Tanques na rua, uma ameaça à democracia!

By | 10/08/2021 7:17 am

Partiu de Brasília, na sexta-feira, a ordem para o desfile antes do fim do voto impresso

A ordem para a Marinha desviar seus tanques e lançadores de mísseis para um desfile no centro da capital da República, esta terça-feira, 10, horas antes da votação do voto impresso, partiu do Palácio do Planalto e do Ministério da Defesa – e, ao contrário da versão oficial, foi dada na sexta-feira passada. Foi uma ordem política, com relação de causa e efeito com a iminência da derrota do presidente Jair Bolsonaro no plenário da Câmara.

Na sexta-feira, enquanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, desconsiderava a derrota do voto impresso na Comissão Especial e jogava a decisão para o plenário nesta terça-feira, o presidente e o ministro da Defesa, general Braga Netto, determinavam a mudança do roteiro anual do comboio da Marinha para os tanques desfilarem no centro de Brasília antes da votação que Bolsonaro considera de vida ou morte: “Ou fazemos eleição ‘limpa’, ou não teremos eleição”.

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Tanque de guerra vindos do Rio De Janeiro para participar da Operacao Formosa foram vistos na estrada próximo a Brasília.  Foto: Gabriela Biló/Estadão

A previsão é de que o comboio atravesse a Esplanada dos Ministérios, contorne o Congresso, passe em frente ao Supremo e vá até o Planalto para entregar ao presidente Bolsonaro e ao ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, o convite do maior exercício militar da Marinha, a Operação Formosa, no dia 16. Os tanques e lançadores de mísseis, portanto, ficarão em frente ao… Supremo, do outro lado da Praça dos Três Poderes.

A conclusão de políticos e militares em Brasília é que, em vez de bolsonaristas de capuzes e tochas nas mãos, jogando fogos de artifício sobre o STF em junho de 2020, o Brasil pode assistir a tanques das Forças Armadas intimidando o guardião da Constituição. O próprio Arthur Lira tomou satisfação do presidente.

Militares discutiam também quem entregaria o convite ao presidente e ao ministro. O comandante do Batalhão, um capitão de fragata? Não faz sentido um oficial de patente média se dirigir às maiores autoridades do País. Então, o próprio comandante da Marinha, almirante de esquadra? Ele estaria no comboio? Dentro de um tanque? Com a reação, a entrega virou “simbólica”.

A Operação Formosa é o maior treinamento da Marinha e ocorre todos os anos, no município com esse nome, em Goiás, desde 1988. Nunca antes, Exército e Aeronáutica participaram, muito menos os tanques de guerra, que saem do Rio rumo a Goiás, desfilaram pelo centro político da capital da República. Só agora, nessa tensão institucional?

Em 23 de abril de 1984, dois dias antes da votação das “Diretas-Já” no Congresso, o comandante militar do Planalto, general Newton Cruz, protagonizou um espetáculo grotesco: num cavalo branco, à frente de tanques e soldados, saiu pela Esplanada dos Ministérios chicoteando carros de quem pedia o fim da ditadura militar. Não demonstrou força, não amedrontou ninguém, só fez um papel ridículo. E desmoralizou de vez o governo João Figueiredo.

O pretexto do general Nini foi o aniversário do Comando Militar do Planalto. Hoje, 26 anos depois, o pretexto para botar os tanques na Praça dos Três Poderes, exatamente no dia da votação na Câmara, é o treinamento anual. Ninguém acredita em coincidências, com o presidente manipulando as Forças Armadas e atacando o Supremo, o TSE e as eleições.

Oficiais das três Forças, principalmente almirantes, estão morrendo de vergonha. Se a intenção é, como naquele 23 de abril de 1984, demonstrar força e amedrontar o Judiciário, o Legislativo e a sociedade civil, vai ser um tiro n’água, um novo ridículo histórico, com um presidente tão absurdo quanto Figueiredo, mas mais ameaçador. O pior, porém, é a submissão das Forças Armadas às pirraças infantis e irresponsáveis de Bolsonaro.

COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

 

Nossa opinião

  • Se nossos congressistas fossem “machos” e “fêmeas” de verdade, daria uma resposta a este insulto, reprovando o voto impresso com maioria massacrante, mostrando quem são os seus colegas “puxa-sacos”! (LGLM)

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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