia seguinte. Sua instalação, porém, deve ficar para depois do Carnaval, quando serão indicados seus integrantes.

Com alguma razão, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais) lembrou que as CPIs perderam o protagonismo que tiveram no passado –mas talvez tenha se esquecido de que a base de Dilma no Congresso mostra-se a cada dia mais alheia aos interesses do PT.

Seja como for, Vargas também observou que, atualmente, ganharam destaque os órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público. De fato.

Soube-se nesta quinta-feira (5), por exemplo, que Pedro José Barusco Filho, ex-gerente da Petrobras, estima que o PT tenha recebido até US$ 200 milhões, de 2003 a 2013, a título de propina em contratos da estatal. O cálculo consta de depoimento prestado em novembro, fruto de acordo de delação premiada feito com procuradores.

Em seu testemunho, Barusco dá detalhes precisos sobre o esquema, incluindo a participação de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT já citado por outros delatores.

Não é pouco sendo esta somente a primeira semana de trabalho do Judiciário e do Legislativo em 2015. Prestes a completar 35 anos, o Partido dos Trabalhadores tem poucos motivos para comemorar.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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