(Josias de Souza, Colunista do UOL, 17/06/2022)
Assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips pode ter envolvimento de um grupo de crime organizado. Foto: TV Brasil
A Polícia Federal informou em nota oficial divulgada nesta sexta-feira que os suspeitos de assassinar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips agiram sozinhos. As investigações indicariam que não há “mandante nem organização criminosa por trás do delito”. A versão é precipitada, desrespeitosa e espantosa.
O comunicado foi divulgado horas antes da constatação científica de que são mesmo de Dom parte dos restos mortais recolhidos na floresta na quarta-feira. Prossegue a análise em relação a Bruno. Segundo a própria PF, a “completa identificação” é necessária para “a compreensão das causas das mortes, assim como para indicação da dinâmica do crime e ocultação dos corpos.” Nada mais precipitado do que descartar o que deveria ser a principal linha de investigação num estágio tão inicial do inquérito.
Tanta pressa desrespeita os familiares dos mortos e todos os que esperam por uma investigação criteriosa, profunda e definitiva. A ligeireza insulta também quem se dispõe a colaborar com os investigadores. A Univaja, por exemplo, estranha que estejam sendo ignorados dados que repassou ao Ministério Público, à Funai e à própria PF. São informações que apontam para uma criminalidade graúda.
O desprezo à colaboração externa espanta mais quando se considera que, neste caso, os agentes do Estado só chegaram aos primeiros presos graças ao auxílio dos informantes. De resto, não teriam encontrado roupas e pertences dos mortos sem o auxílio dos indígenas. De posse desse material, puderam cercar Amarildo Oliveira, o Pelado, extraindo dele a confissão que levou aos corpos.
De duas, uma: ou a PF explica adequadamente por que despreza a hipótese de existência de mandante ou vai restar a impressão de que o órgão age a mando de gente interessada em enterrar viva uma investigação incômoda para o governo.