Inflação sem trégua

By | 09/04/2022 5:24 am

IPCA de março reduz confiança em melhora no ano; mundo teme medidas recessivas

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Fila por em posto de combustíveis em Brasília – Pedro Ladeira/Folhapress

A inflação continua a desafiar qualquer prognóstico otimista. Nem mesmo a elevação de 2% para 11,75% anuais da taxa de juros do Banco Central em pouco mais de ano tem sido capaz de estancar o processo até o momento.

Soube-se nesta sexta-feira (8) que a variação do IPCA em março foi de 1,62%, o maior percentual para o mês em 28 anos e 0,3 ponto percentual acima das expectativas de analistas para o período. Em 12 meses, o índice acumula aumento de 11,3%, o que ainda configura uma aceleração em comparação ao fechamento de 2021 (10,06%).

No mês passado verificou-se um acúmulo de influências negativas, como a disparada dos preços dos combustíveis, resultante da guerra na Ucrânia, e o encarecimento da alimentação em casa, que teve alta de 3%. Neste grupo, os produtos in natura subiram 10,45% por causa de chuvas em alguns estados.

A medida de núcleo da inflação, que retira itens mais voláteis e visa refletir a dinâmica mais permanente, ficou em 9,01% nos últimos 12 meses, também uma aceleração ante o final do ano passado.

Na prática, embora se mantenha a expectativa de que a variação do IPCA neste ano acabará por ser menor que a de 2021, a confiança nesse cenário diminuiu.

Continuam a surgir novos fatores de elevação. O mais óbvio é a guerra, que impulsiona o preço do petróleo e ameaça a produção agrícola pela escassez de fertilizantes. O agravamento da pandemia na China, além disso, traz o risco de novas interrupções no fluxo de comércio mundial, com impacto em várias cadeias de produção.

A esta altura, notícias com potencial positivo, como o corte das tarifas de energia em razão da melhora da situação hídrica, diluem-se como meros paliativos. Ainda não se detecta, por fim, efeito favorável da valorização do real nos preços de artigos importados.

Para o Banco Central, fica menos claro quando poderá ter fim a sequência de aumentos da taxa Selic. A indicação da autoridade monetária era a de mais um incremento de 1 ponto percentual, encerrando o ciclo com juros de 12,75% ao ano. Agora, já se coloca o risco de um aperto ainda maior.

Não há solução fácil. Se a escalada do IPCA no ano passado decorreu em grande medida de erros de gestão do governo Jair Bolsonaro, hoje o fenômeno tem amplitude global, evidente com a inflação acima dos 7% anuais nos Estados Unidos e na zona do euro.

Teme-se que os principais bancos centrais não consigam estancar o problema sem provocar recessão —uma tragédia para o mundo que se recupera da pandemia.

editoriais@grupofolha.com.br

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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