Movimentos de Doria, Moro e Leite deixam “terceira via” em chamas

By | 01/04/2022 7:09 am

O governador de SP ameaçou deixar a corrida ao Planalto e seguir no governo de SP; o ex-juiz anunciou desistência já insinuando retorno

Joao Doria e Eduardo LeiteDivulgação
Às vésperas do prazo final da desincompatibilização para a disputa das eleições de outubro, que se encerra neste sábado (2/4), as movimentações erráticas de atores que disputavam o espaço na chamada “terceira via” ameaçam mudar todo o tabuleiro eleitoral previsto. A quinta-feira (31/3) teve ameaça de desistência do governador de São Paulo, João Doria, que deixou o PSDB em polvorosa – antes de recuar, renunciar ao cargo e se dizer ainda candidato. E o dia também viu o ex-ministro de Jair Bolsonaro e ex-juiz federal Sergio Moro trocar o partido que acabara de escolher, o Podemos, pelo União Brasil e anunciar que deixa a corrida pelo Planalto “neste momento”.

O recuo de Doria e a ressalva de Moro deixaram muita incerteza no ar nas hostes da terceira via, grupo que ainda patina para tentar encontrar um nome – e um método – para romper a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O saldo da quinta-feira frenética, para analistas políticos, é de que nenhum dos movimentos, contudo, mexe no panorama de fundo neste momento, que sinaliza como “inviável” competitivamente um dos nomes do grupo nem Bolsonaro nem Lula.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), renunciou ao governo gaúcho para tentar se viabilizar como candidato à Presidência da República, apesar de ter perdido as prévias do partido para Doria. O governador paulista acusou o golpe, e a movimentação de Leite foi um dos elementos para que o tucano ameaçasse desistir da pré-candidatura ao Palácio do Planalto.

Especialistas entrevistados pelo Metrópoles avaliam que um cenário sem Doria e sem Moro seria, entretanto, o ideal para viabilizar a “terceira via”, com Leite e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), em chapa única. Para eles, Doria enfrenta alta rejeição e terá dificuldades para se viabilizar como este nome, e Moro tem mais viabilidade como candidato a deputado federal.

“Uma das poucas possibilidades da ‘terceira via’ é estar sem eles [Doria e Moro]. Um dos principais entraves da ‘terceira via’ é justamente esse arranjo político. Todo mundo quer ter a ‘terceira via’, mas ninguém quer abrir mão para a construção em torno de outra pessoa. Os dois mais abertos nestas negociações são Simone Tebet e Eduardo Leite”, avalia a consultora Bárbara Furiati, da Baselab.

Apesar de ter vencido as prévias do PSDB, Doria sofre resistência dentro do partido e não tem simpatia dos eleitores de Lula e de Bolsonaro.

“Doria não consegue unidade nem dentro do PSDB. Ele não é preferido como nome alternativo pelos eleitores de Lula e é desafeto público de Bolsonaro. Para se colocar como alternativa, teria que se mostrar mais atraente aos eleitores do candidato derrotado [no primeiro turno] do que a abstenção, e Doria não se encontra nessa situação”, afirma o cientista político Arthur Leandro, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Do ponto de vista do nível de rejeição, Doria e Ciro [Gomes] são candidatos semelhantes.”

O movimento de Leite, que decidiu não migrar para o PSD de Gilberto Kassab ainda sonhando em assumir a candidatura no lugar do colega paulista de PSDB, irritou profundamente Doria. Na tarde dessa quinta-feira, no ato em que anunciou a renúncia ao governo, o tucano de SP criticou explicitamente o gaúcho.

Arthur Leandro pondera que a decisão de Moro em declinar “neste momento” da candidatura presidencial e buscar um mandato parlamentar faz mais sentido para o ex-ministro, por causa das “garantias que um mandato por lhe conferir” diante do “número de inimigos que conseguiu amealhar pelo caminho”. Bárbara acredita que Moro, como candidato a deputado federal, tem potencial para ser o mais votado da história do país.

Antes, os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado Federal, e Alessandro Vieira (PSDB-ES), já haviam desistido do pleito presidencial.

Leandro pondera que até existe espaço ideológico para a “terceira via”, na esteira dos órfãos do PSDB, mas “não é eleitoralmente competitivo. Ele analisa que há uma parcela do eleitoral com ideias de modernização econômica e liberais nos costumes, com a defesa dos direitos e garantias individuais e valorização da social-democracia, mas nenhum candidato conseguiu ocupar esse espaço.

Os especialistas observam em Leite um candidato mais atrativo do que Doria para ocupar o espaço, porém o tucano gaúcho tem o desafio se tornar nacionalmente conhecido e se constituir como alternativa para parcela do eleitorado que rejeita Bolsonaro, mas não quer um candidato que não seja Lula.

Tebet segue no jogo, mas não necessariamente como candidata à Presidência, já que o próprio MDB não mostra engajamento real na pré-campanha da senadora.

“Resta saber qual é o espaço de uma candidatura que tem perfil mais propositivo do que o mero combate ao outro? O ambiente político desta eleição não é propício para uma candidatura alternativa que tenha projeto de construção nacional, de construção de alianças”, analisa Leandro.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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