Janot e JBS já discutem revisão de acordo de delação premiada

By | 10/09/2017 5:43 am

 

(Folha de São Paulo)

A equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a J&F, controladora do frigorífico JBS, começaram a discutir a possibilidade de rever o acordo de delação premiada da empresa homologado em maio.

 

A retificação, que pode culminar no cancelamento do acordo, é consequência da polêmica envolvendo o áudio de Joesley Batista, sócio do grupo, e Ricardo Saud, ex-executivo da empresa.

 

A gravação levanta a suspeita de que o ex-procurador Marcello Miller, que trabalhou por três anos com Janot, atuou na negociação da delação da JBS antes de se desligar oficialmente do órgão, em 5 de abril.

 

Segundo a Folha apurou, Janot pediu ao ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, a prisão dos delatores da JBS e de Miller, que depôs nesta sexta (8) no Rio.

 

O pedido de Janot está sob sigilo. Não há previsão ainda sobre quando Fachin vai despachá-lo.

 

Para ele, houve patente descumprimento de dois pontos de uma cláusula do acordo de delação que tratam de omissão de má-fé, o que justificaria rever os benefícios.

Segundo interlocutores da PGR (Procuradoria-Geral da República), a JBS já foi informada das intenções de Janot. Diante disso, a empresa atua para “reduzir danos”, passando a admitir nos bastidores a possibilidade de repactuar as cláusulas do acordo homologado por Fachin em troca de evitar sua anulação.

 

A JBS considera que, com o episódio do áudio, terá, por exemplo, que aumentar o valor da multa acertada no acordo de delação.

 

No acerto, os delatores da empresa se comprometeram a pagar um total de R$ 225 milhões. O montante foi considerado baixo considerando os ilícitos cometidos pelo grupo.

No caso da Odebrecht, a multa dos delatores, por exemplo, se soma em meio bilhão de reais.

 

Em relação a medidas cautelares, como prisão, a JBS vai esperar a posição que será enviada por Janot a Fachin antes de sugerir algo –como detenção domiciliar, por exemplo.

 

Representantes do frigorífico foram informados que o procurador-geral decidirá como proceder até segunda-feira (11), após os investigadores ouvirem todos os envolvidos no caso.

 

Segundo apurou a reportagem, os delatores aceitam negociar, mas já traçaram a estratégia para evitar a rescisão.

 

O caminho da defesa tem sido argumentar à Procuradoria que a empresa apresentou um volume de provas considerável, entre eles as obtidas em ação controlada, como a mala de R$ 500 mil entregue ao ex-assessor do presidente Michel Temer Rodrigo Rocha Loures.

 

Por meio da ação controlada, os policiais também filmaram o primo do senador Aécio Neves (PSDB-MG) recebendo dinheiro em espécie.

 

Na avaliação de um interlocutor da empresa, essa é a “rainha de todas as provas” por mostrar um crime que está em curso.

 

Representantes da JBS alegam que tirar o benefício dado aos delatores, mas usar as provas colhidas, será a destruição do instituto da delação.

 

A JBS destaca também que apresentou recentemente mais 50 anexos, além do áudio que gerou a polêmica.

 

Advogados e delatores têm insistido junto à PGR que a gravação não traz crimes e que não houve omissões, por isso o acordo deveria mantido, mesmo que com revisões.

 

Na quinta (7), Joesley, Saud e o advogado e também delator Francisco Assis e Silva depuseram por cerca de dez horas à PGR, em Brasília.

 

Joesley afirmou que não recebeu orientações de Miller para negociar um acordo de delação, nem para gravar Temer no encontro no Palácio do Jaburu, em 7 de março.

 

Todos relataram que consultaram Miller em linhas gerais sobre o processo de delação e que acreditavam que ele já havia saído da PGR na época. Afirmaram ainda que nenhum das gravações foi feita por orientação dele.

 

Joesley disse no depoimento que foi apresentado a Miller por Francisco Assis e Silva porque estava à procura de alguém para a área de anticorrupção da empresa.

 

No áudio, além de citar a ajuda de Miller, os delatores falam sobre o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e os ministros do Supremo Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.

Comentário

Comentário

Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *