Lira, o vassalo (ou o puxa-saco, na linguagem popular)

By | 14/10/2022 6:39 am

Presidente da Câmara se curva a interesses de Bolsonaro ao ameaçar pesquisas

 

Jair Bolsonaro (PL) e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) – Adriano Machado/Reuters
(Editorial da Folha, em 13/10/2022)

Ignorância, servilismo e má-fé se misturam na investida autoritária patrocinada pelo deputado Arthur Lira (PP-AL) contra as pesquisas de intenção de voto no Brasil.

Não satisfeito em criticar o trabalho dos institutos, o presidente da Câmara, agindo como vassalo de Jair Bolsonaro (PL), manobrou para acelerar a votação de um projeto de lei que criminaliza a divulgação dos levantamentos eleitorais.

Se aprovado, constituirá crime publicar pesquisa com números que, considerada a margem de erro, divirjam do resultado oficial. A regra se aplica a levantamentos veiculados nos 15 dias que antecedem o pleito e estabelece pena de prisão de 4 a 10 anos.

Que existiu a disparidade é fato; classificá-la como erro é ignorância. Pesquisas de intenção de voto, com o perdão da redundância, medem intenção de voto em determinado momento. Retratam um quadro que não pode ser cotejado com a votação, pois esta reflete um momento diferente.

Procurar criminalizar as divergências existentes até 15 dias antes do pleito já adentra o terreno da má-fé. Migração de voto, decisão de última hora e abstenção podem provocar surpresas na reta final de uma eleição, alterando o quadro indicado pelos institutos.

Político experiente e oportunista, Lira sabe disso. Assim como sabe que a pena indicada no projeto de lei supera a de corrupção e pode ser maior até que a de homicídio, a depender do caso.

Se ele apoia a proposta, não é apesar de seus problemas, mas por causa deles. O deputado não pretende debater eventuais limitações dos institutos e aperfeiçoar suas metodologias. Quer tão somente impor a censura. Repete, com isso, uma pressão que outros políticos têm exercido há pelo menos 30 anos, inclusive com uma CPI.

Nunca se descobriu nada, mas não é essa a questão. Iniciativas dessa natureza têm o mero condão de intimidar atores independentes que buscam aumentar a transparência do processo democrático.

Não por outra razão, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) foi acionado contra os institutos de pesquisa, em uso do aparato estatal para atender a interesses de Bolsonaro. Ao mesmo submeteu-se a Polícia Federal, com a abertura de inquérito pedido pelo Ministério da Justiça.

Lira, assim como o presidente da República, a quem serve, sonha em enfraquecer as instituições e em monopolizar informações, em detrimento de cidadãos e eleitores.

editoriais@grupofolha.com.br

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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