O governador de SP ameaçou deixar a corrida ao Planalto e seguir no governo de SP; o ex-juiz anunciou desistência já insinuando retorno
O recuo de Doria e a ressalva de Moro deixaram muita incerteza no ar nas hostes da terceira via, grupo que ainda patina para tentar encontrar um nome – e um método – para romper a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O saldo da quinta-feira frenética, para analistas políticos, é de que nenhum dos movimentos, contudo, mexe no panorama de fundo neste momento, que sinaliza como “inviável” competitivamente um dos nomes do grupo nem Bolsonaro nem Lula.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), renunciou ao governo gaúcho para tentar se viabilizar como candidato à Presidência da República, apesar de ter perdido as prévias do partido para Doria. O governador paulista acusou o golpe, e a movimentação de Leite foi um dos elementos para que o tucano ameaçasse desistir da pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
Especialistas entrevistados pelo Metrópoles avaliam que um cenário sem Doria e sem Moro seria, entretanto, o ideal para viabilizar a “terceira via”, com Leite e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), em chapa única. Para eles, Doria enfrenta alta rejeição e terá dificuldades para se viabilizar como este nome, e Moro tem mais viabilidade como candidato a deputado federal.
“Uma das poucas possibilidades da ‘terceira via’ é estar sem eles [Doria e Moro]. Um dos principais entraves da ‘terceira via’ é justamente esse arranjo político. Todo mundo quer ter a ‘terceira via’, mas ninguém quer abrir mão para a construção em torno de outra pessoa. Os dois mais abertos nestas negociações são Simone Tebet e Eduardo Leite”, avalia a consultora Bárbara Furiati, da Baselab.
Apesar de ter vencido as prévias do PSDB, Doria sofre resistência dentro do partido e não tem simpatia dos eleitores de Lula e de Bolsonaro.
“Doria não consegue unidade nem dentro do PSDB. Ele não é preferido como nome alternativo pelos eleitores de Lula e é desafeto público de Bolsonaro. Para se colocar como alternativa, teria que se mostrar mais atraente aos eleitores do candidato derrotado [no primeiro turno] do que a abstenção, e Doria não se encontra nessa situação”, afirma o cientista político Arthur Leandro, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Do ponto de vista do nível de rejeição, Doria e Ciro [Gomes] são candidatos semelhantes.”
O movimento de Leite, que decidiu não migrar para o PSD de Gilberto Kassab ainda sonhando em assumir a candidatura no lugar do colega paulista de PSDB, irritou profundamente Doria. Na tarde dessa quinta-feira, no ato em que anunciou a renúncia ao governo, o tucano de SP criticou explicitamente o gaúcho.
Arthur Leandro pondera que a decisão de Moro em declinar “neste momento” da candidatura presidencial e buscar um mandato parlamentar faz mais sentido para o ex-ministro, por causa das “garantias que um mandato por lhe conferir” diante do “número de inimigos que conseguiu amealhar pelo caminho”. Bárbara acredita que Moro, como candidato a deputado federal, tem potencial para ser o mais votado da história do país.
Antes, os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado Federal, e Alessandro Vieira (PSDB-ES), já haviam desistido do pleito presidencial.
Leandro pondera que até existe espaço ideológico para a “terceira via”, na esteira dos órfãos do PSDB, mas “não é eleitoralmente competitivo. Ele analisa que há uma parcela do eleitoral com ideias de modernização econômica e liberais nos costumes, com a defesa dos direitos e garantias individuais e valorização da social-democracia, mas nenhum candidato conseguiu ocupar esse espaço.
Os especialistas observam em Leite um candidato mais atrativo do que Doria para ocupar o espaço, porém o tucano gaúcho tem o desafio se tornar nacionalmente conhecido e se constituir como alternativa para parcela do eleitorado que rejeita Bolsonaro, mas não quer um candidato que não seja Lula.
Tebet segue no jogo, mas não necessariamente como candidata à Presidência, já que o próprio MDB não mostra engajamento real na pré-campanha da senadora.
“Resta saber qual é o espaço de uma candidatura que tem perfil mais propositivo do que o mero combate ao outro? O ambiente político desta eleição não é propício para uma candidatura alternativa que tenha projeto de construção nacional, de construção de alianças”, analisa Leandro.