Enquanto articula golpes, a extrema direita inverte a realidade e acusa os adversários de ameaça à democracia, à liberdade de expressão e à oposição
A extrema direita, embolada com as redes sociais, elegeu Trump nos EUA, deu a vitória ao Brexit na Inglaterra, alavancou Jair Bolsonaro no Brasil, garantiu Javier Milei na Argentina e está por trás de partidos e movimentos radicais na Itália, Alemanha, Hungria, Polônia, na própria Espanha, com o Vox, e até no equilibrado Portugal, com o Chega. Há quem ache a extrema direita “uma ficção” e a força crescente da internet uma “bobagem”. Há controvérsias.
O presidente Lula avalia que nada disso é bobagem, ao contrário, é preocupante, e que o Brasil está no alvo. É o principal e mais rico País da América Latina, vive uma polarização insana entre a esquerda e a extrema direita e acaba de derrotar Jair Bolsonaro para trazer Lula de volta ao poder, como os EUA derrotaram Trump e elegeram o democrata Joe Biden.
A sequência não foi por acaso, nem por pura diversão: Elon Musk, do gigante X, atacou Alexandre de Moraes, o Supremo e a democracia brasileira; Milei encontrou-se com ele, fez juras de amor e endossou os seus ataques ao Brasil; ato contínuo, Israel Katz, chanceler do regime de Binyamin Netanyahu em Israel, deixou bem claro que Moraes foi só um pretexto, o verdadeiro alvo da extrema direita é o próprio Lula.
“Se alguém deveria ser bloqueado ou censurado no X deveria ser você, @Lulaoficial. Você tem o hábito de censurar e distorcer a verdade, então não é surpresa que esteja tentando censurar os outros”, escreveu Katz, engrossando os ataques e chamando a atenção da extrema direita internacional para o Brasil e Lula.
A extrema direita articula golpes de Estado e atentados contra resultados eleitorais, enquanto inverte a realidade e acusa os adversários de fazerem o que eles próprios fazem: ameaçar a democracia, a liberdade de expressão, a oposição, sem abandonar velhos slogans de extremistas ao longo da história, que Bolsonaro, por exemplo, usou e abusou nas duas campanhas presidenciais e nos quatro anos de mandato, de boca para fora: Deus, Pátria e Família.
Lula está atento. Sem holofotes, sem barulho, vem conversando com o francês Emmanuel Macron, o português Marcelo Rebelo de Sousa e o espanhol Pedro Sánchez, a quem defende ostensivamente dos ataques da extrema direita. Depois de uma forte resistência democrática no Brasil, que uniu da esquerda à direita contemporânea, é hora de articular a resistência internacional. A extrema direita está muito articulada e conta com uma arma poderosa, a internet. E o outro lado? Está dormindo no ponto?
É nesse contexto que Pepe Mujica, decisivo para transformar o Uruguai num oásis nas Américas e símbolo de líder político decente e justo, que defendeu liberdade, democracia, igualdade e diálogo a vida toda a vida, anunciou que, aos 88 anos, tem câncer de esôfago, com metástases. Que falta fazem os Mujica, ainda mais nesses tempos assustadores.