(José Romildo de Sousa, historiador)
No final da noite de hoje, pelo segundo ano consecutivo, em virtude da pandemia da Covid-19, não vai ser realizada a tradicional Procissão dos Homens, evento que vem acontecendo desde 1954, toda quinta-feira da Semana Santa onde a população masculina do município de Patos se concentra em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição para, a partir da meia-noite, sair dali em caminhada pelas principais avenidas da cidade cantando e orando e, assim, participando deste grandiosíssimo evento religioso.
A Procissão reúne uma grande quantidade de devotos e algumas das nossas mais conhecidas figuras, que sempre fizeram a maior questão de não faltarem ao compromisso da meia-noite da Quinta-feira Santa, entre eles, podemos relembrar de Zezinho Pintor, Beca Palmeira, Fernando Soares, José Gayoso, Antônio Tranca-Rua, Codó, Rubens Palmeira, Nego Côco, Zé Neves, Afonso do Posto, Zequinha, Zé do Motor, Eudim do Tiro de Guerra, Carreiro, Bacalhau, e Antonio Rafael.
A Procissão sempre tem o seu término na Catedral de Nossa Senhora da Guia, local onde os participantes, num gesto de significativa espiritualidade, retiram do caixão do Senhor Morto flores que o ornamentavam e guardam-nas como relíquias para livrá-los dos supostos atropelos que o dia-a-dia pode proporcionar.
Um dos fundadores da “Procissão dos Homens”, Vigolvino – o Grande – que por muito tempo foi também sacristão, revelou que no início, toda quinta-feira da Semana Santa, juntava-se com alguns adeptos do ping-pong e ficavam jogando na sede da “Ação Católica”, instituição religiosa que ficava localizada ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Guia. Lá pelas tantas, quando as pessoas estavam dormindo e as ruas completamente desertas, eles iam até à Igreja da Conceição, pegavam o Senhor Morto e o traziam para a Matriz Diocesana.
Com o passar do tempo, segundo Vigô o número de participantes foi aumentando consideravelmente a cada ano. Em uma determinada ocasião a multidão já se tornava quase incontrolável. Nesta oportunidade, ocorreu que alguns populares resolveram ir buscar o Caixão do Senhor Morto mais cedo que o previsto. Houve então um começo de tumulto, que foi controlado, após muito diálogo. Devido este acontecimento, a Igreja resolveu assumir, em definitivo, a Procissão. Naquela época, dirigia os destinos religiosos de Patos o Padre Francisco de Assis Sitônio, que foi vigário da Matriz de 1953 a 1959.
Os demais precursores da Procissão dos Homens foram: Valdim de Mizael, que era músico da Filarmônica 26 de Julho; Faustino Viera, que trabalhou em “Batista Tecidos”, Fernando Mocinha e Eduardo, este último proprietário do Buffet São Jorge.
Por um longo período era da responsabilidade de Fernando Mocinha a tarefa de puxar o terço e os cantos da Procissão, contando ainda o apoio de Zé Neves do Banco do Brasil. Com a morte de Fernando, Rafael passou a desempenhar esta função, auxiliado por Agnaldo Sátyro e outros companheiros.
Encerrada a Procissão e feita as últimas orações, o Senhor Morto é levado para o interior da Igreja de Nossa Senhora da Guia, localizada na rua Sólon de Lucena, onde tem início um dos momentos mais esperados pelos participantes da caminhada: a retirada das relíquias. Os devotos se comprimem em volta do Senhor Morto e travam uma grande disputa na busca de conseguir uma flor, uma rosa, um cravo, ou mesmo uma pequenina folha de um ramo que ornamentavam o caixão e que será guardado com muito carinho, respeito e devoção.
A Procissão dos Homens, originaria da cidade de Patos, nasceu da necessidade de trazer o Caixão do Senhor Morto (que permanece durante todo o ano na Igreja da Conceição) para a Matriz de Nossa Senhora da Guia, de onde sai toda Sexta-feira Santa, a partir das 17:00 horas, acompanhado por uma grande quantidade de paroquianos que vão reverenciando a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo na perspectiva da sua ressurreição.
Esta Procissão, a da sexta-feira, tem o seu encerramento na Igreja da Conceição, onde o senhor morto fica exposto em adoração até às 21:00 horas e, em seguida, é por ela acolhido para ali permanecer, por mais um ano.