Um pouco da história da imprensa falada de Patos, segundo Damião Lucena

By | 19/05/2023 12:01 pm

(Damião Lucena, jornalista e historiador, no Capítulo IX, do livro Patos de todos os tempos*)

Imprensa Falada

Tudo começou na terceira década do século XX, com a instalação do serviço de som pertencente a Sinfrônio Azevedo, no sobrado de Major Tobias, na rua Miguel Sátyro, centro de Patos. O seu funcionamento era o mais improvisado possível, com poucos recursos técnicos, constituindo o único meio do gênero. Uma de suas grandes atrações era Auzira Nicácio, interpretando Izis e outro destaque foi a passagem de Hilton Mota, que chegaria a ser um nome do Rádio Nacional, ocupando, inclusive, a Superintendência dos Diários Associados do Nordeste.

Sinfrônio era gordo e barrigudo, o que lhe rendeu o apelido de “Bolo Cru”, alcunha que o tirava do sério. Conhecido pela língua ferina, não poupava político, autoridade ou qualquer pessoa que se achava no direito de criticar. Há quem diga que a língua virulenta foi a sua perdição. Depois do jantar, costumava se sentar em frente à sua residência. Um dia veio alguém e o assassinou. O crime entrou no rol das autorias misteriosas, apenas sendo atribuído a um impune e célebre policial que chegou ao oficialato. Duas teses são cogitadas: por encomenda ou vingança. Na época do fato, a estrutura já havia sido adquirida pelo senhor Manuel Cabral da Nóbrega (Mané Lino), cujo negócio fora fechado em 1938, e passou a ser denominada de “A Voz das Espinharas”, com 18 alto-falantes espalhados pelos principais pontos da cidade, mudando a sua sede para outro prédio localizado na mesma artéria, pertencente ao Dr. Basílio Serrano, contíguo à Livraria Minerva, de seu Zé Soares. Mesmo sem um grau elevado de estudo, o segundo proprietário da Difusora era uma espécie de intelectual formado na escola da vida, com uma enorme bagagem de conhecimento e criatividade, dando um impulso considerável ao referido meio de comunicação. Natural de Patos, filho de Josias Álvares da Nóbrega e Maria das Dores Cabral, Mané Lino viveu parte de sua juventude entre a Bahia e o Estado de São Paulo, regressando à terra natal em 1936.

A programação diária tinha início às 18h, às 19h retransmitia a “Voz do Brasil” e não havia tempo determinado para a sua conclusão, já que enquanto existisse cartão sonoro para ser divulgado o equipamento permanecia no ar. Também entrava em cadeia com a BBC de Londres, principalmente durante a II Guerra Mundial. Além das mensagens dos enamorados, constavam espaços jornalísticos e aos domingos um programa de auditório, com a participação de calouros, sempre mantendo a rivalidade de dois grupos musicais: “Micelânia Sonora” e “Trio Sucesso”. Mané Lino era político por natureza, bastante ligado ao PSD, no entanto nunca chegou a ser prestigiado pelo seu partido, ao ponto de não ter conseguido autorização para disputar uma vaga de vereador, o que lhe provocou grande mágoa. Durante toda a década de 40, “A Voz das Espinharas” reinou absoluta e só encerraria suas atividades pouco depois do falecimento de seu dono, em 09 de setembro de 1966, vítima de um Infarto. Sobre a influência de Mané Limo, escreveu o saudoso Gabriel Luiz Gomes (Gabi do Fumo Dubom): “Os grandes cantores de Patos em épocas passadas, sorveram de alguma forma, a música veiculada no tempo de Mané Lino pela sua emissora. Impossível esquecer as vozes de Zé Caunha (o cantor que tem uma lágrima na voz), João Marrinha, Arnaldo Diniz (o ditador da moda), Luiz Oliveira, Basto Oliveira, Pedro Sales, Geraldo Andrade, Galego da Beó, Neli Lima, Totó, Jarbas de Severino de Dr. Pedro, Ely Araújo (a voz de ouro ABC), Vavá Brandão (comandando ainda o conjunto vocal Demônios Tropicais), Hélio Leite (Frei Mulambo), Dé Jurema, Maria do Carmo Ramos, Ivone de Sousa e tantos outros valores mais recentes, paralelamente influenciados pela coirmã, mas com status de rádio emissora, a “Rádio Espinharas de Patos”, operando em nossas mentes 1.475 khz. Os sons dos violões de Antônio Moreno, Severino e José Gomes, Antônio Emiliano (Pinta Cega) e Dôca Canhoto, embalados pela manóla de Bideca, o bandolim de Humberto e o banjo de Mané Marceneiro. Os pandeiros de Valdemar, Vavá Brandão e Ziro de Pitéu, os saxes de Hermes Brandão e Raminho, o inconfundível clarinete de Zizi. Os trombones de Cornélio Calazans e Edson Morais, os pistões de Ernani Lucena e Dedé Gomes e tantos outros que construíram momentos musicais incríveis, inspirados em acordes transmitidos pelo acompanhamento de Rago, Canhoto, Fonfon, K-ximbinho, Pixinguinha, Lupércio Miranda e tantos outros feras que participavam das gravações de 78 r.p.m., difundidos em sua arte pela (Voz das Espinharas), nas vielas, ruas e avenidas de Patos. Quantos profissionais de renome não foram calouros e calouras de seus programas de auditório, meninos ainda, tremiam sob o comando implacável de Hilton Mota, Crispim Pessoa, Ferreira Filho, Ramalho Filho, José Marques (Pantera), Joãozinho Francisco, Ari Rodrigues, Luiz Pereira, Valdevino (da Esquina da Vida), Batista Leitão, Oscar Macarrão (Xavier), etc. Permanece em nossos ouvidos os aplausos e/ou apupos da galera para Landim Honório, João Redondo, Carminha Campos, Luzia Machado, Nita Moura, Miguel Imperiano (Balalaika), Toinho Palmeira, Mário Moura, Nêgo Passo, Sacolão, Casa Véia, professor Lino, “Totinha” de João Francisco, Gabi, etc. A música outrora vinculada na Difusora de Mané Lino, mesclava choros, valsas, sambas e canções com seus intérpretes originais. Agora é fechar os olhos e nos imaginar nas sorveterias: Quitandinha – do seu Xirú, Iracema – de seu Liberato (pai de Vicente Pinguelão) ou mesmo nas barbearias de Antônio Melquíades (Salão Elite), de seu Daniel ou de seu João da Cruz (qué áico, táico ô qué qui mui) a ouvir o som de um invisível sonofletor postado da distribuidora Azteca em singular frontão da “rua grande” de Patos (confluência da Felizardo Leite com a Av. Solon de Lucena)”.

