Presidente diz a interlocutores que deixará o país e que não pretende passar a faixa presidencial para Lula
O presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou uma reunião de despedida e planeja deixar o Brasil até sexta-feira (30) para passar a virada do ano em Orlando, nos Estados Unidos.
O mandatário confirmou a interlocutores que não pretende passar a faixa para o presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na posse em 1º de janeiro e que estará fora do país no Réveillon.
O ex-ministro e candidato a vice nas eleições deste ano, Braga Netto, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, entre outros aliados, devem participar do encontro de despedida nesta quarta-feira (28).
Bolsonaro deu poucas declarações após perder o pleito deste ano e em todas elas evitou parabenizar Lula ou reconhecer a derrota.
Do ponto de vista formal, porém, autorizou o início da transição e deu poder para o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), fornecer ao governo eleito a estrutura necessária para preparar os projetos que pretende implementar a partir de 2023.
Apoiadores mais radicais do presidente afirmam que as eleições foram fraudadas, apesar de não apresentarem provas consistentes, e se acumulam em frente a quartéis para pedir intervenção das Forças Armadas a fim de evitar a posse de Lula.
Bolsonaro chegou a afirmar que as manifestações são resultado de “sentimento de injustiça” e deu declarações dúbias sobre as eleições, mas não tentou adotar nenhuma medida formal que vise evitar a posse de Lula.
O plano do atual presidente é se manter na política e liderar a oposição ao PT nos próximos quatro anos. Para isso, negociou com Valdemar Costa Neto a estrutura necessária para tentar seguir como líder do campo conservador no país.
A ideia é que o partido dê um salário a Bolsonaro equivalente ao teto constitucional do setor público. Além disso, deve ter uma casa alugada no bairro nobre de Brasília.
O plano do PL é que o mandatário ajude nas articulações para a eleição municipal de 2024. Na análise de líderes da legenda, o presidente será fundamental para o partido ampliar o número de prefeitos e vereadores, fortalecendo sua base para 2026.
O presidente terá ainda um gabinete em uma sala ao lado da sede nacional do partido, em Brasília. O local já está alugado e também deve ter um ambiente para a primeira-dama. As reformas ainda não começaram para receber a família no próximo ano.
Bolsonaro tem evitado falar com aliados se pretende disputar novamente a Presidência no próximo pleito nacional. Pessoas próximas, no entanto, acham improvável que ele saia totalmente de cena e não trabalhe para voltar ao poder.
Eles apostam que Lula enfrentará uma oposição muito mais dura do que nos seus dois primeiros mandatos e que o petista poderá chegar desgastado em 2026.
Nesta terça, o presidente começou a se planejar oficialmente para a vida fora do poder. Para isso, foi publicada no Diário Oficial da União a nomeação dos oito assessores a que ex-presidentes têm direito.
Lei federal prevê que ex-presidentes da República têm direito a quatro servidores para segurança e apoio pessoal; dois para assessoramento superior, dois veículos oficiais da União e dois motoristas.
Um dos nomeados foi João Freitas, que atualmente é chefe da assessoria especial da Presidência da República. Outro é Max Guilherme de Moura, que é primeiro-sargento da Polícia Militar do Rio de Janeiro e uma das pessoas mais próximas de Bolsonaro. Ele se candidatou a deputado federal este ano, mas fez menos de 10 mil votos e não foi eleito.
Também será assessor de Bolsonaro no próximo ano Marcelo Costa Câmara, que hoje atua como assessor especial do gabinete pessoal do presidente.
Além disso, seguirá com o mandatário Sérgio Cordeiro, capitão da reserva e dono da casa em que Bolsonaro fez as lives durante as eleições após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proibir o presidente de usar seu imóvel funcional para fazer as transmissões.
Além dos oito servidores que ocuparão os cargos a que o chefe do Executivo terá direito como ex-presidente, integrantes do PL dizem ainda que o mandatário deve ter sua própria equipe dentro da sigla, inclusive com uma assessoria de comunicação própria.
O candidato a vice na sua chapa, general Braga Netto, também deverá ter um cargo, salário e funcionários contratados pelo PL. Segundo interlocutores, ele deve levar cerca de quatro assessores para a sigla.
Comentário nosso
- Finalmente, Bolsonaro resolveu “arrumar as malas”. Deus o guie! (LGLM)