Comunicamos aos nossos parentes e amigos o falecimento de nossa tia Madre Rosário

By | 14/12/2022 7:16 pm

(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado)

 

Faleceu nesta quarta-feira, 14/12/2022, na capital pernambucana, onde residia há anos no Grande Recife, minha tia paterna Maria Torres de Morais, pertencente a uma ordem de freiras franciscanas alemãs, cuja sede brasileira fica na Escola Maristela, na avenida João de Barros, em Recife. Madre Maria do Rosário, seu nome na ordem, completara cem anos, no último dia 25 de outubro, mas já vinha com problemas de saúde há algum tempo. Ela está sendo velada no Colégio Maristela, na rua João de Barros, e será sepultada, nesta quinta-feira, 15/12/2022, em jazigo da Ordem Franciscana no Cemitério de Santo Amaro.

Minha irmã, Dra. Fátima Lima, antiga companheira nossa na Rádio Espinharas, conta um pouco da história desta tia, com quem conviveu mais do que eu. Tia Maria era prima legítima do saudoso Monsenhor Luiz Laíres da Nóbrega. Era filha de Henrique Luiz de Morais e Isabel Torres de Morais. E irmã de João Torres, José, Antônio (meu pai), Francisco, Manoel, Luiz, Severina, Dasdores, Luzia e Inácia. Só restam vivas Luzia e Inácia, que residem no Estado da Bahia. Tia Maria foi a primeira da família a colar grau, no Pedagógico e se tornar professora.

Tia Maria Torres de Morais saiu de Patos nos anos 50 junto com sua amiga de toda vida,  Olindina, que veio a se tornar Irmã Terezinha. Padre Sitonio, pároco da Patos desta época, é que fez as negociações que levaram as duas amigas a Timbaúba dos Mocós em Pernambuco onde fizeram o noviciado e se tornaram religiosas da Ordem (Menor) de São Francisco. Foi no Colégio Santa Maria – onde, depois fui estudar como interna.

Tia Maria passou a ser Irmã Maria do Rosário. Na época as franciscanas eram chamadas madres; em algum momento adotaram o “Irmã” como na maioria das ordens religiosas. No Santa Maria fez o Curso Pedagógico e se tornou Professora. Fui sua aluna nos anos 60: Geografia, Português e  História eram as matérias que ensinava. E bem. Quando fui sua aluna ela tinha também a função que foi definitiva em minha vida: era responsável pela Biblioteca do Santa Maria. Me  orientou e me estimulou o hábito da leitura. Censurou também: esgotado o mundo dos livros tipo coleção Menina Moça foi difícil alçar a categoria da Coleção das Moças pois não tinha idade para. Confesso que dei meu jeito. Clandestinamente.

O colégio era de freiras alemãs, majoritariamente. Vindas às pressas da Alemanha do ensino laicalizado por Hitler e seus seguidores. Nunca conversei com ela como teria sido a convivência com aquelas recém chegadas da Alemanha, mal falantes de Português, de uma religiosidade rígida e conservadora e pouco informadas da cultura brasileira, que ainda comandavam o Santa Maria na década de 1960.  Não me perdôo pelo descuido em não ter conversado sobre este aspecto de seu aprendizado e do sucesso de sua carreira dentro da OFM. Porque, sem alarde, com uma dose de humildade realmente franciscana, conseguiu chegar a diretora do Colégio Maristela em Triunfo, a jóia da coroa da Ordem Religiosa. Muita coisa não sei. Teria saído diretamente da região rural de Patos (moravam na Pia) para o convento?! Morou na cidade um tempo? Sei que foi noiva de um tio materno nosso mas optou pelo noivado com Jesus. E esse tio casou com outra irmã dela.

