Aproveitando a fragilidade e desespero do Governo, Centrão começa a cobrar a conta!

By | 27/08/2021 3:54 pm

Com crise em alta, Bolsonaro é pressionado a antecipar reforma ministerial

Centrão quer cabeça de Guedes e de Bento Albuquerque, mudanças na estrutura da Economia e troca no Desenvolvimento Regional

Vera Rosa, O Estado de S.Paulo

26 de agosto de 2021 | 15h28

Caro leitor,

Às vésperas das manifestações de 7 de Setembro e diante da acentuada perda de apoio popular, o presidente Jair Bolsonaro tem sido cada vez mais pressionado pelo Centrão a antecipar ao menos uma parte da reforma ministerial prevista para abril de 2022, quando os candidatos de sua equipe terão de deixar os cargos para disputar as eleições, como manda a lei. Até mesmo ministros mais pragmáticos, como o titular da Casa Civil, Ciro Nogueira, já viram que não é possível “tutelar” Bolsonaro, mas pedem carta branca para “fazer política”, como costumam dizer, e segurar as pontas do governo até o ano que vem.

Com o enfraquecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, e o Palácio do Planalto cercado por uma “tempestade perfeita” – composta por conflitos institucionais, inflação e juros em alta, aumento do preço dos alimentos, do gás de cozinha, da conta de luz, desemprego e pressão pelo impeachment – , o Centrão vê nova janela de oportunidade para dobrar a aposta nas negociações com o governo. No momento em que Bolsonaro promete uma “segunda independência” no 7 de Setembro e insiste em ameaças golpistas, partidos do bloco exigem mais cadeiras no primeiro escalão para contemplar novamente a Câmara dos Deputados, o Senado e alguns setores que lhe são fiéis, como o dos evangélicos e o dos ruralistas.

Ao enfileirar argumentos de que Guedes não tem visão política para manter tantas funções sob sua batuta perto de um ano eleitoral, o Centrão quer a sua cabeça e também a do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, numa quadra em que se agrava a crise hídrica e há risco de apagão no País. A cobrança não é de hoje, mas foi reforçada nos últimos dias.

 

Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro Foto: Miguel Schincariol /AFP

Principal partido do bloco, o Progressistas conseguiu tirar da Casa Civil o general Luiz Eduardo Ramos, amigo de Bolsonaro, e entregar no mês passado a articulação política do Planalto com o Congresso para Ciro Nogueira, pré-candidato ao governo do Piauí. Até agora, porém, a fritura de Guedes não levou à explosão do Posto Ipiranga de Bolsonaro, embora ele venha perdendo combustível pelo caminho. Na outra ponta, embora Bento Albuquerque, um almirante de esquadra, tenha defendido dar “a real” para a população sobre a necessidade de um duro racionamento de energia, Bolsonaro vetou a proposta, considerada “alarmista”.

Na tentativa de não se desgastar ainda mais na corrida para as eleições de 2022, o presidente tem dourado a pílula e omitido que o País está à beira de um apagão, que, aliás, não é só de energia, mas de planejamento. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) são dois postulantes ao Planalto que têm batido com insistência nessa tecla. “Dois mil e vinte e dois não será uma eleição para bonzinhos”, resumiu o governador de São Paulo, João Doria, que vai disputar prévias no PSDB para escolha do candidato à Presidência, em entrevista ao programa Roda Viva, nesta segunda-feira, 23.

Há, de qualquer forma, um movimento em curso no Congresso para desidratar o Ministério da Economia e, ao mesmo tempo, para substituir Bento por um nome do Senado. A intenção é recriar Planejamento, responsável pelo controle do Orçamento da União, e também Indústria e Comércio Exterior. As duas pastas continuam sob o guarda-chuva do “superministério” de Guedes, que na reforma de julho já perdeu Trabalho e Previdência.

“Não tenho nenhum desapreço pessoal pelo ministro Paulo Guedes, pelo contrário, o respeito e quero bem, mas é impressionante a desconexão dele com a realidade do povo. Desemprego, fome, inflação, juros não o incomodam. O sonho do brasileiro era morar no discurso do ministro”, disse o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM) em postagem nas redes sociais.

Outro alvo da cobiça é o Desenvolvimento Regional. À procura de um partido para se filiar e já com convite do Progressistas, o ministro Rogério Marinho (ex-PSDB) deve concorrer a uma cadeira no Senado ou ao governo do Rio Grande do Norte. Pivô do escândalo do orçamento secreto, revelado pelo Estadão, a pasta ocupada por Marinho é amplamente disputada, assim como o Ministério da Educação, hoje nas mãos de Milton Ribeiro.

Atualmente, 11 dos 23 ministros de Bolsonaro pretendem entrar na briga de 2022. Embora seja pastor, Ribeiro é visto por políticos evangélicos de partidos do Centrão como incapaz para continuar à frente do ministério em um ano tenso como o de 2022. Apesar das insistentes cobranças, o chefe do Executivo ainda não bateu o martelo sobre o novo capítulo da reforma na equipe.

Convencido de que há uma “conspiração” para prender seu filho “02”, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), e impedir o projeto de reeleição, Bolsonaro não se conforma com a atitude do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que rejeitou pedido de impeachment apresentado por ele contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news. Nos bastidores, não se cansa de dizer que, não fosse o seu apoio, Pacheco não teria sido eleito para comandar o Senado.

E assim a crise vai se avolumando, com manifestações contra e a favor do governo previstas para 7 de Setembro. “O Brasil Não Te Aguenta Mais”, diz panfleto que começou a ser distribuído nesta quinta-feira, 26, em São Paulo, por centrais sindicais e movimentos populares.

Na capital paulista, o ato a favor de Bolsonaro será na Avenida Paulista; a oposição, por sua vez, quer ocupar o Vale do Anhangabaú. “O grito mudou: liberdade ou morte!”, escreveu o coronel da Polícia Militar Mello Araújo, presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), em defesa de Bolsonaro. Trata-se de uma temporada perigosa, com infiltração de policiais militares da reserva, e alguns também da ativa, em movimentos bolsonaristas. Os riscos à democracia são evidentes. Só não vê quem não quer.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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