Ano eleitoral e eleitoreiro ainda está longe de acabar, mas o arsenal de mágicas ficou menor
(Vinicius Torres Freire, Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA), )
Jair Bolsonaro (PL) não perdeu os votos que juntou no início deste ano, mostra o Datafolha. Lula da Silva (PT) ganhou, bastantes até para vencer a eleição no primeiro turno. O problema do candidato que ora ocupa o Planalto volta a ser como não perder na primeira rodada. O que vai ou pode inventar, por exemplo, em termos de favores econômicos? O ano eleitoral e eleitoreiro ainda está longe de acabar, mas o arsenal de mágicas ficou menor.
Até as pesquisas de março ou abril, Bolsonaro deve ter se beneficiado de Sergio Moro (União Brasil) ter sido tirado da disputa, da discreta e inesperada despiora da economia no início desde 2022 e de alguns favores econômicos.
A julgar pelo Datafolha, a colheita magra de intenções de votos acabou, por ora. Vai ser mais difícil colher safra melhor na segunda metade do ano.
Segundo as melhores estimativas disponíveis, que ainda assim muita vez estão erradas, a economia teria crescido bem no primeiro trimestre, menos no segundo e começaria a encolher a partir de julho, fechando a segunda metade do ano no vermelho.
Bolsonaro e o governismo não conseguiram até agora dar um jeito nem no preço dos combustíveis, apenas um dos que explodiram, mas praticamente o único que mereceu empenho eleitoreiro. Ainda que passem no Congresso ou pela Justiça todas as medidas de contenção de reajustes de energia e corte de impostos, a redução de preço seria limitada e ainda demoraria a aparecer para o consumidor final.
Bolsonaro cismou de dar reajuste para policiais federais. Os policiais acharam mixaria, o reajuste ainda não saiu e boa parte dos servidores ficou revoltada por ter sido discriminada, sem promessa de aumento, ou entrou em greve.
Houve sucessos, que podem ter evitado uma queda de Bolsonaro na pesquisa. O saque parcial do FGTS e renegociações de dívidas várias, por exemplo, foram um alívio para o brasileiro esfolado. Descontos de impostos não redundaram em queda de preços, mas podem ter evitado aumentos maiores. Mais empregos, o Auxílio Brasil (Bolsa Família mais gordo) e favores por meio de aumentos de dívida seguraram algum voto e compensaram a amargura da inflação, para uns poucos. Mas, ao que parece, não conquistaram quase mais nada.
A comida continua a encarecer mais do que a média de preços, do que Bolsonaro não se ocupou. A não ser em caso de decreto legislativo louco do Congresso, a conta de luz subirá em boa parte do país. Os planos de saúde, que afetam a população mais remediada, vêm tendo reajustes ruins. Etc.
É possível que o comportamento cruel, desumano e degradante de Bolsonaro, seu golpismo, seu elogio da morte e das matanças e a fieira de atrocidades tenham enojado de vez parte do eleitorado. A dúvida é saber a que tipo de barbaridade ou golpe econômico ele vai recorrer a fim de evitar o risco de eliminação ainda no primeiro turno.