Voto impresso e coligações comprovam: o bolsonarismo contaminou o centro e os partidos

By | 14/08/2021 5:44 am

O principal exemplo é o PSDB, mas os demais também deram mais votos a favor do que contra o retrocesso gritante da volta da cédula de papel

(Eliane Cantanhêde, colunista do Estadão, em 13/07/2021)

As votações do voto impresso, da volta das coligações e da criação de federação de partidos confirmam um diagnóstico dramático: assim como a covid-19 contaminou mortalmente o Brasil, o bolsonarismo se infiltrou maliciosamente nos partidos brasileiros, que já têm tantas comorbidades. Estão rachados, sem liderança, energia e rumo. Logo, são alvos fáceis.

O principal exemplo é o PSDB, mas os demais partidos de centro também deram mais votos a favor do que contra o retrocesso gritante da volta da cédula de papel, sob pretexto de auditar a urna eletrônica (o que é ridículo). No PSDB, 14 a 12 pró-voto impresso e a única abstenção, do deputado e ex-presidente do partido Aécio Neves. No MDB, 15 a 10. No DEM, 13 a 8. No PSD, 20 a 11.

Lira e Bolsonaro
O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL) e o presidente Jair Bolsonaro. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Quem contaminou o ambiente político-institucional com a obsessão pelo voto impresso foi o presidente Jair Bolsonaro, por oportunismo político, para tumultuar, por real ameaça às eleições, por pavor da derrota em 2022 ou por simples ignorância e teimosia. Só a ele interessava, e interessa, manter esse debate vivo.

A autora do projeto, o presidente e o relator da Comissão Especial que o analisou são bolsonaristas, do PSL e do PSC. Mesmo depois da derrota na comissão, por 23 a 11, um outro bolsonarista, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rompeu a tradição e jogou a decisão final para o plenário. Nova derrota. Mas Bolsonaro não larga o osso.

Por que, então, os partidos de centro votam com ele? Raia o indecente. Só os partidos de esquerda (PT, PCdoB, PSOL e Rede) disseram um sonoro não à volta insana ao passado, às pirraças do presidente contra o TSE e os ministros do Supremo e às ameaças dele de agir “fora das quatro linhas da Constituição”. Não há como tergiversar. Zero voto. Ponto.

Depois, a Câmara derrubou o monstrengo do distritão e pôs no lugar o fantasma das coligações partidárias. Os tucanos lideraram o fim das coligações em 2017, para entrar em vigor em 2022. Mas, agora, o “novo PSDB”, como a “nova política” de Bolsonaro, votou a favor de voltar tudo atrás: 21 a 11. Pelas coligações, o eleitor vota no PT de Wellington Dias e elege candidatos do PP de Ciro Nogueira no Piauí. E vice-versa.

Na Câmara, o oportunismo se embola com o descompromisso, os neófitos se confundem com as velhas raposas e até o Novo, que deveria ser fiel ao próprio nome, também vem e vai. A direção se diz independente, a bancada é pró-Bolsonaro e cada um faz o que quer. “O bolsonarismo está infiltrado em tudo”, diz João Amoêdo, candidato à Presidência em 2018.

O PSL, que elegeu Bolsonaro e foi rapidamente descartado por ele, mostrou que continua movido pelo bolsonarismo de internet e pelo lema do “tudo que seu mestre mandar”. Se o mestre achincalha as urnas eletrônicas, sem uma mísera prova, vão todos atrás. Foram 45 a 6 no voto impresso.

E o Centrão? No Republicanos, partido de filhos do presidente, 26 a 3. Mas o PP de Lira e do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) comprovou que está, mas não é tão Bolsonaro assim, e se dividiu tanto quanto PSDB, DEM, PSD e MDB: 16 a 13.

É nesse clima que o Congresso triplica o fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões, articula mais R$ 1,3 bilhão de Fundo Partidário para 2022, desfigura a Lei de Improbidade e tenta passar o distritão. Tudo de pernas para o ar. Agora, é torcer para as instituiç/ões pararem de perder tempo com o voto impresso, e o Senado barrar a volta das coligaç/ões.

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (AM), disse ontem que “tucanaré morre pela boca”. Os partidos morrem pela boca, pelo voto, pelo oportunismo, pela falta de líderes e pelo vírus bolsonarista, que racha e corrói. Quanto mais Bolsonaro afunda, mais o centro deveria emergir. Mas prefere afundar junto.

COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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