Cunha terá de ‘cuspir sangue’ para se tornar delator

By | 22/10/2016 10:38 pm

 

(Veja comentário no final)

Menos de uma hora depois da prisão de Eduardo Cunha, um general da Lava Jato definiu o clima na capital. “Os estoques de Rivotril em Brasília vão desaparecer das gôndolas das farmácias.”

A referência ao ansiolítico e a ironia com políticos poderosos tem razão de ser.

Tão logo a prisão preventiva do ex-presidente da Câmara foi anunciada, Brasília entrou em verdadeira ebulição.

Ministros, auxiliares do governo e, em especial, deputados federais ficaram atônitos.

O temor da delação premiada de um dos mais influentes parlamentares da história do Congresso tomou conta de muita gente.

Eduardo Cunha é um arquivo privilegiado sobre os usos e costumes da política brasileira. Financiou campanhas de colegas, fez favores e ergueu a sua própria bancada. Por isso tanto calafrio.

Apesar de tamanho nervosismo, sabe-se que uma ala da Lava Jato nunca caiu de amores pela ideia de vê-lo celebrando uma delação.

Não muito tempo atrás, procuradores da operação chegaram a recorrer a um dito popular para fazer o seguinte paralelo: um acordo assim equivaleria a fazer um “pacto com o diabo”.

Em outras palavras, a contar pelo humor de parte do Ministério Público Federal, o peemedebista terá de “cuspir sangue” -expressão usada por um dos investigadores- se quiser virar delator.

Sofrerá mais, “muito mais do que a Odebrecht”, para ter direito ao benefício, garante um general da força-tarefa.

Apesar das dificuldades, ninguém que esteve com Eduardo Cunha ao longo dos últimos anos pode se dar ao luxo de respirar aliviado.

A Lava Jato não é um ser uno. Tem lá suas divisões internas e diferentes esferas de comando.

Eis um exemplo disso: se a Procuradoria-Geral da República, eventualmente, não se interessar pelo caso, nada garante que Curitiba siga os mesmos passos.

E se o Ministério Público por ventura não o quiser como colaborador da Justiça, nada impede que a Polícia Federal resolva fechar um acordo sozinha. Por isso, a história de Cunha na Lava Jato só começa, de fato, agora.

E mesmo que seus algozes não queiram trocar acusações por redução de pena, o deputado cassado ainda pode abrir a boca. Tem, aliás, um livro inteiro com muita história cabeluda para contar.

Afinal, o ex-presidente da Câmara e personagem central da política na última década não faz o tipo heroico. Não irá para a forca sozinho.

(Deu na Folha)

Comentário do programaOs “meninos” da Lava-jato não são bobos. Vão tentar extrair de Eduardo Cunha tudo o que ele souber da “podridão” de Brasília. E, cheio de ressentimento, Eduardo Cunha deverá facilitar as coisas para eles, ao mesmo tempo que vai tentar conseguir o menor tempo de prisão possível. Vai ser uma “queda de braço” entre investigadores e investigados, mas talvez os investigadores não precisem mais da delação de ninguém depois que “sugarem” Eduardo Cunha. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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