Onde estão os nossos vizinhos

By | 24/12/2024 3:28 pm

Ouça o áudio

(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 24/12//2024

Esta véspera de Natal me deu uma tristeza pela falta cada vez maior de um componente das antigas festas de Natal. Além dos parentes, sempre tinhamos a presença dos vizinhos na confraternização em que se transformam as festas de Natal e de Ano Novo. Na cidade grande dificilmente temos vizinhos. Temos o que um amigo meu chamava de “mora perto”.

Aquela solidariedade que tínhamos no interior não temos mais nas cidades grandes e está desaparecendo também nas cidades do interior. Os vizinhos eram solidários nas alegrias e nas tristezas, Nas doenças vinham nos visitar e ajudar no possível. Chegavam a passar noites, quando um de nós estava “pelas últimas”. Logo quando casei,  morei uns quatro anos na rua Bossuet Wanderley, tinhamos umas vizinhas, duas solteironas, Chiquinha e Almira Lúcio, que se ofereciam para ficar com Liana, quando precisávam os, eu e minha esposa ir a um médico ou qualquer outra obrigação que não podiamos levar o nosso bebê.

Uns trinta anos atrás, comemorávamos as festas de fim de ano, com minha sogra Maria Nóbrega, e na passagem de final de ano, os primeiros abraços que dávamos eram em nossa vizinha Mariquinha,  em seu Antônio Lima e dona Senhora, em Nivaldo e Madazinha, em “seu” Manoel da Gasolina e Elvira, Dona Neguinha e Fátima sua filha. Eram antigos vizinhos que se tornavam quase parentes, na alegria e na tristeza.

Outro dia, conversando com um motorista de Uber, como sempre faço, ele me disse que nascera em João Pessoa, mas a familia era do interior, de Alagoa Grande, mas ele ia frequentemente visitar os amigos da família, coisa cada vez mais dificil na cidade grande.

Da última vez que fui a Patos, procurei por uma amiga minha e disseram que ela estava na casa da vizinha pois a dona da casa, já de idade, estava sozinha, pois as filhas haviam viajado e ela ia sempre lá bater um papo. Papo que ainda a gente ver nas cidades do interior, quando os vizinhos se juntam na calçada para trocar informações sobre os acontecimentos do dia. Na cidade grande, não existe mais isto. Raramente a gente encontra um conhecido, por acaso, num consultório médico, num supermercado, num banco.

Esta falta de vizinhos e de amigos é que tem transformado as pessoas. Praticamente não existem vizinhos, hoje simples “mora perto” e a maioria dos amigos só se aproximam de nós por interesse. Não existe mais aquele amigo do provérbio latino “amicus certus in re incerta cernitur”. O amigo certo se conhece na hora da precisão.

É por isso que sinto tanta falta de morar no interior. A gente ainda tem alguns poucos amigos e ainda tem vizinhos. E alguns parentes. Uns muitos, outros algums poucos. Mas o corre-corre do dia-a-dia termina nos seperando e às passamos dias e até meses sem vê-los. Nós temos hoje a  tecnologia para facilitar a comunicação. Tenho contato quase diário, por áudio e vídeo, com um filho que mora na Alemanha, mas a tecnologia termina nos privando do calor humano. Ainda bem que meu neto mais novo vai lá em casa de vez em quando, já que os pais moram relativamente perto. Mas os outros sete netos estão na sua maioria separados ou já cuidando da vida.

Nós precisamos do calor humano, precisamos da solidariedade, precisamos usar menos o celular e conversarmos mais uns com os outros pessoalmente, sejamos parentes, amigos ou vizinhos. As vezes na mesma casa, ficamos mais presos na tecnologia do que no contato pessoal.

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *