Governadores vão tentar barrar teto de ICMS de energia e combustível no Senado e até no STF (com comentário)

By | 25/05/2022 6:36 pm

Estados apresentarão aos senadores uma conta que mostra impacto de R$ 64 bilhões de perda de arrecadação com projeto que deve ser votado hoje pelos deputados

(Adriana Fernandes, nO Estadão, 25 de maio de 2022, seguido de comentário nosso)

Com a perspectiva de aprovação do projeto que fixa um teto de 17% para a cobrança do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica pela Câmara, os governadores traçaram uma estratégia para abrir diálogo com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na tentativa de barrar a votação do projeto na Casa.

A negociação na Câmara para a inclusão de um gatilho temporário de seis meses para que a União compense os Estados por eventual perda de arrecadação com o ICMS não resolve o problema, na avaliação dos secretários de Fazenda.

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Governadores tentam barrar a votação do projeto que fixa um teto de 17% para a cobrança do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica Foto: Werther Santana/Estadão – 26/10/2021

Os Estados vão apresentar aos senadores uma conta que mostra um impacto de R$ 64 bilhões de perda de arrecadação. No pior cenário de alta de 30% dos combustíveis até o final do ano, a perda de receita sobe para R$ 83 bilhões em razão da alíquota de 17% ser mais baixa do que as  praticadas hoje.Caso a medida receba o aval dos senadores também, os Estados vão trabalhar para adiar a entrada em vigor da nova alíquota. Em reunião virtual do Fórum dos Governadores, realizada na segunda-feira, 23, para discutir a votação do projeto, uma das propostas apresentadas foi buscar o apoio do Colégio dos Procuradores-Gerais dos Estados para judicialização da matéria com base em jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) que fixou para 2024 a entrada em vigor de uma decisão da Corte que considerou a energia elétrica um bem essencial e que, portanto, o ICMS não poderia incidir com as alíquotas mais elevadas.

Os governadores também estudaram a possibilidade de o Comitê de Secretários de Fazenda dos Estados (Comsefaz) elaborar uma nova proposta de convênio para a regulamentação da lei que fixou uma alíquota uniforme do ICMS do diesel. A regulamentação feita pelos Estados é alvo de uma ação da Advocacia-Geral da União (AGU).

Pelos cálculos dos Estados, o congelamento do preço dos combustíveis, medida adotada desde novembro de 2021, gerou uma perda de R$ 16,1 bilhões, com previsão de alcançar R$ 37 bilhões até o fim do ano.

Gatilho

Para facilitar a aprovação da proposta, principalmente no Senado, líderes da base governista propuseram que a União compense os Estados quando a perda global de arrecadação com o tributo for superior a 5%.

“Estão perdidos. A ideia do tal gatilho é outra esquisitice. É um recibo do tamanho de um bonde mostrando que o texto todo é um grande equívoco”, disse ao Estadão o secretário de Fazenda de São Paulo, Felipe Salto. Para ele, a proposta é  “remendo novo em tecido velho. “Não resolve nada e ainda cria complexidade. ICMS é matéria estadual. Só o Senado é que, sim, tem certa ingerência, mas apenas nas alíquotas interestaduais”, ponderou.

Na sua avaliação, o projeto não tem salvação e o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) está sendo desrespeitado.

Os Estados defendem o uso dos dividendos recebidos pelo governo do lucro da Petrobras para bancar um subsídio transparente para mitigar o impacto dos preços altos . Para Salto, o governo pode fazer um crédito extraordinário, fora do teto de gastos (regra que atrela o crescimento das despesas à inflação), para bancar esse subsídio diante dos efeitos da guerra da Rússia com a Ucrânia. “É a União quem mais ganha dividendo com os preços altos”, disse.

Como mostrou o Estadão, entre janeiro de 2019 (início do governo Bolsonaro) e março deste ano, a Petrobras já injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões, levando-se em conta, além dos dividendos, os impostos e os royalties pagos.

Prefeitos

Em recuperação da covid-19, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM),  Paulo Roberto Ziulkoski, gravou um vídeo apelando aos prefeitos de todo o País a ligarem aos deputados para impedir a votação do projeto que fixa um teto para o ICMS de combustíveis e energia elétrica.

No vídeo, o presidente alerta aos prefeitos que perderão R$ 45 bilhões de arrecadação ao longo dos próximos anos do mandato deles. O ICMS é um imposto cobrado pelos Estados, mas compartilhado com os municípios. Segundo ele, os prefeitos não podem baixar a guarda. “Estou conclamando e pedindo a todos de uma forma muito efetiva para que hoje à tarde larguem as demais atividades e fiquem telefonando para o seu deputado e deputado federal”, pede o presidente da CNM. Ele fala no vídeo que não adianta só mandar mensagens porque os deputados não  estão lendo. “Liguem, liguem para os deputados!”, diz ele.

A CNM enviou para todos os prefeitos a perda de arrecadação de cada um deles com o projeto.

Lideranças políticas com chances de se eleger para o cargo de governador também estão trabalhando nos bastidores para derrubar o projeto. Eles não querem perder arrecadação quando assumirem o cargo. Em público, porém, há reservas de apareceram contra o projeto que reduz o ICMS.

Nossa opinião

Os governadores e prefeitos têm razão em estrilar. Bolsonaro está atirando com a pólvora alheia. A redução do ICMS só prejudica estados e municípios, enquanto os lucros da Petrobrás, em sua maior parte destinados ao Governo Federal, continuam intocados. Governadores já reduziram o ICMS e os combustíveis continuaram subindo. O que determina os aumentos, antes de tudo é o preço do dólar, ao qual está atrelado o preço dos combustíveis. E o governo não tem como frear eventuais aumentos dos combustíveis. Bolsonaro que segurar os preços, por conta da eleição, e fica atribuindo ao ICMS os aumentos e seus “puxa-sacos” espalhando “fake news”, dizendo que os culpados pelos aumentos dos combustíveis são os governadores. É tudo mentira. E ainda tem gente besta que acredita. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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