(José Augusto Longo, no Patos Online)
Durante mais de trinta anos, o prefeito Antônio Tota sonhou com a ligação asfáltica entre sua cidade e a de São José do Bonfim. Por mais de trinta anos, trocou os seus votos, os votos dos seus amigos, com candidatos a governador que se comprometiam realizar seu sonho. Mãe D’Água, praticamente de porteira fechada, votava nesses nomes que, depois de eleitos, esqueciam-se do compromisso, trocando a palavra empenhada com um homem sério e cumpridor de compromissos – ao contrário deles -, pela velha desculpa de que não havia dinheiro disponível para a construção de uma estrada que não apesentava viabilidade econômica, situada num pontinho bem distante do mapa, sem importância política que justificasse o investimento. Acordos desse tipo foram feitos com Burity I e II, com Mariz, com Maranhão I, II, III e mais outro, com Cássio I e II e, até mesmo o seu velho amigo Wilson Braga, que se escondia em sua Fazenda na SerrAe da Mãe D’Água, sempre que necessitava fugir do trabalho durante dias, o fez sonhar com a sua estrada. Toinho, que fez tudo pela sua terra e pela sua gente, que fez da escondida Mãe D’Água um exemplo de moralidade administrativa, que administrou com competência, honestidade e ética, morreu sem ver concretizado o seu grande desejo, a sua grande aspiração. Entendia ele que a sua pequenina cidade, onde todos os setores funcionavam com eficiência, onde saúde, educação, limpeza pública e a sua própria gente ordeira, precisava ser mostrada ao mundo, o que somente se viabilizaria com o asfalto preto que cortasse o ventre da serra ainda virgem de tal progresso. Tinha ele certeza de que, somente o asfalto poderia levar até o recôndito da Serra do Teixeira, turistas que pudessem com a sua presença, admirar e consequentemente divulgar as suas belezas naturais; e nós, que com ele convivíamos, também sonhávamos o seu sonho para que por ele fluísse Paraíba afora, com maior desenvoltura, o exemplo que ele plantara de que administração pública não é propriedade privada e que é o povo, verdadeiramente, o dono do erário.
No último dia seis, de onde quer que esteja Toinho Tota assistiu o triunfar de sua maior aspiração: a sua tão sonhada, tão deseja estrada asfaltada estava sendo entregue, não pelos enganadores que trocaram os votos dos seus amigos por promessas não cumpridas de políticos comuns e sem palavra. Quem estava entregando sua estrada a Margarida e seu povo, era um governador em quem ele nunca votou, de quem nunca ouviu promessas, quem, talvez, nem chegou mesmo a conhecer pessoalmente. Recebia Mãe D’Água a sua estrada asfaltada, fruto do trabalho de um homem que não se chama Mariz, Maranhão, Burity, Wilson ou Cássio, que não costuma rir facilmente, nem dar tapinhas nas costas; que não promete, nem mesmo quando precisa de votos: chama-se Ricardo, governador que, em memória de Toinho Tota, Mãe D’Água jamais poderá esquecer.
Comentário do programa – Como sempre assino embaixo de tudo que Zé Augusto disse acima. (LGLM)