Congresso promulga PEC da Gastança, e governo eleito ganha fôlego para negociar nova âncora fiscal

By | 22/12/2022 7:36 am

Texto viabiliza Bolsa Família de R$ 600 e facilita caminho para futuro governo rever teto de gastos

(Cézar Feitoza, João Gabriel e Thiago Resende, no Estadão, em 21/12/2022)

O Congresso concluiu nesta quarta-feira (21) a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Gastança, que expande o teto de gastos por um ano para o cumprimento de promessas do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além de aliviar a pressão sobre o Orçamento, o texto facilita o caminho para Lula rever o teto de gastos, criticado por ele e pelo PT.

Lula (esq.), Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (dir.) durante evento em Brasília
Lula (esq.), Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (dir.) durante evento em Brasília – Ueslei Marcelino – 12.dez.2022/Reuters

Um dispositivo permite que o novo governo lance um novo arcabouço fiscal por meio de projeto de lei complementar, cuja aprovação é mais simples —precisa de menos votos que uma PEC (como foi aprovado o teto de gastos).

A PEC da Gastança amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões no próximo ano. O texto ainda autoriza R$ 23 bilhões em investimentos fora da regra fiscal —o valor se refere ao excesso de arrecadação que o governo teve no ano anterior.

Com o espaço no teto, o governo eleito pretende pagar os R$ 600 do Bolsa Família mais R$ 150 para cada família com crianças de até seis anos.

A votação da PEC na Câmara começou na terça-feira (20), após acerto entre deputados e aliados de Lula, com a votação em primeiro turno. Nesta quarta, foi feito o segundo turno, e a proposta foi aprovada por 331 a 163. Eram necessários, no mínimo, 308 votos favoráveis. Nenhum destaque (sugestão de mudança pontual no texto) foi aprovado.

O texto teve que ser reanalisado ainda nesta quarta pelo Senado, já que ele foi alterado pelos deputados —foi desidratado, com a validade reduzida de dois anos para um.

Lá, ele foi aprovado novamente, agora por 66 votos a 11 no primeiro turno e 63 a 11 no segundo —eram necessários 49. Ainda foi derrubado um destaque que pretendia alterar a redistribuição de emendas de relator —que foram declaradas inconstitucionais pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na segunda-feira (19).

Logo após a sessão do Senado, o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) convocou o Congresso Nacional para promulgar a proposta, o que aconteceu ainda na noite da quarta —assim, o Orçamento será debatido nesta quinta-feira (21) já com o texto da PEC publicado no Diário Oficial. Não estavam presentes o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ou representantes da equipe de transição de governo.A conclusão foi viabilizada após Lira conseguir um acordo com o Republicanos para evitar uma nova desidratação da PEC.

Um destaque apresentado pelo Novo buscava retirar a possibilidade de o governo eleito apresentar, até o fim de agosto de 2023, uma proposta de nova âncora fiscal que substituísse o teto de gastos por um projeto de lei complementar.

Partidos como PSDB e Cidadania, que haviam apoiado a PEC, foram favoráveis ao destaque. O argumento central é que o dispositivo fragiliza o processo de escolha de âncoras fiscais e facilita para o futuro governo petista se desfazer do teto de gastos.

Para evitar o revés, Lira suspendeu a sessão da Câmara na terça-feira (20) após a votação do texto em primeiro turno e iniciou uma negociação para que o Republicanos, contrário à PEC no primeiro turno, não apoiasse o destaque.

Auxiliares de Lula então retomaram a articulação com o partido. O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), foi procurado pelo deputado José Guimarães (PT-CE), pelo senador Jaques Wagner (PT-BA) e pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O partido reclamou da falta de diálogo com representantes do presidente eleito, que negocia espaço no novo governo com outras siglas. O plano é ampliar a articulação com o Republicanos, deixando a porta aberta para que, no futuro, a legenda possa deixar de ser independente e passar a ser base de Lula.

Na votação pelo destaque, 40 parlamentares da sigla foram contra o destaque do Novo, que acabou derrubado por 366 a 130.

Portanto, foi mantido o dispositivo que prevê que o Executivo irá enviar uma nova proposta de regra fiscal até 31 de agosto de 2023. Quando aprovada essa nova regra (por projeto de lei complementar), será revogado da Constituição o teto atual.

A leitura feita pela equipe de Lula é que a inclusão do instrumento reforçaria o compromisso do novo governo com a reformulação do arcabouço fiscal.

O relator do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), ainda deve recompor programas como o Farmácia Popular e o Minha Casa, Minha Vida e reajustar o salário mínimo acima da inflação.

Em um desenho inicial feito pelo relator, o aumento do teto de gastos servirá para distribuir recursos para os orçamentos do Ministério da Saúde (R$ 22,7 bilhões), Desenvolvimento Regional (R$ 18,8 bilhões), Infraestrutura (R$ 12,2 bilhões) e Educação (R$ 10,8 bilhões), entre outros.

Por acordo entre líderes partidários, a Câmara desidratou a PEC da Gastança. Inicialmente, o governo tinha interesse em manter o aumento do teto de gastos autorizado por, no mínimo, quatro anos.

O Senado reduziu a validade da medida para dois anos. Na Câmara, o prazo foi enxugado ainda mais, para um ano.

Pelos termos do acordo, que deve ser mantido pelo Senado, o Congresso irá distribuir os R$ 19,5 bilhões previstos para as emendas de relator em 2023 da seguinte forma: metade fica sob o controle dos parlamentares, engordando as emendas individuais, e a outra metade voltará para o Executivo, repartindo o montante entre os ministérios.

Apesar da distribuição, lideranças do centrão afirmaram à Folha, sob reserva, que os recursos que voltarão aos ministérios devem ser utilizados como moeda para negociações políticas.

Assim, a cúpula do Congresso conseguirá manter alguma influência sobre parte do valor realocado em articulação com os ministérios do governo eleito.

Ao longo de sua tramitação, a PEC da Gastança provocou reação negativa no mercado financeiro, com alta no dólar e nos juros futuros, sob o temor de um aumento exagerado nos gastos públicos.
A desidratação do texto, na terça, foi bem recebida pelos investidores.O dólar, que já tivera forte queda na terça, fechou esta quarta a R$ 5,20.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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