O País precisa dos votos dos jovens

By | 13/03/2022 10:07 am

Apenas 10% dos jovens de 16 e 17 anos inscreveram-se até agora para votar em outubro. O regime democrático não funciona bem se a juventude está alheia à política

Depois de intensa movimentação política em 1988, a Assembleia Constituinte incluiu, entre os direitos constitucionais, o voto facultativo para os maiores de 16 e menores de 18 anos. Foi uma importante conquista democrática, símbolo forte do compromisso da nova Constituição com a efetividade dos direitos políticos e com a qualidade da representação política. A juventude era chamada a participar ativamente dos rumos do País. A política devia incluir a todos, também as novas gerações.

No entanto, essa conquista, tão comemorada à época, parece agora suscitar pouco entusiasmo. A sete meses das eleições, o engajamento de jovens de 16 e 17 anos é o mais baixo já registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelou o Estadão. Até o fim de janeiro, 731 mil cidadãos dessa faixa etária tinham se cadastrado como eleitores. O número representa cerca de 10% dos menores de idade aptos a votar e pouco menos de um quarto do total que foi às urnas três décadas atrás. Em 1992, primeiro ano da série histórica do TSE, o total de eleitores nessa faixa etária foi de 3,2 milhões.

A redução do interesse em votar por parte dos jovens de 16 e 17 anos não é de agora. Faz alguns anos que a Justiça Eleitoral, após constatar o fenômeno, tem promovido ações para incentivar a participação de jovens na política. Nas eleições municipais passadas, o TSE lançou uma campanha para que cidadãos de 15 a 25 anos gravassem vídeos com sugestões de como melhorar suas cidades. O objetivo era aumentar o número de eleitores menores de 18 anos que, em 2020, foi de 914 mil.

No ano passado, um estudo realizado pelo Ibope e pela Rede Nossa São Paulo, sobre a participação política da juventude no Município de São Paulo, verificou que 67% das pessoas entre 16 e 24 anos na capital paulista não tinham nenhuma vontade de participar da vida política do Município. A agravar, evidenciando que não é mero problema de falta de informação, os participantes da enquete disseram reconhecer a importância da participação política, mas mesmo assim não viam sentido nessa atuação.

De fato, é impressionante a mudança ocorrida nas últimas décadas. Nos anos 70 e 80, havia uma forte aspiração da juventude em participar da vida política do País. O direito ao voto era algo intensamente desejado. Mais do que simples elemento da democracia, o voto era percebido como expressão necessária da cidadania e caminho para promover as transformações sociais almejadas. Agora, apenas 10% dos jovens de 16 e 17 anos inscreveram-se para votar.

O fenômeno merece ser cuidadosamente estudado, sem simplismos. São várias as possíveis causas para o distanciamento dos jovens da política. Certamente, o panorama partidário atual, com legendas sem identidade programática geridas para maximizar os dividendos de seus caciques, não é um atrativo muito animador. Também não é nada entusiasmante verificar a falta de compostura e civilidade de alguns políticos em seus cargos, em constrangedora indiferença com suas responsabilidades institucionais e éticas.

De toda forma, ao contrário de afastarem os jovens do exercício do voto, as muitas limitações e contradições da política contemporânea deveriam ser estímulo para a responsabilidade cívica. A promoção das grandes causas que inspiram tantos jovens – por exemplo, a preservação do meio ambiente, a redução das desigualdades sociais, a contenção das mudanças climáticas e o fortalecimento das liberdades individuais, num ambiente público de maior respeito, tolerância e pluralismo – passa diretamente pelo poder institucional, pelas decisões do Legislativo e do Executivo. Não há avanço possível se parcela da população, especialmente as novas gerações, está alheia à política.

O regime democrático não funciona bem sem a participação da juventude. Por isso, não é possível ficar passivo perante a consolidação da ideia de que o voto seria dispensável ou mesmo inútil. Até o dia 4 de maio, é preciso estimular os jovens de 16 e 17 anos a se inscreverem para votar nas eleições de outubro. O País precisa deles.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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