STF: Ministros estudam adiantar voto sobre Silveira se Mendonça pedir vista

By | 19/04/2022 2:34 pm

(Paulo Roberto Netto, Colaboração para o UOL, de Brasília, 19/04/2022)

O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) na tribuna da Câmara dos Deputados - Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados - Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados

O deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) na tribuna da Câmara dos Deputados

Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) estudam a possibilidade de antecipar seus votos caso André Mendonça peça vistas e suspenda o julgamento da ação penal contra o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), marcado para esta quarta-feira (20). O movimento tem o condão de isolar o ministro, que enfrenta seu maior teste de fogo dentro da Corte.

Como mostrou o UOL, a condenação de Daniel Silveira por ameaças ao STF é dada como certa dentro do tribunal. A maioria dos ministros tende a acompanhar o relator, Alexandre de Moraes, que será o primeiro a votar e fará um duro voto pela condenação do parlamentar.

Nunes Marques vota logo após Moraes. Apesar de também ter sido indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), é considerado improvável que peça vista, uma vez que já está familiarizado com o caso por ser o revisor da ação penal.

Mendonça se tornou então a principal aposta entre bolsonaristas para a suspensão do julgamento. Junto com Nunes Marques, ele divergiu de Moraes na decisão que impõe medidas contra o parlamentar. Se Mendonça pedir vista, os demais do STF trabalham com a possibilidade de antecipar seus votos, chegando, no limite, a formar maioria pela condenação.

A manobra geralmente é acionada quando os ministros querem resolver logo um tema ou marcar uma posição sobre determinado caso. Internamente, os magistrados acreditam que a condenação de Daniel Silveira passará o recado de que a Corte não aceitará atos antidemocráticos e ameaças contra seus integrantes.

Caso antecipem seus votos, a medida teria um efeito mais simbólico que prático — demonstraria a unidade do STF em condenar as ameaças de Daniel Silveira, fortaleceria a posição de Alexandre de Moraes e minimizaria o pedido de vista de Mendonça, que ficaria isolado e teria que arcar, sozinho, com o ônus de segurar o processo.

Daniel Silveira, porém, ficaria livre para conduzir sua campanha eleitoral. O deputado só será considerado culpado quando o julgamento for concluído com o voto de Mendonça, mesmo que a maioria dos ministros antecipem seus votos para condená-lo caso ocorra um pedido de vista.

O parlamentar tem apoio de Bolsonaro, que disse que a prisão do deputado por ameaçar ministros do STF “doeu no coração”. Em março, quando Silveira se recusou a usar a tornozeleira eletrônica imposta por Moraes, o presidente criticou o STF e disse que não poderia aceitar “o que vem acontecendo passivamente”.

“É muito fácil falar ‘Daniel Silveira, cuida da tua vida. Não vou falar isso”, disse o presidente.

Mendonça travou pauta verde e monitoramento de jornalistas

Desde que assumiu a cadeira, Mendonça pediu vista em pouco mais de 20 processos, segundo as estatísticas do STF. A maior parte deles envolve ações contra leis estaduais, questões tributárias e recursos em habeas corpus.

Dois pedidos de vista, porém, travaram discussões de interesse do governo. O último foi durante o julgamento de dois processos da chamada “pauta verde”, conjunto de sete ações que discutem omissões do governo Bolsonaro na preservação e combate ao desmatamento na Amazônia.

Mendonça suspendeu a votação logo após Cármen Lúcia proferir um duro voto para obrigar o governo a elaborar um plano de redução do desmate da floresta.

O ministro já havia dito a interlocutores que relata duas ações de temas similares e, por isso, pediria vista até concluir a instrução dos processos que estão em seu gabinete. Ele reforçou a justificativa no plenário.

Em fevereiro, Mendonça também suspendeu o julgamento de uma ação sob relatoria da ministra Cármen Lúcia que proibia o governo de elaborar relatórios de monitoramento de jornalistas e influenciadores. O caso foi revelado pelo jornalista Rubens Valente, no UOL, e pela revista Época em 2020. Na ocasião, Mendonça era o ministro da Justiça do governo Bolsonaro.

Como era um julgamento no plenário virtual, o ministro não precisou dar uma justificativa. Procurado, o gabinete disse que Mendonça pediu vista para ter mais tempo de analisar o caso.

Pedido de vista permite candidatura de Daniel Silveira

O pedido de vista se tornou a principal incógnita do julgamento devido ao reflexo direto que poderia ter na campanha eleitoral de Daniel Silveira. O deputado quer disputar o Senado neste ano, mas se for condenado pelo STF será enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ficará inelegível.

Segundo especialistas em direito eleitoral consultados pelo UOL, Daniel Silveira teria grandes dificuldades em disputar as eleições caso seja condenado. O deputado poderia registrar sua candidatura, mas ela possivelmente seria impugnada no TSE.

Mesmo que Daniel Silveira ainda pudesse recorrer ao próprio STF, para questionar a sua condenação, o recurso não teria o efeito de reverter a impugnação pela Lei da Ficha Limpa, mas somente esclarecer pontos dos votos dos ministros.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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