A PROCISSÃO DOS HOMENS

By | 18/04/2021 5:31 am

(José Romildo de Sousa, historiador)


No final da noite de hoje, pelo segundo ano consecutivo, em virtude da pandemia da Covid-19, não vai ser realizada a tradicional Procissão dos Homens, evento que vem acontecendo desde 1954, toda quinta-feira da Semana Santa onde a população masculina do município de Patos se concentra em frente à Igreja de Nossa Senhora da Conceição para, a partir da meia-noite, sair dali em caminhada pelas principais avenidas da cidade cantando e orando e, assim, participando deste grandiosíssimo evento religioso.
A Procissão reúne uma grande quantidade de devotos e algumas das nossas mais conhecidas figuras, que sempre fizeram a maior questão de não faltarem ao compromisso da meia-noite da Quinta-feira Santa, entre eles, podemos relembrar de Zezinho Pintor, Beca Palmeira, Fernando Soares, José Gayoso, Antônio Tranca-Rua, Codó, Rubens Palmeira, Nego Côco, Zé Neves, Afonso do Posto, Zequinha, Zé do Motor, Eudim do Tiro de Guerra, Carreiro, Bacalhau, e Antonio Rafael.
A Procissão sempre tem o seu término na Catedral de Nossa Senhora da Guia, local onde os participantes, num gesto de significativa espiritualidade, retiram do caixão do Senhor Morto flores que o ornamentavam e guardam-nas como relíquias para livrá-los dos supostos atropelos que o dia-a-dia pode proporcionar.
Um dos fundadores da “Procissão dos Homens”, Vigolvino – o Grande – que por muito tempo foi também sacristão, revelou que no início, toda quinta-feira da Semana Santa, juntava-se com alguns adeptos do ping-pong e ficavam jogando na sede da “Ação Católica”, instituição religiosa que ficava localizada ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Guia. Lá pelas tantas, quando as pessoas estavam dormindo e as ruas completamente desertas, eles iam até à Igreja da Conceição, pegavam o Senhor Morto e o traziam para a Matriz Diocesana.
Com o passar do tempo, segundo Vigô o número de participantes foi aumentando consideravelmente a cada ano. Em uma determinada ocasião a multidão já se tornava quase incontrolável. Nesta oportunidade, ocorreu que alguns populares resolveram ir buscar o Caixão do Senhor Morto mais cedo que o previsto. Houve então um começo de tumulto, que foi controlado, após muito diálogo. Devido este acontecimento, a Igreja resolveu assumir, em definitivo, a Procissão. Naquela época, dirigia os destinos religiosos de Patos o Padre Francisco de Assis Sitônio, que foi vigário da Matriz de 1953 a 1959.
Os demais precursores da Procissão dos Homens foram: Valdim de Mizael, que era músico da Filarmônica 26 de Julho; Faustino Viera, que trabalhou em “Batista Tecidos”, Fernando Mocinha e Eduardo, este último proprietário do Buffet São Jorge.
Por um longo período era da responsabilidade de Fernando Mocinha a tarefa de puxar o terço e os cantos da Procissão, contando ainda o apoio de Zé Neves do Banco do Brasil. Com a morte de Fernando, Rafael passou a desempenhar esta função, auxiliado por Agnaldo Sátyro e outros companheiros.
Encerrada a Procissão e feita as últimas orações, o Senhor Morto é levado para o interior da Igreja de Nossa Senhora da Guia, localizada na rua Sólon de Lucena, onde tem início um dos momentos mais esperados pelos participantes da caminhada: a retirada das relíquias. Os devotos se comprimem em volta do Senhor Morto e travam uma grande disputa na busca de conseguir uma flor, uma rosa, um cravo, ou mesmo uma pequenina folha de um ramo que ornamentavam o caixão e que será guardado com muito carinho, respeito e devoção.
A Procissão dos Homens, originaria da cidade de Patos, nasceu da necessidade de trazer o Caixão do Senhor Morto (que permanece durante todo o ano na Igreja da Conceição) para a Matriz de Nossa Senhora da Guia, de onde sai toda Sexta-feira Santa, a partir das 17:00 horas, acompanhado por uma grande quantidade de paroquianos que vão reverenciando a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo na perspectiva da sua ressurreição.
Esta Procissão, a da sexta-feira, tem o seu encerramento na Igreja da Conceição, onde o senhor morto fica exposto em adoração até às 21:00 horas e, em seguida, é por ela acolhido para ali permanecer, por mais um ano.

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Category: Memórias de Patos

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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