O bonde da alegria dos partidos no Senado e o silêncio do Planalto (seguida de comentário nosso)

By | 22/09/2019 10:42 am

 

 

(Robson Bonin, no Radar da Veja)

 

As mudanças eleitorais em análise no Senado podem varrer do mapa todo o legado produzido pela Lava-Jato nos últimos anos. A avaliação vem dos próprios investigadores, que acompanham o movimento em curso no Senado nesta terça.

 

Numa tacada só, os partidos, sob o silêncio do governo de Jair Bolsonaro e o apoio de seus aliados – eleitos com o discurso da nova política –, querem:

1 – Ampliar a verba bilionária disponível nos cofres públicos para bancar campanhas;

2 – Autorizar os caciques partidários a gastar o dinheiro público com compra de imóveis e construção de sedes;

3 – Autorizar os caciques a pagar com dinheiro público os advogados dos políticos flagrados cometendo irregularidades na eleição

4 – Querem tirar do Tribunal Superior Eleitoral o controle sobre prestação de contas e ainda eliminar qualquer barreira sobre malandragens eventualmente identificadas pela Justiça. Pelo texto, o partido só será punido por mal-uso do dinheiro público se a Justiça Eleitoral provar que a irregularidade foi cometida dolosamente;

5 – Limita o desconto do fundo partidário para pagamento de multas aplicadas ao partido por irregularidades de campanha.

 

Se já estivesse em vigor no período da Lava-Jato, a lei permitiria o impensável. O PT, acusado de desviar bilhões de Petrobras, poderia bancar com dinheiro público, por exemplo, os advogados de defesa de Lula, José Dirceu, João Vaccari e tantos outros acusados de lavar a propina de obras na forma de doações eleitorais oficiais e via caixa dois.

 

Quem acompanhou a gestação da farra dos partidos — abortada pelo Senado aos 45 minutos do segundo tempo (leia mais em Bonde da alegria) –, diz que o trecho que autorizava as siglas a gastar com compra de imóveis e construção de sedes partidárias foi pensada pelo centrão da Câmara.

 

A turma queria permitir que os caciques construíssem megaestruturas partidárias fora de Brasília. Hoje, a Justiça Eleitoral dificulta a vida de coronéis que tentam usar o fundo para esse fim nos estados.

 

O plenário da Câmara concluiu, na noite desta quarta-feira 18, a votação do projeto que altera regras para os partidos e eleições. Os deputados conseguiram manter a espinha dorsal da medida articulada pela Casa e retomaram pontos da proposta original, mesmo após as mudanças realizadas no Senado na noite anterior. O texto vai agora à sanção presidencial.

 

Por fim, a medida manteve a maior parte das benesses aos partidos. Havia pressa para a aprovação do projeto entre as lideranças da Câmara, porque para que as novas regras possam valer para as eleições municipais no ano que vem, a lei tem de ser publicada no máximo um ano antes de 4 de outubro de 2020.

 

Entre os pontos mais polêmicos  estão a autorização para usar recursos públicos para construção de sede partidária e a anistia a multas eleitorais, além da volta do tempo de propaganda partidária em rádio e TV. Além disso, o texto abre brecha para aumentar o valor destinado ao fundo eleitoral, principal fonte de recursos para as campanhas, trecho que foi mantido pelo Senado também.

 

Comentário nosso – Com menor número de bandidos, o Senado parecia que tinha barrado o trem de alegria aprovado  na  Câmara para gasto dos partidos nas campanhas eleitorais. Mas, apesar das emendas feitas pelos senadores, os bandidos da Câmara aprovaram praticamente tudo o que haviam aprovado anteriormente. Resultado: estamos dependendo agora de Bolsonaro para vetar o projeto que mesmo assim pode ter o veto derrubado pelo Congresso. Como também tem bandido no time de Bolsonaro, pouco se pode esperar. Ou seja, enquanto falta dinheiro para a Saúde, para a Educação e para quanta coisa essencial para a população, o Congresso aprova uma farra com o dinheiro público. Gastar dinheiro público com eleições até se justificaria se fossem valores mais reduzidos e terminassem sendo eleitas pessoas com o mínimo de decência. O pior é gastar dinheiro que vai fazer falta para benefícios para a população e obter como resultado outro bando de picaretas, nas câmaras, prefeituras, governos federal e estadual, assembleias e Congresso. E o pior é que o goleiro Bolsonaro vai abrir as pernas e permitir que o Congresso faça um “gol de frango”. Ou que me perdoem os frangos. Um gol de ladrão.  (LGLM)

 

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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