Bengala prematura (*)

By | 21/02/2015 7:18 pm

(Editorial na Folha de quinta-feira)

O governo se mobiliza para evitar que, na próxima semana, entre na pauta de votações da Câmara dos Deputados a chamada PEC da bengala, proposta de emenda à Constituição que altera as regras da aposentadoria compulsória.

Hoje, todo funcionário público é obrigado a encerrar sua carreira aos 70 anos. Com a mudança, o teto seria elevado para 75 anos no caso de membros das cortes superiores e do Tribunal de Contas da União.

A medida, que está parada na Câmara desde 2006 e quase foi apreciada antes do Carnaval, contraria os interesses do Palácio do Planalto num aspecto nada republicano.

Se aprovada, tirará da presidente Dilma Rousseff (PT) o direito de indicar os substitutos dos cinco ministros do Supremo Tribunal Federal que, nos próximos quatro anos, atingirão o atual limite de idade.

Desnecessário dizer que, do outro lado da moeda, a oposição se preocupa com a possibilidade de, a partir de 2016, o STF ter 10 de seus 11 ministros indicados pelo PT.

Nada mais empobrecedor para esse debate do que conduzi-lo nesses termos. Se o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tivesse sido eleito em 2014, por exemplo, estariam petistas e seus adversários defendendo as mesmas posições de agora?

O casuísmo tampouco resiste ao teste da realidade. Já predominavam, no plenário que determinou as condenações do mensalão, ministros nomeados por presidentes petistas, mas nem por isso faltou independência a uma corte na qual se confrontavam Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, ambos escolhidos no governo Lula.

A importância da PEC da bengala, entretanto, não se deixa medir por essa discussão mesquinha. Seu princípio torna-se a cada dia mais relevante para a saúde do sistema previdenciário, e justamente por isso deveria ser expandido para todo o funcionalismo.

Em 1960, a expectativa de vida no Brasil era de 52,4 anos; atualmente beira os 75, e calcula-se que chegará a 81 por volta de 2050, quando mais de 15% da população terá ultrapassado os 70 anos (hoje são cerca de 5%). As balizas da seguridade social como um todo, e as da aposentadoria compulsória em particular, precisam acompanhar as tendências demográficas.

Possíveis efeitos colaterais, como eventual engessamento da estrutura burocrática, podem ser enfrentados com mecanismos específicos que garantam a renovação dos cargos de direção.

De resto, com os avanços da medicina e do bem-estar, não há razão para impedir que pessoas experientes continuem trabalhando no serviço público em idades mais avançadas. A outra opção, de todo modo, continuará disponível a cada um.

Comentário do programaSou suspeito para falar já que atinjo a compulsória em outubro, ao completar setenta anos, mas concordo com o editorial da Folha. O funcionário público que atinja as condições de aposentadoria (idade mínima ou tempo de serviço) e que continue a trabalhar, passa a custar ao Governo apenas onze por cento do seu salário, valor correspondente à sua previdência que deixa de pagar e que recebe como adicional de permanência. Se ele tiver disposição para trabalhar realmente vai substituir um funcionário novo que ganharia várias vezes mais do que isso. A mudança da idade de aposentadoria compulsória deveria se estender a todo o funcionalismo como forma de economia para um Governo literalmente quebrado. Em tempo: Eu não tenho ainda o tempo de serviço necessário para me aposentar (vou fazer vinte anos como auditor fiscal do trabalho), mas atingirei a idade máxima para continuar no serviço público. (LGLM)R

 

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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