A tentação do crédito subsidiado (seguido de comentário nosso)

By | 31/05/2023 7:07 am

Presidente do BNDES acha ‘indispensável’ a volta do subsídio e flerta com erros passados

Imagem ex-librisO governo recorreu ao anúncio de duas novas linhas de crédito do BNDES para tentar amenizar, na celebração do Dia da Indústria, a frustração de expectativas com a falta de um pacote industrial mais robusto, que tivesse no barateamento dos carros populares seu eixo principal. “Não tem como ter anúncio agora, não. Vamos ter de acertar mais”, disse o presidente Lula da Silva aos empresários que o receberam na Fiesp.

O plano B, o lançamento de duas linhas de crédito à exportação de produtos industriais de R$ 2 bilhões cada uma, foi apresentado pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, como uma façanha diante do atual cenário de juros altos. “Estamos indo para o osso”, disse, referindo-se à redução da taxa de remuneração do banco (spread) na oferta de financiamentos em uma das linhas.

Mercadante vendeu a ideia de que pretende aproximar as condições de crédito da indústria às do agronegócio, voltou a prometer uma mudança no banco com taxas diferenciadas de juros e acabou por defender a volta dos subsídios como medida “indispensável” para a economia girar no pós-pandemia. Um argumento inquietante diante do histórico recente do excesso de subsídios do banco de fomento.

Crédito subsidiado é a forma mais fácil de o BNDES elevar seus desembolsos e direcionar crédito a segmentos específicos numa política que já mostrou não ter dado certo. Afora o perigo da porta entreaberta a eventuais escolhas e favores guiados por puro interesse político – que pode recair em companhias que nem têm dificuldade em captar capital –, o banco tende com isso a se afastar do que deveria ser o seu alvo prioritário: financiar o avanço em infraestrutura, transição energética, inovação e crescimento de pequenas empresas.

No museu de grandes novidades que tem sido este novo mandato de Lula, ideias adotadas em antigas gestões petistas voltam a circular a despeito do resultado ruim que apresentaram. E o que parece novo carece de credibilidade.

No dia do evento da Fiesp, o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin, em artigo publicado no Estadão, defenderam a “neoindustrialização” como o fio condutor da política econômica. “Temos de facilitar o acesso ao capital, reduzindo seu custo, para que os empreendedores possam criar e expandir os seus negócios”, sustentaram. O mérito da iniciativa foi amplamente reconhecido. As ressalvas foram em relação à incapacidade de abandonar políticas que já se mostraram incapazes de sustentar o crescimento.

Como disse o economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, o argumento usado pelo governo “falha em não olhar atrás e tirar lições das várias políticas industriais que o País teve”.

A discussão sobre o BNDES deixar de ser um carreador de recursos para o governo, repassando ao Tesouro 60% dos dividendos que obtém, é válida. É preciso trocar a missão prioritária de contribuir para o resultado das contas públicas pelo reforço de caixa para financiar projetos que não encontram amparo na iniciativa privada e que são imprescindíveis para o crescimento do País. Mas a tentação populista, tão bem simbolizada pelo “carro popular” e pelo crédito subsidiado, parece irresistível.

Comentário nosso

Conceder subsídio é uma forma comum de estimular os empresários a produzir mais e mais barato. Só que os empresários brasileiros são mestres em produzir mais, mas não na quantidade nem com preço menor que corresponda ao subsídio  que recebem.  Ou seja usam o subsídio para enriquecer mais a custa dos impostos que deixam de pagar. Ou seja, o subsídio não corresponde à finalidade a que se destina, por culpa dos empresários que o recebem, por isso a crítica que faz o Estadão. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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