Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 23/12//2024.
Temos um terreno na Malhada de Pedra, na margem direita do Rio da Cruz, com cerca de vinte hectares. O baixio todo talvez tenha pouco mais de uma tarefa (2500 metros quadrados). Mas este baixio, plantado de capim, cana e sorgo me permitu sustentar trinta reses, na seca de 1993. Tinha água abundante e energia barata.
Na margem esquerda, de outro lado do meu terreno, e meu primo-irmão Luiz Laíres (Luiz Paca) comprou um terreno , um pouco pouco antes de mim. O terreno de Luiz tem um baixio maior e melhor do que o meu e tinha, na época, uma vantagem que o meu não tinha. O dele fazia parte do Projeto de Irrigação de Capoeira, criado pelo Governo do Estado, que dotara os terrenos de um sistema completo de irrigação utilizando a água da Barragem de Capoeira. Os participanters do projet0 eram vinculados a uma associação que ficava a uns dois quilômetros do meu, através da qual os irrigantes iniciais recebiam financiamento do Governo do Estado.
Infelizmente a maioria dos participantes do projeto não estava preparada para tocar a atividade, hoje restrito a pequenos plantios de capim. Pouquíssimos dos participantes iniciais do projeto continuam por lá. Com o abandono do projeto, o Governo passou a utilizar a Barragem de Capoeiras como reserva para o abastecimento dágua da cidade de Patos e para o abastecimento total da cidades de Santa Terezinha e São José do Bonfim, além, claro, para uso dos ribeirinhos. A maioria deles adquirentes posteriores de propriedades nas margens do Rio da Cruz, entre eles eu e os primos-irmãos Luiz Paca e Pedro Neto. Alguns só utilizam as propriedades para fazerem agricultura de subsistência, enquanto outros plantamos frutas (mangas, laranjas, limões, cajus e acerolas) e verduras. Se o projeto tivesse ido adiante, poderia abastecer Patos e cidades vizinhas com hortifrutis.
Infelizmente, os poucos que insistem e continuam a produzir na região, além das populações das duas cidades estamos sendo ameaçados agora pelo descaso com que tratam a barragem de Capoeiras. Com a construção da adutora Coremas-Sabugy, Patos deixou de depender tanto de Capoeiras, embora esta continue como reserva em caso de um problema na adutora que traz água de Coremas..
Com Capoeiras com menos de quinze por cento de sua capacidade, o que será de nós, se o inverno de 2025 demorar a pegar ou se não chover o suficiente para recuperar um volume razoável?
Não sabemos mais a quem apelar. E não sabemos também quem é o responsável pelo desperdício dágua que está acontecendo. A forma ideal de manter a reserva e ao mesmo tempo garantir o abastecimento das duas cidades e o lençol freático do rio da Cruz, para utilização dos riberirnhos, no seu próprio abastecimento e dos seus animais, além das pequenas agriculturas, fruticulturas e horticulturas, é liberar água períodicamente pelo tempo suficiente para reabastecer o lençol freático.
Com as comportas abertas desemfreadamente, devem estar sendo beneficiados grandes fazendeiros e grandes plantadores de frutas e verduras, quem sabe até enchendo grandes reservatórios, enquanto ameaçam até o abastecimento da populaçãp dos dois muncípios e os ribeirinhos. Só pode estar rolando propina gorda por aí. Um dia a gente descobre quem paga e quem recebe. E teremos todo prazer em divulgar. Podem alegar que a água do rio é pública, mas não a ponto de prejudicar milhares de pessoas para quem é essencial para sua sobrevivência.