Hora do pente-fino no Bolsa Família (seguido de comentário nosso)

By | 16/02/2023 9:22 am

Em vez de racionalizar programa e criar mecanismos de emancipação, Bolsonaro fez o oposto. Hoje, está eivado de fraudes

 

(OPINIÃO DO ESTADÃO, 16/025/2023)

 

Imagem ex-librisO governo prepara um pente-fino no Bolsa Família por meio da revisão do Cadastro Único. Desde que o programa foi desmantelado pelo governo de Jair Bolsonaro, não se sabe quem são e como vivem as famílias de baixa renda. A Controladoria-Geral da União estima que 2,5 milhões das famílias beneficiárias estejam recebendo o auxílio de maneira irregular. “Obviamente, tem dinheiro indo duas vezes, três vezes na mesma casa”, afirmou a secretária do Ministério do Desenvolvimento Social, Letícia Bartholo. Ao mesmo tempo, muitas famílias que têm direito ao benefício estão fora do programa.

O caos cadastral é só um dos elementos que explicam um aparente paradoxo. O País nunca gastou tanto e com tantas famílias. Antes da pandemia, o Bolsa Família atendia 14 milhões de famílias com um benefício médio de R$ 191. Hoje, são mais de 22 milhões a R$ 600. Ainda assim, segundo o Ipea, as famílias em extrema pobreza, que em 2014 eram 2,8% do total, hoje são 4%.

À parte os fatores macroeconômicos, no caso dos programas de transferência de renda a explicação é simples: o governo Bolsonaro não os projetou para ajudar os vulneráveis, mas para comprar eleitores. Nas gestões do PT, os programas foram razoavelmente bem-sucedidos em dois aspectos: ajudar os miseráveis e alavancar votos. Isso se fez com programas pela metade, que privilegiavam a distribuição de dinheiro, mas negligenciavam mecanismos de inclusão no mercado de trabalho. Assim, perpetuava-se uma massa de dependentes que serviam de curral eleitoral ao partido. Um estadista teria eliminado os aspectos que fazem desses programas máquinas eleitorais e potencializado os que fazem deles máquinas de inclusão. Bolsonaro fez o contrário.

Ao invés de racionalizar os programas, identificando graus e tipos de vulnerabilidades, adaptando benefícios de acordo com elas e criando mecanismos de emancipação, Bolsonaro eliminou todas as contrapartidas – como a obrigatoriedade de cumprir o currículo escolar e o calendário vacinal –; criou um benefício único distribuído indiscriminadamente – o mesmo para uma pessoa e uma mãe solo com três filhos, por exemplo –; e desbaratou o Cadastro, abrindo espaço a todo tipo de fraude – notadamente a de pessoas que dividem a mesma casa registrando-se como se morassem separadas.

Desde 2020, famílias de uma pessoa só cresceram 224% – suspeita-se que 35% recebam o auxílio irregularmente. Em descompasso com a demografia, a média de pessoas por família caiu de 3,4 para 2,5. Estima-se que só o pente-fino pode garantir uma economia de R$ 10 bilhões a serem canalizados a quem realmente precisa.

Considerando-se que os programas de transferência de renda têm mais de duas décadas, não faltam dados, estudos e propostas para aprimorá-los. Notadamente, o projeto de Lei de Responsabilidade Social combina eficiência das transferências e geração de oportunidades com as regras de responsabilidade fiscal.

Mas é preciso começar pelo começo: excluir quem não deveria estar no atual programa e incluir quem deveria. Para isso, a reconstrução do Cadastro Único é urgente.

 

Comentário nosso

Tenho um conhecido que vive esculhambando com os políticos brasileiros, chamando-os de ladrões. Mas a casa dele é cheia de “gatos de energia”, pois os aparelhos de ar condicionado vivem ligados diretos. Será que ele pode chamar os outros de ladrão? Este é o mal de milhões de brasileiros. Vivem tentando roubar do governo. O seguro-desemprego foi um dos maiores benefícios já criados para o trabalhador brasileiro, por garantir que ele fique amparado, por alguns meses, sempre que ficar desempregado. Pois tem muita gente que vive fraudando o seguro desemprego. Sai de um emprego, habilita-se ao seguro desemprego, e logo depois arranja outro emprego e fica trabalhando sem a carteira assinada, para continuar a receber o seguro desemprego. Encontrei muito isso, nos meus tempos de fiscal do trabalho. A mesma coisa muita gente faz com o bolsa-familia. Mente na hora de fazer o Cadastro, escondendo que tem suficiente para se manter, e fica recebendo o bolsa-familia. Estava desempregado, passa a receber o bolsa-familia e depois que consegue um emprego não o comunica ao Cadastro Único para continuar recebendo o bolsa-familia. Na fiscalização encontrei muiita gente trabalhando sem carteira assinada e dizia que não queria que lhe assinassem a carteira para não perder o bolsa-familia. Hoje em dia é dificil se conseguir uma empregada doméstica, porque muitas recebem o bolsa-familia e não querem ter a carteira assinada para não perder o auxilio. Ao receberem uma oferta de emprego, muitas dizem logo que não querem ter a carteira assinada. O que é um risco para o patrão, por que mais adiante ela pode reclamar que não assinaram a sua carteira e não adianta o patrão dizer que não assinou porque ela não quiz. Por isso, achamos oportuno que o Governo faça esse pente-fino no Bolsa-Família, para verificar quem o estar recebendo indevidamente. E é cada fez mais fácil fazer este pente fino. Todos os sistemas eletrônicos do Governo estão hoje interligados. Basta ver os milhões de Auxilio Emergencial que o Governo descobriu que haviam sido fraudados.  (LGLM)

 

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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