A EXTREMA DIREITA CATÓLICA E A TENTATIVA GOLPISTA DE 2023

By | 12/02/2024 7:02 am

(Prof. Romero Venâncio (UFS) – estudioso da extrema-direita católica)

É preciso que digamos em alto e bom som: desde 2013, essa mobilização nas redes digitais da extrema direita católica se encaminhou para posições de apoio antidemocráticas.

Apoiadora de Bolsonaro desde a primeira hora, esses católicos extremistas viviam (e vivem) militando nestas redes em favor de tudo que é de direita e reacionário. Passou a ser tarefa para qualquer católico de extrema direita: entrar num mundo paralelo, se deixar guiar por “teorias da conspiração” e reproduzir aos montes em suas redes ou nos grupos.

Esse “método”, articulado por Olavo de Carvalho e tendo como condutor dentro do catolicismo o Pe. Paulo Ricardo, frutificou.
Existe uma plataforma de estudo e militância que tem como objetivo manter viva os católicos de extrema direita dentro e fora da Igreja. Destacamos aqui os pontos mais relevantes desta plataforma formativa.

Parte-se de uma certeza que existe um grande projeto de infiltração na Igreja desde o “Concílio Vaticano II” (o livro do Taylor Marshall intitulado: “Infiltrados: a trama para destruir a Igreja a partir de dentro” – tornou-se a “bíblia” dessa gente), as conferências episcopais latino-americanas dos anos 60 e 70 (Medellín e Puebla, respectivamente), a Teologia da Libertação (ou o que acham entender!) e mais recentemente, o Papa Francisco e seus documentos públicos.

Tudo isso vem sendo combatido diuturnamente por youtubers ou grupos organizados nas redes digitais. São cursos, palestras, missas em latim, filmes, editoras…

Além de tudo, há um destaque: essa extrema direita leva a fio o caminho da “monetização”, através do ganho de dinheiro com sua militância extremista. Vários aproveitaram o momento e criaram verdadeiros negócios com esse discurso inflamado. A coisa não só ideológica, mas monetária também.

O golpe no governo Dilma Rousseff, a passagem de Temer pela presidência, a prisão de Lula e a eleição de Jair Bolsonaro foram fundamentais para os “negócios” dessa extrema direita católica.

O Centro Dom Bosco, Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, Dea e Tiba, Católicos de Verdade, Bernardo Kuster, Pe. Paulo Ricardo, Pe. José Eduardo, Pe. Wander de Jesus Maria, Frei Gilson/Irmã Kelly Patrícia, Rafael Tonon e a Comunidade Católica Pantokrator, apostolado glórias de Maria, sedevacantistas são apenas alguns personagens dessa tragédia…

Com o apoio de uma série de padres e alguns bispos, essa gente avançou consideravelmente dentro da Igreja Católica há duas décadas.

Durante a gestão Bolsonaro e família, a extrema direita católica estreitou seus laços com o governo e empenhou seu apoio todo o tempo aos discursos raivosos e cafajestes do ex-presidente.

Uma coisa é certa: o governo extremista e oportunista de Bolsonaro empoderou todos esses extremistas católicos nas redes digitais. Eles sentiam-se inatingíveis. Passaram a atacar padres e bispos progressistas, organizações como CIMI, CPT, CNBB foram sistematicamente agredidas (pode-se encontrar quase todos nestas redes). Foram para cima de militantes petistas e do PSOL com uma virulência nunca vista. Alimentaram fantasmas como “ideologia de gênero” (o Pe. José Eduardo foi pioneiro no acolhimento do termo no Brasil) e “ditadura gay”, tendo espalhado sistematicamente estas coisas.

Muitas dessas ideologias atingiram em cheio o clero brasileiro mais jovem. A fragilidade e o descaso com a formação do clero jovem no Brasil é um caso à parte e tornou refém uma geração importante de padres na atualidade. Os trabalhos de pesquisa sobre a formação do clero do Pe. Agenor Brighenti é uma boa referência para entendermos tudo isto.

Acreditar que com toda essa trajetória a extrema direita católica ficaria de fora da tentativa de golpe em janeiro de 2023 seria ingenuidade ou desinformação. Esses católicos extremistas participaram do janeiro macabro de 2023 como massa manobra, como “gado” mesmo e participaram da logística anterior.

O caso do Pe. José Eduardo, que neste dia 08 de fevereiro de 2023 tomou conta das redes digitais diante das informações da Polícia Federal, não deveria ser surpresa. O caso do Pe. da diocese de Osasco se torna mais grave. Ele participou como “cérebro da coisa” e utilizou todos seus conhecimentos “jurídicos”. Ele gosta de exibir seu currículo de estudos em Roma e seus títulos em termos jurídicos e bioética.

No mesmo dia, o Pe. José Eduardo apressou-se para “explicar” como seu nome aparece numa lista da Polícia Federal como um dos mentores da tentativa de golpe em 2023. Esse padre tem ligações internacionais com a extrema direita. O jornalista Leandro Demori (quando ainda trabalhava no The Intercept Brasil) havia escrito um texto jornalístico informando quem era este padre e como ele militava na direita católica em agosto de 2021.

No vídeo publicado pelo Pe. José Eduardo na quinta (9/2) com duração de 10 minutos o distinto não explicou nada. O ponto central de como ele participou de reuniões preparatórias para a tentativa de golpe em 2023, o padre em nada falou, tem documentos com a participação dele. Será investigado, inclusive. Sobre isto, nada disse. Afirmou a gororoba de sempre: professor de teologia moral, contra aborto e agradeceu a solidariedade de seus aliados. Ele tentou passar uma imagem de tranquilidade com aquele ar farsesco característico. Mas ele sabe que a coisa é grave e envolve uma questão constitucional.

É chegada a hora da Igreja Católica no Brasil se posicionar sobre estes graves acontecimentos por que passa o País. Em tempos passados de ditadura, a CNBB foi um importante farol para o povo brasileiro.

Esperamos que ele recobre a memória neste 2024 em que lembramos os 60 anos do golpe de 1964 e tome uma posição firme e coerente com sua trajetória.

(Encaminhada pelo Pe. Gervásio de Queiroga. É a verdade quebrando o silêncio)

Romero Venâncio é Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Sergipe (Departamento de Filosofia e Núcleo de Ciências da Religião). Atua em pesquisas sobre: Marx, Sartre, F. Fanon, Enrique Dussel e o pensamento Decolonial Latino Americano.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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