Era inteligente, lia bastante e me foi excelente professora. Era bem humorada, até dava risadas. Nunca se afastou muito da família que deixou em Patos. Era atenta às necessidades materiais dos parentes muito pobres. Sua vinda, talvez anual,  para passar um mês de férias com a familia (quando já era freira, tinha feito seus votos) era uma festa. Significava novidade, a chegada de um membro muito importante da família que não tinha nem um padre, médico, engenheiro ou advogado prá chamar de seu. Era uma estrela, bem sucedida, que levava uma vida absolutamente difícil de imaginar como era. Ficávamos orgulhosos e curiosos. E fascinados com o mistério.

Conheci um pouco desta Vida quando fui ser interna no Santa Maria prá onde me levou, aos 10 anos e meio de idade pra fazer o exame de admissão. Durante cinco semestres foi a única pessoa da família com quem eu tinha contato. Fez o que pôde pra cuidar de mim. Inclusive pra administrar o convívio conflituoso do ponto de vista social, com meninas filhas de donos de Engenhos e Usinas de Açúcar de Pernambuco. Me dava dicas. Me dava “carões” (freqüentemente) e deve ter sido um pouco difícil estabelecer regras justas. Pelo contexto e por uma certa rebeldia da sobrinha. E porque esta não tinha nem uma  mesada prá fazer frente ao mais pequenino desejo de consumo e convivia com colegas bastante poderosas. Sou-lhe muito grata por seu esforço. Sei que foi difícil e cansativo. Ela foi muito generosa e paciente.

Reencontrei minha Tia Maria ou Madre Maria do Rosário (como tinha que chamá-la sempre) muito tempo depois dos anos 1960. Já diretora de um complexo que a ordem tinha em Triunfo-Pe: O colégio Stella Maris , um tipo de pensionato, um convento. Depois gerenciou o sítio que fazia parte do colégio.   Saiu-se muito bem e construiu amizades que lhe seguiram pelo resto da vida. Esta, terminou hoje, aos 100 anos de idade, na Grande Recife, no município de Camaragibe. Viveu sob os cuidados de suas fiéis companheiras de carreira religiosa, toda sua velhice e aposentadoria. No Bairro de Aldeia fica a casa das idosas da Ordem. Estive lá às vésperas da pandemia de covid ser decretada, em março de 2020. Ela já estava meio desligada. Mas ficava o tempo todo com alguma revista (religiosa quase sempre) na mão e lendo ou fazendo de conta que lia. E fazendo comentários incompreensíveis.

Quando se aposentou, foi levada pela Ordem, a Alemanha onde conheceu a Casa Mãe – certamente um sonho de sua vida. Mas a maior alegria foi ter ido a Roma, onde viu e foi abençoada pelo Papa. Me disse que estava “pronta prá morrer”. Demorou mais de 20 anos. Foi em Paz. Deixou muito de si em todas as que foram suas alunas e em suas companheiras mais jovens; professores são imortais.

Tenho um cartão que me mandou quando fui morar no Rio – um lugar muito perigoso no imaginário de seu mundo. A mensagem que me deixou foi: “ Seja grata ao Colégio Santa Maria, vivendo lá fora, os sábios ensinamentos que aqui recebeu”. Fiz o possível. E em alguns aspectos fui bem fiel: lá entrei para a JEC- Juventude Estudante Católica onde aprendi da militância Política. Tenho lutado pra não desistir; e sou grata, imensamente grata pela chance que Tia Maria me deu. Digo, Irmã Maria do Rosário. Que descanse em Paz.”

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

One thought on “Comunicamos aos nossos parentes e amigos o falecimento de nossa tia Madre Rosário

  1. Fatima l8ma

    Esqueci de falar que Tia Maria quando vinha a Patos trazia presentinho para todos. Inesquecíveis. C9isas vi do da Alemanha.lembrancinhascrel8giosas, roupas que eram enviadas para os pobres e chocolates europeus. E mais: trazia uma máquina fotográfica e retratou muitos da família. Imagino como se sentia feliz de promover tanta alegria.

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