Reunião em São Paulo conta com participação do petista e do ex-tucano, que devem formar chapa
O PSB indicou formalmente o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) para compor a chapa do ex-presidente Lula (PT) como candidato a vice-presidente. A indicação foi feita em reunião com os presidentes do PT e do PSB, nesta sexta-feira (8), em São Paulo, da qual também participaram Lula e Alckmin.
Em discurso ao lado de Alckmin, Lula enalteceu a experiência de ambos. “Nós vamos precisar da minha experiência e da experiência do Alckmin para reconstruir o país, conversando com toda a sociedade brasileira.”
“Estamos dando uma demonstração muito forte ao Brasil”, seguiu Lula, referindo-se à aliança entre antigos rivais. O movimento foi defendido como necessário para superar Jair Bolsonaro (PL).
“Este dia para mim é importante. Alckmin, eu tenho certeza que o Partido dos Trabalhadores irá aprovar o seu nome como candidato a vice”, disse o ex-presidente. “Você será recebido como um velho companheiro dentro do nosso querido Partido dos Trabalhadores.”
Lula ressaltou que já foi adversário de Alckmin e de outros tucanos, mas que o tratamento entre eles sempre foi civilizado. O petista falou em “tentar esclarecer à opinião pública uma coisa que muita gente agora está percebendo: feliz era este Brasil quando a polarização se dava entre PSDB e PT”.
“Ninguém tem mais experiência em ser vice do que o Alckmin, ele foi vice do Mário Covas, um companheiro turrão”, continuou.
Lula comentou a relação histórica entre PSB e PT. “É plenamente possível duas forças com projetos diferentes, com princípios iguais, podem se juntar num momento de necessidade do povo. […] Temos que provar à sociedade brasileira que o Brasil está precisando de amor e não de ódio”, disse o petista.
Ele criticou o que chamou de política de ódio de Bolsonaro, a quem chamou de genocida.
“Essa chapa, se for formalizada, não é só para disputar as eleições. Talvez ganhar seja mais fácil do que a tarefa que nós teremos pela frente para recuperar esse país”, completou Lula, ressaltando que irá se “dedicar de corpo e alma”.
O ex-presidente afirmou ainda que o PSB irá participar da elaboração do programa de governo e da montagem do governo, se a chapa for vitoriosa. “Antes disso, a gente vai ter que combinar como ganhar as eleições”, disse.
Em seu discurso, Alckmin falou em grandeza política e desprendimento. “A política não é uma arte solitária. A força da política é centrípeta. Nós vamos somar esforços para a reconstrução do nosso país”, disse o ex-governador.
“É lamentável, presidente Lula, eu que entrei na vida pública como o senhor lá atrás para redemocratizar o Brasil, nós termos hoje um governo que atenta contra a democracia e atenta contra as instituições. […] O inverso de boas instituições é a autocracia. […] O resultado é a maior crise das últimas décadas”, completou.
Alckmin mencionou o crescimento do PIB no último ano de Lula e disse querer recuperar o emprego, além de combater a violência e a miséria. Ele declarou colocar seu nome à disposição com entusiasmo e esperança.
Depois da polêmica despertada ao dizer que aborto deve ser questão de saúde pública e após minimizar a fala dizendo-se pessoalmente contra o procedimento, Lula equiparou a Bíblia e a Constituição ao falar de direitos.
“É só pegar a Constituição, pegar a Bíblia e pegar a Declaração Universal dos Direitos Humanos que ali está tudo escrito o que o povo tem direito e que a gente não consegue cumprir”, disse.
Formalizada a indicação do PSB, o diretório nacional do PT deve se reunir no próximo dia 13 para indicar a chapa para aprovação durante o encontro nacional do partido, em 4 e 5 de junho. Em 30 de abril, está previsto um ato público com a participação de Lula e Alckmin.
Enquanto a aliança nacional foi selada, a divergência entre PT e PSB em São Paulo seguiu sem solução, com Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) reivindicando a cabeça de chapa. O cenário em que dois concorram separadamente também é provável.
Haddad não foi à reunião —ele está em viagem pelo interior. Da parte do PT, além de Lula e da presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, participaram os deputados federais José Guimarães (CE), Paulo Teixeira (SP) e Reginaldo Lopes (MG); o senador Paulo Rocha (PA); o deputado estadual Emidio de Souza; o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto; e o presidente da fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante.
A comitiva do PSB incluiu Alckmin; o presidente da sigla, Carlos Siqueira; o ex-governador França; os deputados federais Danilo Cabral (PE) e Alessandro Molon (RJ); o prefeito João Campos; o governador Paulo Câmara (PE); o deputado estadual Caio França; e o ex-prefeito Jonas Donizette.
A indicação também foi formalizada em carta do PSB ao PT. “Essa proposição não se limita apenas ao aspecto eleitoral e envolve uma dimensão programática”, diz o texto.
Segundo a carta, “a composição de uma frente ampla exige a formulação de um programa que corresponda às perspectivas das forças que a compõem, tanto em termos políticos partidários quanto o que se refere aos segmentos da sociedade civil que tal frente pretende representar”.
Na prática, o PSB reivindica participação na campanha e no programa de governo do PT. O documento afirma ainda que o PSB apresentará um programa e pretende que ele seja incorporado na plataforma de Lula.
Segundo o PSB, “a democracia não pode ser uma fórmula vazia” e é preciso assegurar cultura, saúde, educação e prosperidade aos brasileiros.
A carta, assinada pelo presidente do PSB, afirma que “o que estará em questão na eleição de 2022 é o confronto decisivo entre democracia e autoritarismo”.
Em paralelo, PSB e PT negociavam uma federação, que não saiu do papel —a aliança foi formada apenas entre PT, PV e PC do B.
Embora a federação não tenha vingado, já havia a garantia de que o PSB apoiaria Lula e de que o acordo para que Alckmin ocupasse a vice estaria preservado apesar das divergências entre as siglas nos estados, sobretudo em São Paulo.
Integrantes do PT e do PSB esperam que Alckmin tenha protagonismo na campanha para o Palácio do Planalto e também em um eventual governo, embora seus papéis ainda não estejam totalmente definidos.
Alckmin comandou o governo paulista de 2001 a 2006 e de 2011 a 2018, por quatro mandatos. Ele assumiu o cargo pela primeira vez devido à morte de Mário Covas, de quem era vice-governador, e no ano seguinte se reelegeu para comandar o estado paulista.