Eliane Cantanhêde: STF e CPI voltam com suspeita de ‘homicídio comissivo’

By | 01/08/2021 7:43 am

Em agosto: reinício de STF e CPI, defesa da democracia e suspeita de ‘homicídio comissivo’

Com o fim do recesso, tudo volta ao normal: as revelações sobre vacinas pululam e a resistência democrática mobiliza o Supremo

(Eliane Cantanhêde, no Estadão, 01/08/2021)

Boa definição do senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI da Covid: “Quando tem CPI, o presidente fica restrito ao cercadinho do Alvorada. Quando não tem, ele põe o Brasil no cercadinho”. Em sendo assim, o presidente Jair Bolsonaro vai parar de ocupar tanto espaço na mídia e voltar a falar só com um punhado de apoiadores a partir desta segunda-feira, 2. É quando recomeçam os trabalhos do Legislativo e, de quebra, do Judiciário.

A “ocupação de espaço” nem foi tão boa assim. Bolsonaro sai do recesso da CPI e do Supremo com o Centrão engolindo “a alma do governo”, o liberalismo de Paulo Guedes enterrado pela reeleição e o fiasco do circo sobre “as provas” de fraudes nas urnas eletrônicas, uma farsa, um patético tiro no pé.

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Reunião da CPI da Covid. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Ao tentar comprovar a fragilidade do sistema, Bolsonaro conseguiu exatamente o oposto: ele é a maior prova do quanto a urna eletrônica é segura. Se o presidente, com todos os serviços de inteligência, instrumentos e equipes civis e militares que tem à mão, levou anos buscando fraudes e não encontrou nada… É porque não tem nada mesmo.

Com o fim do recesso, tudo volta ao normal: as revelações sobre vacinas pululam na CPI e a resistência democrática mobiliza o Supremo, aliás, já de véspera: o ministro Alexandre de Moraes reabriu na sexta-feira as investigações sobre a denúncia de Sérgio Moro de ingerência política de Bolsonaro na Polícia Federal.

O presidente do STF, Luiz Fux, abrirá o semestre judiciário dando recados a favor da democracia, da República e da Federação. E contra mentiras e bravatas contra ministros do Supremo, o sistema eleitoral e a realização das eleições. Fux dirá em público o que já disse em privado para o presidente. Em tradução livre: Não vem que não tem. Muito menos golpes.

Também na segunda, os senadores Simone Tebet e Alessandro Vieira têm reunião em São Paulo com a comissão de juristas que assessora a CPI, no escritório do ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, que assinou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Previstos ainda Silvia Steiner (ex-Corte Penal Internacional, em Haia), Helena Regina Lobo da Costa (USP) e Alexandre Wunderlich (PUC-RS).

Segundo Vieira, busca-se o “nexo entre fato e consequência e definir responsabilidades”. Reale acrescenta que Bolsonaro “tenta se eximir integralmente de cumprir o dever de proteção das pessoas” e que a CPI evidencia “o negacionismo e a consciente omissão diante do dever de proteção da sociedade”.

No VI Seminário Caminhos contra a Corrupção, do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac) e da Unesp, Reale focou menos nas questões pontuais, como negociatas de vacinas, e mais no “conjunto da obra”, dizendo que o presidente só ouviu na pandemia o gabinete paralelo do Planalto, “verdadeiro grupo de conspiração a favor do vírus”.

Reale atribui a Bolsonaro a prática de homicídio comissivo por omissão: “Observo no comportamento do presidente a prática de homicídios comissivos em série, por omissão, descumprindo o dever de agir quando deveria”. É uma pista de como será a orientação dos juristas para o relatório final da CPI, que vem quente.

Os depoimentos da semana na CPI também prometem, apesar de o presidente Omar Aziz adiar para a semana que vem a ida de um homem-chave das vacinas, Francisco Maximiano (Precisa/Covaxin). Onde esse senhor está? Na Índia. Segundo Randolfe, que discorda da decisão de Aziz, para “apagar as provas”.

Senhores e senhoras, o segundo semestre está começando, com o presidente Bolsonaro saindo do cercadinho para enfrentar seus maiores campos de batalha, a CPI e o Supremo, onde há toneladas de documentos, mensagens, vídeos e áudios, muitos comprovando: o maior inimigo de Bolsonaro não são eles, é o próprio Bolsonaro.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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