O cristianismo freestyle bolsonarista

By | 08/05/2023 11:58 am

Urge expormos as contradições dessa seita em relação ao evangelho de Jesus

 

(Alexandre Gonçalves, formado em teologia, direito e letras, é pastor da Igreja de Deus há 28 anos, na Folha, em 07/05/2023)

bolsonarismo criou o cristianismo freestyle, gestado por uma teologia pseudocristã no seio das igrejas evangélicas. Sei que a sentença é forte, ainda mais vinda de alguém com 28 anos de ministério pastoral. Também parece dogmática e tendente a uma generalização rasa. Não é, e espero explicar o porquê.

Em meados dos anos 1950, houve uma ascensão de um tipo de teologia adjetivada de “teologia do domínio”. No Brasil, chegou pelos anos 1960, através de missionários americanos como Bob Weiner e Robert McAlister —este último, fundador da Igreja de Nova Vida, que deu origem à Igreja Universal e à Igreja da Graça de Deus, fundadas por ex-discípulos de McAlister (Edir Macedo e R. R. Soares, respectivamente). Eles defendiam que a mensagem da prosperidade, já trazida por esse movimento, deveria chegar ao povo da periferia, visto que a Nova Vida atingia mais a classe média/alta. Juntou-se a essa teologia a teologia do domínio ou triunfalista.

O então presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de culto evangélico na Câmara dos Deputados – Pedro Ladeira – 3.ago.22/Folhapress – Folhapress

Essas doutrinas, importadas dos Estados Unidos, apenas comprovam minha teoria de que a boa teologia é destilada na Alemanha, envelhecida na Inglaterra, apodrecida nos EUA e consumida no Brasil. É vinagre! Vou explicar.

Jesus era a antítese disso. Ao ser inquirido por Pilatos se era ou não o rei dos judeus, ele respondeu: “O meu Reino não é deste mundo” (Jo 18:36). Em outra situação, testemunhava uma discussão entre seus discípulos sobre quem seria o maior do reino de Deus. A resposta de Jesus surpreenderia os que advogam um domínio da cosmovisão cristã sobre todos indistintamente: “Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se maior entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser servo de todos” (Mc 10:42-44).

Nesse cristianismo freestyle, existe o culto às armas, pois elas são o símbolo do poder pela força. E o mais triste é que usam a Bíblia para basear suas sandices. Falam que Pedro empunhava uma espada. De fato, ele usava (Jo 18:10). Entretanto, quando se dispôs a usá-la para defender Jesus, ferindo um soldado do templo (Jo 18:10 c/c Mt 26:51), foi por Jesus exortado: “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão” (Mt 26:52). Em seguida, Jesus curou aquele soldado do templo (Lc 22:51), contrapondo o evangelho de guerra com o de amor e serviço. Esse cristianismo anátema exalta o iníquo adágio de que “bandido bom é bandido morto”.

Olhemos para Jesus. Na lei do Antigo Testamento, uma mulher ou homem pegos em adultério deveriam ser apedrejados (Dt 22:22-24). Qual foi a resposta de Cristo ao ser perguntado pelos fariseus o que deveriam fazer diante da situação? Pela lei judaica, ela era uma criminosa. Você imagina Jesus dizendo: “Apedrejem essa vagabunda!”? De forma alguma! Ele disse: “(…) quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra” (Jo 8:7). Logo em seguida, todos foram saindo e somente restou a mulher. Jesus a indaga: “Mulher, onde estão seus acusadores? Ninguém a condenou? Eu também não a condeno!” (Jo 8:10,11).

Urge mostrarmos as contradições do atual discurso dessa seita “cristã” bolsonarista em relação ao evangelho de Cristo. Comparar o ensino de Jesus com esse discurso atroz é o que temos de mais importante a fazer a fim de que se sejam desmascarados aqueles que usam a Bíblia e os púlpitos das igrejas como palanque para seus projetos de poder.

Enfim, esse cristianismo freestyle bolsonarista é tudo, menos cristianismo.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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