(Misael Nóbrega de Sousa)
Outro dia, pediram-me para definir cultura: Cultura são os quadros de Murilo; os carões de padre Noronha; a peleja de Inácio e Romano de Teixeira; o pandeiro de Derréis; todas as bandas de músicas; os festivais de Jomaci; a casa de Miguel Sátiro; os cordéis de Antonio Américo; o cego condensinha; a procissão dos homens; o hino da padroeira na voz de Amaury; o violão de Emiliano; as lições da professorinha Antonieta; a beata Vitalina; Sinésio e Assis doido; Tranca-rua; Dr. Raiz; é um prato de cuscuz… É a rádio Espinharas; é Batista Leitão, a crônica das 12; o beco da Conceição, a feira da troca; as missões de Frei Damião; o sobrado de Alcebíades; o antigo Pedro Aleixo; a cruz da menina; é um bando de ciganos… Cultura bate na calha e escorre pela biqueira; faz cafuné para eu dormir; entra à noite pela brechinha da telha; é o ringido da rede altas horas da noite; uma casa alpendrada; o retrato na parede; o chapéu de palha; é queijo e doce de leite; o café com tapioca; é a pega do boi; a vaquejada; o pio da coruja; os óculos de tia Ninita; a rua onde nasci; os colegas de infância; é o meu primeiro beijo… Cultura é o que eu aprendo; cultura é o que eu ensino; cultura é o que eu sinto; cultura é como eu falo; cultura é como eu me comporto; cultura é como eu me importo; cultura é a natureza modificada por minha própria natureza… – Eu produzo cultura. As definições didáticas de cultura, tornam-se ordinárias… – Mesmo que antropologicamente ou sociologicamente justificadas, porque cultura é conhecimento e experiência adquiridos. Cultura somos todos nós em constante transformação: consumo, expressões, valores, linguagem, religião, culinária, leis, hábitos, música e arte. E são ainda as novas pessoas que chegam com suas diferentes escolhas.