(João Villaverde, no Estadão, 19/09/2022)
A estratégia do voto útil ainda não aconteceu, indica a pesquisa Ipec, mas se ocorrer nos próximos dias será para confirmar uma tendência cada vez mais clara: a de que Lula pode ser eleito já em 1º turno. Há meses que o ex-presidente oscila entre 44-46% dos votos, algo muito próximo do limite dos chamados “votos válidos” (que exclui os votos em branco ou nulos). Agora, Lula subiu mais, chegando a 47% (ou 52% dos válidos).
Essa subida de Lula não ocorreu sobre o eleitorado de outras candidaturas, mas sim sobre os pouquíssimos eleitores que ainda não tinham se engajado por alguma candidatura em 2022. Eram só 6%, na semana passada, os que ainda respondiam “nulo ou branco” mesmo depois de ouvir o largo cardápio de nomes a disposição. Agora são apenas 5%. Pelo visto, Lula abocanhou quem ainda estava descrente.
Isso quer dizer que há um volume expressivo de eleitores, cerca de 13 milhões de pessoas, que escutam os pesquisadores mencionarem os nomes de Lula e Bolsonaro, mas optam por Ciro e Simone. Compreender por que essas pessoas ainda não cederam aos apelos da chapa Lula-Alckmin é a missão principal dos estrategistas petistas para as duas últimas semanas de campanha.
De acordo com a pesquisa Ipec, é possível que Lula seja eleito em primeiro turno mesmo que não tenha qualquer migração de votos adicional de Ciro e Simone. É por isso que, argumento aqui, a eventual estratégia do voto útil levaria a uma confirmação, não a uma mudança de resultado. Ou seja, caso ganhe alguns pontos adicionais por conta do voto útil, a chapa Lula-Alckmin estaria eleita não com 51%, mas com 54% ou 55%. Venceria da mesma forma, mas com uma distância maior.
O percentual de votos em Bolsonaro é pouco importante nesta altura do campeonato: de nada adianta subir dos 31% que ele registra no Ipec, para, digamos, 35% ou mesmo 40%. Lula ainda pode vencer em 1º turno. A única estratégia que resta ao presidente que está agora fazendo comício em meio a um funeral na Inglaterra não é virar votos de indecisos ou de quem quer seja, mas sim reduzir a votação de Lula.
JOÃO VILLAVERDE É PROFESSOR E DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNO PELA FGV-SP.