Voltar à celebração puramente cívica dos anos de confirmação e aprofundamento do marco democrático da Nação fará bem a todos – inclusive aos que comungam dos mais equivocados ideais alimentados pelo bolsonarismo, mesmo que ainda não se apercebam dos benefícios. Infelizmente, no ano passado, justo na festa dedicada aos 200 anos da Independência, não houve o mínimo respeito à nacionalidade e à soberania unas e indivisíveis construídas a partir de 1822. O simbolismo do Sete de Setembro de 2022 perdeu-se em arroubos demagógicos.
Espera-se que neste ano e para sempre, não só em Brasília, como em cada Estado e município, as atitudes vexatórias e indignas de Bolsonaro na data maior da Nação não venham a se repetir. Por mais aviltantes que essas atitudes tenham sido, faz-se necessário recordar sua impostura no Sete de Setembro passado ao pedir votos, atacar seus adversários, criticar falsamente o sistema eleitoral e, para coroar a infâmia, fazer praça de sua potência sexual. Nunca antes um chefe de Estado e de governo desonrou e degradou a Nação como Bolsonaro naquele dia.
Há expectativas igualmente de comportamento pacífico, solidário e patriótico dos brasileiros durante as celebrações deste ano, de modo a completar a restauração da integridade do Sete de Setembro. Certamente, haverá manifestações públicas paralelas, como a do Grito dos Excluídos, que desde a década de 1990 congrega movimentos civis organizados em torno de demandas por justiça social. O que se espera é que não acirrem o conflito político latente. Não surpreenderá, entretanto, a presença de grupos de distintas facções político-ideológicas dispostas a reduzir o momento de congraçamento nacional por meio de gritos de guerra fratricida. Seria, porém, lamentável.
Honrar a Independência é direito de todo o cidadão, assim como o de celebrar a festa nacional conforme seu sentido mais profundo: o de invenção do que se chama comumente de brasilidade. Paz, harmonia, respeito, segurança e despolitização são requisitos mínimos a serem garantidos pelas três esferas de governo, em consonância com a Constituição, neste Sete de Setembro e nas demais datas cívicas. Depois de quatro anos de vergonha e afronta aos valores mais caros do País, o Brasil merece o resgate, no mais alto nível, de sua festa como Nação.