Depoimento de Milton Ribeiro à PF mantém a labareda na cara de Bolsonaro

By | 02/04/2022 5:58 am
(Josias de Souza, Colunista do UOL, 01/04/2022)

Josias de SouzaEstá ficando monótono. Ao confirmar em depoimento à Polícia Federal que foi a pedido de Bolsonaro que as portas do MEC se abriram para pastores que trocavam verbas por propinas, o ex-ministro Milton Ribeiro reforçou uma obviedade: o único órgão que funciona em Brasília é o DBB, Departamento de Blindagem de Bolsonaro. O inquérito só daria frutos se os investigadores fizessem duas perguntas a si mesmos: Por que o procurador-geral Augusto Aras excluiu Bolsonaro do rol de suspeitos? Para que serve a moralidade que o presidente da República e o ex-ministro da Educação dizem cultuar?

Na versão contada por Milton Ribeiro à polícia, Bolsonaro pediu que o pastor Gilmar Santos, parceiro de traficâncias do irmão Arilton Moura, fosse recebido. Mas jamais perguntou sobre o resultado da visita. Os dois pastores estiveram quatro vezes com o próprio Bolsonaro. Agendaram e participaram de inúmeras reuniões do então ministro com prefeitos. Mas o depoente jura que os pastores não dispunham de “tratamento privilegiado” no MEC.

Prefeitos relataram os achaques dos pastores. Pediam dinheiro e ouro em troca de acesso aos cofres do MEC. Mas Milton Ribeiro, ele próprio um pastor evangélico, disse à PF que “não tinha conhecimento” do pastoreio dos irmãos. O ex-ministro considera-se um cristão honesto. Bolsonaro não se cansa de dizer que preside um governo sem corrupção. Qualquer um pode prestar testemunho sobre o conceito extraordinário que faz de si mesmo. O diabo é que, abstraindo-se os autoelogios, o que sobra são os fatos. E os fatos transformam a moralidade presumida de pessoas como Ribeiro e Bolsonaro numa inutilidade que ajuda a entender como o Brasil virou uma cleptocracia comandada por almas presunçosas.

Ao determinar a abertura do inquérito sobre o MEC, a ministra do Supremo Cármen Lúcia deu prazo de 15 dias para Augusto Aras refletir sobre a inclusão de Bolsonaro na fogueira. Os fatos intimam o procurador-geral a procurar. O depoimento de Milton Ribeiro manteve a labareda do escândalo na cara do presidente. Mas Aras costuma colocar as conveniência do presidente acima dos fatos.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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