Morreu o Louro José!

By | 23/04/2021 8:32 am

(Patos Online, 14/06/2013))

Não sei quem lhe pôs este apelido, em uma das campanhas políticas em que Dinaldo era candidato e Marcone era quem fornecia-lhe subsídios para os seus discursos e mensagens. Profundo conhecedor da história política de Patos, onde foi vereador por duas vezes, Marcone desfiava de cor todas as obras realizadas por Dinaldo nos dois mandatos e com base nisso eram elaborados os programas de rádio e as mensagens utilizadas nos comícios. Trabalhamos juntos em três destas campanhas, quando ele e Abraão Teixeira produziam os textos dos programas e nós exercíamos uma espécie de moderação quando eles dois divergiam. Marcone tinha os dados estatísticos e a eloquência, Abraão a experiência jornalística e o conhecimento da política local, nós aparávamos as arestas e muitas vezes convencíamos Marcone a tornar a linguagem mais palatável para o povão.

A nossa amizade vinha de longa data. Fomos juntos para o seminário de Cajazeiras em 1955. Ele um pré-adolescente de onze ou doze anos, neto de Manoel Italiano, fazendeiro no Mocambo e compadre de meu avô Pedro Paca. Eu um garoto de nove anos. Inocente de tudo. Independente e contestador, Marconi demorou pouco no seminário, eu ali permaneci seis anos, terminando o primário e o ginásio. Voltamos a nos encontrar depois que saí do seminário, quando ele já se preparava para enfrentar a vida. Estudioso e muito curioso, aprendeu telegrafia praticamente só, tendo depois trabalhado por vários anos no DER como telegrafista. Durante este período trabalhou por algum tempo na Rádio Espinharas, como rádio escuta, acompanhando a transmissão de notícias feita pelas agências noticiosas através da telegrafia e transcrevendo as matérias para os noticiários da emissora.

Orador eloquente, foi atraído para a política, tendo conseguido se eleger vereador pelo MDB, na campanha em que se elegeu para prefeito o Dr. Olavo Nóbrega, em 1968. Foi o segundo mais votado com 1034 votos. Na eleição seguinte, em 1972,  talvez escaldado pela prisão que sofrera da ditadura no final da década de setenta, passou-se para o palanque de Aderbal Martins, que se elegeu prefeito pela Arena. Marconi se reelegeu vereador com a oitava votação, totalizando 775 votos. Apesar da eloquência, perdera a confiança dos medebistas e não conseguira se mostrar confiável para os arenistas, daí ter se reduzido a sua votação. Em 1978, disputou sua última eleição e não se elegeu, obtendo apenas 218 votos.

A estas alturas já estudava em Campina Grande, onde cursou a Faculdade de Direito, e após formado passou a advogar naquela cidade. Ali formava nas rodas frequentadas por Raimundo Asfora, Ronaldo Cunha Lima e outros grandes juristas e oradores campinenses. Dedicou-se à área criminal onde ganhou nomeada. Algum tempo depois de formado conseguiu entrar para a advocacia de ofício do Estado, continuando em Campina Grande até se aposentar na função.

Aposentado, voltou para Patos na década de noventa, participando de várias campanhas políticas comandadas por Dinaldo Wanderley de quem era muito amigo. Representou Dinaldo em muitas solenidades locais e com ele redigiu muitas proclamações políticas. Durante as duas administrações de Dinaldo, Marcone exerceu o cargo de Secretário de Indústria e Comércio.

Até o final da vida, Marconi continuou boêmio e polêmico. Há cerca de um mês, almoçamos juntos no “Sabor da Terra”, quando ele nos contou algumas aventuras dos últimos meses, no campo amoroso. Apesar de separado da mãe dos seus cinco filhos, acompanhava de perto a vida deles e vibrava com as suas conquistas. Sempre nos contava as conquistas de seu filho mais velho, Cássio, segundo ele de uma inteligência notável. Problemas de saúde do filho Cássio, nos últimos tempos, o vinham preocupando, um das razões que o teriam levado a ir para Campina Grande, onde a sua própria saúde se agravou com problemas de diabetes cumulados com problemas cardíacos. José Marcone de Andrade ou Marcone Sobral como era mais conhecido, faleceu em Campina Grande, no final da noite do último domingo, aos setenta anos de idade. Cercado pelo carinho dos filhos e, por ironia do destino, segundo um amigo comum nosso, da ex-mulher.

Na condição de ex-vereador, foi velado na Câmara de Vereadores de Patos, sendo sepultado no final da tarde da última segunda-feira. Muitos amigos, companheiros de seu tempo de vereador, antigos eleitores, autoridades civis, militares e eclesiásticas, foram levar suas condolências aos filhos e prestar uma última homenagem, ao grande jurista, grande orador, vereador por duas legislaturas, polemista e boêmio Marcone Sobral. A prefeita Francisca Motta decretou luto oficial na segunda-feira. Um amigo seu, Jocimar Oliveira, lhe prestou uma comovente homenagem, discursando na Câmara, contando detalhes de sua vida e de sua trajetória política.

Residindo há vários anos na rua Manoel Meira, no bairro do Jatobá, Marcone era muito popular entre os vizinhos que deploraram a sua morte e muitos deles integraram o cortejo de familiares, amigos, antigos eleitores e autoridades que o acompanharam no sepultamento no final da tarde de segunda-feira, no cemitério de São Miguel.

Daqui as nossas condolências a todos os familiares do grande amigo e ouvinte assíduo da nossa Revista da Semana.

 

 

 

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Category: Meus escritos

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

2 thoughts on “Morreu o Louro José!

  1. Carla Márcia Barbosa Sobral

    Obrigada pelas palavras dirigidas a meu Pai Marcone Sobral, depois de dez anos de sua partida foi que vim ver essa homenagem ao nosso saudoso Louro José, me emocionei muito ao ler.
    Hoje senti saudades de painha e vim na internet para ver se ainda encontrava alguma coisa sobre ele e encontrei esse documentário belíssimo sobre sua trajetória de vida.
    Muito obrigada!

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