O Brasil é um país dos apostadores, nessa vã esperança de ganhar dinheiro fácil pelas loterias. Os sites de apostas se espalharam pela internet e estão acessíveis a todos que acreditam ser esse o menor caminho para melhorar de vida. Num passado remoto esses sites movimentavam no Brasil R$ 2 bilhões. Em 2020, esse valor saltou para R$ 7 bilhões. A expectativa é que chegue a R$ 23 bilhões neste ano. Tudo sem nenhuma taxação de impostos. Relatórios de empresas que se debruçam sobre o assunto, como a Grand View Research, o mercado de apostas mundial pode bater na casa dos US$ 63 bilhões, podendo triplicar esse valor até 2030.
Os sites de apostas estão por todos os lados na vida esportiva do Brasil, nos clubes da Série A, em eventos esportivos de outras modalidades, na mídia de forma geral. Se você abrir a internet agora, vai receber uma mensagem/propaganda de um desses ‘bets’ (aposta em inglês). Não há restrições.
De modo geral, os sites recebem as apostas online e pagam aos vencedores delas. Até onde se sabe, não enganam na transação ou deixam de pagar aos apostadores. Há reclamações quando as coisas não dão certo e o apostador precisa falar com alguém do site. Claro, não encontram ninguém.
Os times de futebol estampam em suas valorizadas camisas as marcas ‘bet’ em troca de muito dinheiro. O governo Federal não vê a cor do dinheiro das apostas, uma vez que esses sites são todos sediados no exterior, pagando seus impostos fora do Brasil, imagina-se.
O problema está nas gangues que olham para isso como uma forma de enriquecimento ilícito, de modo a coagir atletas das mais variadas modalidades ou profissionais dos esportes a ‘ajeitar’ os resultados das apostas feitas. No caso dos jogos da Série B do Brasileiro do ano passado, havia jogador que receberia até R$ 150 mil para fazer em campo alguns dos movimentos desses apostadores-manipuladores, como cometer pênalti antes do fim do primeiro tempo.
Basta ‘comprar’ um atleta desses seduzidos, como descobriu o MP de Goiás, para todas as partidas estarem contaminadas. O MP de Goiás investigou apenas três jogos de uma única rodada da Série B de 2022. Informa que pode respingar em outras divisões, como o Brasileirão, e torneios.
Se o governo não intervir, o esporte perderá sua credibilidade, todos eles, de todas as categorias e modalidades. Os sites de apostas perderão sentido também, porque tudo estará contaminado, de modo a ninguém ter certeza de que há o mínimo de seriedade e lisura em um jogo. Imagine esse Corinthians e Palmeiras que vimos nesta quinta-feira pelo Paulistão com tramoia de resultados de todas as variantes possíveis, cartões, faltas, escanteios, pênaltis, gols…? Clubes e mídia serão cobrados para não ter suas marcas relacionadas a essas casas de apostas, o governo deixará de ter uma fonte nova de renda e ninguém mais acreditará em nada no nosso glorioso futebol.
Uma catástrofe se desenha no esporte brasileiro e ninguém ainda se deu conta disso. É essencial que algo seja feito. O presidente Lula vai receber a proposta para regulamentar esses sites no Brasil, de modo a fazer as taxações e, mais do que isso, tirar dessas casas de apostas sua atual condição de fantasmas no sistema financeiro brasileiro.
As próprias casas de apostas querem isso porque entendem que o Brasil é um mercado promissor. A partir daí, um braço das polícias, sua inteligência, terá de ‘vigiar’ toda e qualquer movimentação suspeita. Relatórios em conjunto com esses sites terão de ser produzidos e analisados, de modo a apontar tendências, digamos, esquisitas, nas apostas e nos ganhos. Talvez deva haver num primeiro momento um determinado número de sites permitidos. Não sei se isso é possível. Mas a regulamentação é o caminho para que se haja cobranças e que os responsáveis saibam quem cobrar.
Os serviços dos sites são divulgados por uma série de influenciadores. Os sites vieram com tudo no Brasil. Não é fácil ganhar dinheiro nesse tipo de jogatina para pessoas comuns. São muitas variantes. Ao e-Investidor, o analista de investimentos Mario Goulart foi direto ao ponto. “Nada contra o cidadão separar algum dinheiro, que ele não se importe de perder, para fazer um joguinho por lazer. Mas ninguém deve considerar sites de apostas como um investimento.”
As casas de apostas são regidas pela Lei 13.756/2018, que estabelece o Ministério da Economia como o responsável por regular as apostas e jogos dessa natureza no Brasil. Havia dois anos para que o assunto fosse regulamentado. Ainda não foi. Casa Civil e Ministério da Fazenda trabalham nesse sentido para que a matéria chegue à mesa do presidente Lula. A regulamentação pode estabelecer limites para essa atividade. A equipe do presidente vai ter de considerar muitos aspectos, até mesmo da saúde mental, das pessoas que se viciam nas apostas e ‘perdem’ tudo que tem. Lavagem de dinheiro é outro ponto a ser levado em consideração. Daí a necessidade urgente de debater o tema.
Ele cita ainda a necessidade de as casas de apostas conhecer melhor seus clientes, com condições parecidas às informações que os bancos têm de seus correntistas.