Presidente do BNDES acha ‘indispensável’ a volta do subsídio e flerta com erros passados
O plano B, o lançamento de duas linhas de crédito à exportação de produtos industriais de R$ 2 bilhões cada uma, foi apresentado pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, como uma façanha diante do atual cenário de juros altos. “Estamos indo para o osso”, disse, referindo-se à redução da taxa de remuneração do banco (spread) na oferta de financiamentos em uma das linhas.
Mercadante vendeu a ideia de que pretende aproximar as condições de crédito da indústria às do agronegócio, voltou a prometer uma mudança no banco com taxas diferenciadas de juros e acabou por defender a volta dos subsídios como medida “indispensável” para a economia girar no pós-pandemia. Um argumento inquietante diante do histórico recente do excesso de subsídios do banco de fomento.
Crédito subsidiado é a forma mais fácil de o BNDES elevar seus desembolsos e direcionar crédito a segmentos específicos numa política que já mostrou não ter dado certo. Afora o perigo da porta entreaberta a eventuais escolhas e favores guiados por puro interesse político – que pode recair em companhias que nem têm dificuldade em captar capital –, o banco tende com isso a se afastar do que deveria ser o seu alvo prioritário: financiar o avanço em infraestrutura, transição energética, inovação e crescimento de pequenas empresas.
No museu de grandes novidades que tem sido este novo mandato de Lula, ideias adotadas em antigas gestões petistas voltam a circular a despeito do resultado ruim que apresentaram. E o que parece novo carece de credibilidade.
No dia do evento da Fiesp, o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin, em artigo publicado no Estadão, defenderam a “neoindustrialização” como o fio condutor da política econômica. “Temos de facilitar o acesso ao capital, reduzindo seu custo, para que os empreendedores possam criar e expandir os seus negócios”, sustentaram. O mérito da iniciativa foi amplamente reconhecido. As ressalvas foram em relação à incapacidade de abandonar políticas que já se mostraram incapazes de sustentar o crescimento.
Como disse o economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, o argumento usado pelo governo “falha em não olhar atrás e tirar lições das várias políticas industriais que o País teve”.
A discussão sobre o BNDES deixar de ser um carreador de recursos para o governo, repassando ao Tesouro 60% dos dividendos que obtém, é válida. É preciso trocar a missão prioritária de contribuir para o resultado das contas públicas pelo reforço de caixa para financiar projetos que não encontram amparo na iniciativa privada e que são imprescindíveis para o crescimento do País. Mas a tentação populista, tão bem simbolizada pelo “carro popular” e pelo crédito subsidiado, parece irresistível.
Comentário nosso
Conceder subsídio é uma forma comum de estimular os empresários a produzir mais e mais barato. Só que os empresários brasileiros são mestres em produzir mais, mas não na quantidade nem com preço menor que corresponda ao subsídio que recebem. Ou seja usam o subsídio para enriquecer mais a custa dos impostos que deixam de pagar. Ou seja, o subsídio não corresponde à finalidade a que se destina, por culpa dos empresários que o recebem, por isso a crítica que faz o Estadão. (LGLM)