Desesperados com iminente derrota já no primeiro turno, bolsonaristas falsificam resultado de pesquisa para tentar enganar o eleitor

By | 20/09/2022 7:52 am

Vídeo falso altera fala de Bonner e imagens do JN para dizer que Bolsonaro lidera pesquisa Ipec

Na transmissão original do Jornal Nacional em 12 de setembro, levantamento indicou que Lula tem 46% das intenções de voto, contra 31% de Bolsonaro; conteúdo manipulado inverteu os porcentuais

última pesquisa do Ipec para a Presidência da República exibida pelo Jornal Nacional no dia 12 de setembro de 2022 não mostra o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) com 46% das intenções de voto, contra 31% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Um vídeo que viralizou nas redes mostra falas adulteradas dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, com os percentuais dos candidatos trocados. Na verdade, Lula tem 46% das intenções de voto no primeiro turno, enquanto Bolsonaro tem 31%. No segundo turno, o percentual registrado pela pesquisa é de 53% para Lula e 36% para Bolsonaro.

Já nos primeiros segundos, é possível perceber uma falha no vídeo. Aos 15 segundos, há um ‘salto’ na voz quando o jornalista, supostamente, diz que Lula tem 31% das intenções de voto. É como se Bonner percebesse que iria errar o número e o corrigisse durante a fala, o que não ocorre no vídeo original, disponível na Globoplay. De acordo com Bruno Sartori, jornalista e pesquisador sobre deepfake — mentira profunda, em tradução livre –, o vídeo passou por um edição simples em que a posição dos áudios foi invertida, chamada Shalowfake. “Basicamente, são edições simples tiradas de contexto para contar uma mentira”, explica. Apesar de parecer, à primeira vista, não há sincronia labial com o áudio da fala de William Bonner.

No original, Bonner aparece falando: “O Ipec divulgou uma nova pesquisa contratada pela TV Globo sobre a intenção de voto para as eleições presidenciais. A disputa segue estável. Lula tem 46% e Jair Bolsonaro, 31% das intenções de voto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos”. O vídeo editado mantém as mesmas palavras, mas inverte os valores e a ordem. Bolsonaro é citado primeiro, como se tivesse 46% dos votos, e Lula em seguida, supostamente com 31%.

Na sequência, William Bonner sai da imagem e a tela é preenchida pelo gráfico que mostra a evolução dos números ao longo das últimas pesquisas Ipec. Neste trecho há mais uma adulteração no vídeo: no lugar dos dados referentes a Lula, aparece o nome de Bolsonaro, e vice-versa.

Gráfico da matéria original exibida em 12 de setembro de 2022. Imagem: Reprodução/Globoplay

Gráfico do vídeo editado com percentuais para o 1º turno invertidos. Imagem: Reprodução/Facebook

Mais adulterações

No vídeo original, após apresentar os percentuais de Lula e Bolsonaro, William Bonner segue narrando o gráfico com as intenções de voto para Ciro Gomes, do PDT (7%), Simone Tebet, do MDB (4%), Soraya Thronicke, do União Brasil (1%) e Felipe D’Ávila, do Novo (1%), além dos brancos e nulos (6%) e dos que não souberam ou não responderam (4%). Já fora do gráfico, a imagem de Bonner volta a aparecer na tela para afirmar que os candidatos Sofia Manzano (PCB), Vera Lúcia (PSTU), Constituinte Eymael (Democracia Cristã), Léo Péricles (Unidade Popular), e Padre Kelmon (PTB), não alcançaram 1% das intenções de votos.

O vídeo manipulado não mostra essa parte e corta a imagem e a fala de Bonner logo após aparecerem na tela os percentuais adulterados para Lula e Bolsonaro no 1º turno. Na sequência do vídeo editado, quem aparece na imagem é a jornalista Renata Vasconcellos, que já teve outro vídeo adulterado, também sobre dados de pesquisas eleitorais.

Na transmissão original do Jornal Nacional, Renata diz: “O Ipec perguntou em quem os eleitores votariam num segundo turno entre Lula e Bolsonaro”. A imagem da apresentadora é substituída por outro gráfico, que mostra uma variação de 51% de votos para Lula na pesquisa de 15 de agosto para 53% na pesquisa mais atual, de 12 de setembro. Já Bolsonaro oscila de 35% em 15 de agosto para 36% na pesquisa em questão.

Simulação com intenções de voto para o segundo turno no vídeo original: Lula tem 53%. Imagem: Reprodução/Globoplay

Mais uma vez, o vídeo adulterado inverte os números e também a narração de Renata Vasconcelos, afirmando que quem tem 53% das intenções de voto no segundo turno é Bolsonaro, contra 36% para Lula. Os dados são falsos.

Gráfico do vídeo adulterado também inverteu os percentuais do segundo turno. Imagem: Reprodução/Facebook

Aprovação do governo

Os dados sobre aprovação do governo também foram editados no vídeo e, desta vez, também é perceptível um salto na narração de William Bonner. No vídeo original, a pesquisa apontou que, em 12 de setembro, 30% dos brasileiros consideravam o governo de Jair Bolsonaro ótimo ou bom; 23% consideravam regular, 45% consideravam ruim ou péssimo e 2% não souberam responder.

Gráfico do vídeo original mostra que 45% avaliam o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo. Imagem: Reprodução/Globoplay

O vídeo editado trocou os valores. O gráfico que aparece na tela diz que 45% dos brasileiros consideravam o governo ótimo ou bom; 30% consideravam regular e 23% consideravam ruim ou péssimo.

Gráfico adulterado mudou valores para tentar dizer que 45% dos brasileiros consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom. Imagem: Reprodução/Facebook

Por fim, foram adulterados os números e a fala de Renata Vasconcellos no último item apontado na pesquisa. No vídeo original, a jornalista diz: “O instituto perguntou se os brasileiros aprovam ou desaprovam a maneira como Jair Bolsonaro governa o País”. A imagem de Renata sai da tela e entra o gráfico, que mostra que 59% dos brasileiros desaprovam a maneira de Jair Bolsonaro governar o País, enquanto 35% aprovam e 5% não souberam avaliar.

Pesquisa mostrou que 59% dos brasileiros desaprovam a forma de Bolsonaro governar. Imagem: Reprodução/Globoplay

Já o vídeo adulterado, como nos trechos anteriores, editou os dados para tentar melhorar a imagem de Bolsonaro. O gráfico foi mudado para parecer que o atual presidente é aprovado – e não reprovado – por 59% dos brasileiros e reprovado por apenas 35%.

Vídeo editado trocou percentuais e mentiu ao dizer que 59% aprovam Bolsonaro. Imagem: Reprodução/Facebook

Ao final de ambos os vídeos, aparece o número de registro da pesquisa do Ipec junto ao TSE: BR-01390/2022. Ela está disponível no site do instituto com os valores verdadeiros.

 

Documento

 

Fato ou Fake, do G1, portal de notícias da Globo, apontou o vídeo aqui investigado como fake news. No texto publicado nesta segunda-feira, 19, há uma nota do Ipec. O instituto confirmou que os números estão errados e diz ter denunciado o vídeo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Ministério Público Eleitoral (MPE). O UOL Confere e a Agência Lupa também desmentiram esse conteúdo.


Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente.

Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook  é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas:  apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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