Escalada inflacionária assombra o País

By | 28/04/2022 7:09 am

IPCA-15 de abril tem a maior alta para o mês desde 1995 e confirma as projeções cada vez mais pessimistas dos analistas privados, inclusive em relação ao ano que vem

Há mais de dois anos a maioria dos trabalhadores brasileiros não tem aumentos reais. A inflação tem sido sistematicamente maior do que a correção salarial. Novas perdas devem ocorrer, pois o cenário está ficando mais sombrio. Nunca, nos últimos 27 anos, o aumento médio dos preços tinha sido tão alto no mês de abril como o registrado agora. A variação de 1,73% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) em abril é também a mais alta para qualquer mês desde fevereiro de 2003. O acumulado de 12 meses, de 12,03%, é o maior desde novembro de 2003.

Calculado pelo IBGE, o IPCA-15 antecipa a inflação do mês. O resultado de abril mostra que, do ponto de vista dos preços, o País parece ter voltado para o início do Plano Real (de julho de 1994), quando, depois de conviver com a hiperinflação, os agentes econômicos se adaptavam à nova realidade. Ou, na outra comparação, para o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado por desconfianças que fizeram a taxa de câmbio e os preços explodirem.

A aceleração inflacionária comprime a renda real e mesmo trabalhadores formais têm perdas. O boletim Salariômetro, elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, por exemplo, mostra que, das negociações coletivas concluídas em março por empregados e empregadores, 49% não repuseram a inflação. O reajuste mediano no mês foi igual à inflação. Há 25 meses seguidos a mediana é menor ou igual à variação do INPC, índice que corrige salários.

O IPCA-15 confirma a notável deterioração das expectativas entre os analistas das principais instituições financeiras consultadas regularmente pelo Banco Central (BC) para a elaboração do boletim Focus. Em quatro semanas, a mediana das projeções para o IPCA em 2022 saltou de 6,86% para 7,65%. A leitura dos cinco últimos boletins mostra uma contínua alta da mediana do IPCA para este ano: 6,86%, 6,97%, 7,43%, 7,46% e 7,65%. A piora das projeções do IPCA se estende para 2023. Em quatro semanas, a estimativa para a inflação no ano que vem passou de 3,80% para 4,00%.

Fatores que vêm impulsionando a alta do IPCA nos últimos meses não se alteraram. Com alta de 3,43%, os preços no grupo de transportes foram os que mais pesaram no IPCA-15 de abril. A gasolina subiu 7,51%. O preço da alimentação subiu 2,25%, em razão do aumento dos itens consumidos em domicílio. Mas a alta é disseminada, pois praticamente 80% dos itens que compõem o índice ficaram mais caros em abril.

É possível que alguns componentes que empurraram os preços para cima percam alguma força nos próximos meses e a inflação de 2022 até fique abaixo das projeções hoje dominantes. A cotação das commodities no mercado internacional, cuja alta vem tendo forte influência nos preços internos, pode se estabilizar. O fato de a taxa de câmbio não ter explodido por causa da guerra na Ucrânia também favorece os preços internos. O Focus mostra redução no valor projetado pelos analistas do mercado para o dólar no fim do ano. Há, porém, um movimento de alta do dólar, cujo vigor ainda é difícil de avaliar, pois em boa parte decorre do comportamento cada vez mais preocupante do presidente Jair Bolsonaro, obcecado em ganhar apoio político ou pelo menos manter o de que dispõe.

A guerra continua impondo dificuldades para o abastecimento mundial de itens essenciais para a economia, como petróleo e gás, e para as pessoas, como trigo. Há pressões sobre a atividade econômica e a inflação em todo o mundo. Medidas mais duras estão em exame ou sendo executadas por autoridades monetárias em vários países. Em alguns, como os Estados Unidos, o endurecimento de medidas para conter a inflação pode ter repercussão mundial.

É nesse cenário, marcado por deterioração de expectativas internas com relação à inflação e pressões externas sobre a economia, que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC terá de decidir sobre a nova taxa básica de juros, atualmente em 11,75% ao ano, e se confirma sua sinalização de que o ciclo de aperto monetário se encerraria em maio.

Comentário

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *