STF aceita denúncia contra deputado bolsonarista após 3 anos (seguido de comentário nosso)

By | 30/06/2023 10:06 am

PGR acusou Otoni de Paula de cometer os crimes de injúria e difamação ao proferir ofensas contra Alexandre de Moraes em 2020

(Constança Rezende, na Folha, em 29/06/2023)

STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, por unanimidade, aceitar denúncia oferecida pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ).

A Procuradoria acusou o parlamentar de cometer os crimes de injúria e difamação ao proferir ofensas contra o ministro Alexandre de Moraes em transmissões ao vivo pela internet, entre 16 de junho e 5 de julho de 2020.

A denúncia havia sido oferecida pela PGR em julho daquele ano, mas o caso só foi liberado para julgamento no plenário pelo relator do caso, ministro Kassio Nunes Marques, em dezembro de 2021 e nesta quinta-feira (29) ela foi analisada pelos ministros.

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Otoni de Paula em sessão na Câmara – Pablo Valadares-28.mar.23/Câmara dos Deputados

O entendimento foi seguido pelos ministros André Mendonça, Edson Fachin, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Rosa Weber. Eles afirmaram que há indícios de materialidade e autoria no caso.

Moraes não votou no caso, por se declarar impedido. Luís Roberto Barroso e Luiz Fux não votaram.

Com a decisão, foi instaurada uma ação penal contra o deputado, que agora se torna réu. Nesta fase, as partes poderão produzir provas e as testemunhas serão ouvidas.

O advogado Heli Lopes Dourado, que representa Otoni, chegou a pedir a rejeição da denúncia e desculpas a Moraes.

Apesar disso, ele citou a imunidade parlamentar, e que “é preferível o excesso do parlamento que a mordaça na boca do mesmo”.

“Pode ser difícil para muitos ouvirem e sentirem, mas (a imunidade parlamentar) é crucial, o sustentáculo da democracia, que só vive quando temos a voz do parlamento soberano para dizer o que sente o povo”, disse.

Ele acrescentou que gostaria de dizer a Moraes que, muitas vezes, “excessos são cometidos, no calor da palavra” e “quem já foi parlamentar sabe muito bem disso”.

“Mas venho com a grandeza de ter errado meu cliente, venho pedir desculpas a vossa excelência pelo que disse. Foram palavras impróprias. Temos o maior respeito por sua atuação, sua história e comportamento da suprema corte que honra o Brasil”, disse.

No mês seguinte, Kassio, indicado por Jair Bolsonaro (PL), tomou posse no lugar de Celso e herdou o acervo processual.

O vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, disse na denúncia que Otoni imputou, por cinco vezes, fatos afrontosos à reputação de Moraes e, por 19 vezes, ofendeu a dignidade e o decoro do ministro.

Segundo o Ministério Público Federal, o parlamentar empregou “violência moral e grave ameaça para coagir Moraes e, com isso, beneficiar a si e ao jornalista Oswaldo Eustáquio Filho“. Eustáquio também é alvo de investigações no Supremo e chegou a ser preso por ordem de Moraes.

“As expressões intimidatórias utilizadas pelo denunciado escapam à proteção da imunidade parlamentar e atiçam seus seguidores nas redes sociais, de cujo contingente humano já decorreram investidas físicas contra o Congresso e o próprio Supremo”, disse o representante da PGR.

Em agosto de 2021, o parlamentar e outros bolsonaristas, incluindo o cantor Sérgio Reis, foram alvos de mandados de busca e apreensão em meio a convocações para manifestações pró-Bolsonaro no feriado de 7 de Setembro. As medidas foram solicitadas pela PGR e autorizadas por Moraes.

O objetivo era apurar o “eventual cometimento do crime de incitar a população, através das redes sociais, a praticar atos violentos e ameaçadores contra a democracia, o Estado de Direito e suas Instituições, bem como contra os membros dos Poderes”.

Otoni foi o primeiro político formalmente acusado pela Procuradoria no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos. A acusação é similar à feita contra o também bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão, além do pagamento de multa e da perda dos direitos políticos. Silveira recebeu um indulto de Bolsonaro. O benefício foi derrubado em maio deste ano pelo STF.

Os dois casos, porém, seguiram ritmos bem distintos no tribunal. Entre o envio da denúncia (fevereiro de 2021) e o julgamento de Daniel Silveira (abril de 2022), sob a responsabilidade de Moraes, transcorreram 14 meses.

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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