Buscando uma das mais antigas e consistentes formas de pesquisa, adentramos na memória do saudoso Batista Leitão para encontrar os principais pontos formadores da história da comunicação falada em Patos. Desde muito cedo, ele se interessou pelo setor de comunicação e em 1950 costumava acompanhar João Francisco até a Difusora de Mané Lino, onde o amigo era uma espécie de colaborador. Todas as noites, após uma grande jornada de trabalho, já que era o responsável pelo sustento da família por conta da morte do pai, Batista se dirigia ao Sobrado de Major Tobias, onde funcionavam os estúdios e a princípio era uma espécie de colaborador, chegando, mais tarde, a assumir a função de locutor, o que o levaria ao auge do rádio da cidade de Patos. Relembrava um dos momentos mais difíceis de sua vida: “O time de Piancó veio jogar em Patos com o Botafogo do velho Inocêncio Oliveira. O visitante ficou hospedado no Hotel 7 de Setembro, que se situava na rua da Feira das Frutas, por trás da Igreja da Conceição. O jogo foi realizado no Campo do Estrela e a equipe local venceu por 6 x 0. Após o jogo a Difusora de Mané Lino estava tocando: “Esse jogo não pode ser 1 a 1…” quando um jogador da equipe perdedora subiu à escadaria de madeira que dava acesso à difusora com uma grande faca na mão. Valdim de Misael, que se encontrava no controle pulou lá de cima, por uma pequena janela, enquanto o enfurecido jogador partia para mim, que era o locutor do horário para tomar satisfação, inclusive passando a folha da peixeira na minha garganta. A sorte que Valdim no aperreio não teve tempo de fechar o microfone e o povo na rua ouvindo todas as ameaças, correu em meu socorro”.

Outro fato narrado por Batista Leitão, que o classificou como um dos momentos mais importantes de sua vida de comunicador foi quando em 1950, Assis Chateaubriand, pleiteando uma cadeira do Senado, trouxe a Patos a televisão para registrar o seu comício, que aconteceu na praça João Pessoa, onde foram instalados em seus quatro cantos as telas que transmitiam ao vivo o desenrolar do evento. O povo vibrava quando do aparecimento das figuras irreverentes. A Voz das Espinharas cobriu o acontecimento, com a narração e apresentação dos candidatos, confiadas a Hilton Mota.

Como fato pitoresco, costumava citar a vingança de João de Mané Lino, por ter sido repreendido pelo pai, por sua reprovação no Colégio Diocesano e a punição de ir trabalhar na Difusora. Insatisfeito com a missão e aproveitando-se do slogan da empresa de comunicação, arrematou: “A Voz das Espinharas, com 22 alto falantes, instalados nos principais pontos da cidade. Um que fala e vinte e um que cochicha…”.

A cidade de Patos ainda teria algumas experiências semelhantes, tradicionais em épocas distintas, a exemplo da Difusora de Ferreira Filho; “Cruzeiro do Sul” de Otacílio Monteiro e “A Voz do Comércio” de Patrissom.

A primeira emissora de Rádio da Capital do Sertão chegou pelas mãos de políticos e objetivava propiciar espaços eleitorais pelo seu poder de alcance. A Rádio Espinharas, ZYZ-6, operando em 1.470 KLc (mais tarde KHz), foi inaugurada no ano de 1950, depois da fase experimental que começou em julho de 1949, com uma pré-inauguração em setembro, trazida pelas mãos do ministro Pereira Lira, homem bastante influente no Governo Dutra, que disputava a eleição de senador, concorrendo com Ruy Carneiro. Na mesma época ele conseguiu as emissoras: Arapuan de João Pessoa e Caturité de Campina Grande. A montagem ficou a cargo de Teófilo de Vasconcelos e o primeiro teste de voz foi feito pelo então deputado Ernani Sátyro, momento em que divulgava o seu slogan: “Patos falando mais alto, para mais longe”. Tal registro se deu às 16h15, do dia 1º de agosto. A direção artística foi confiada ao Dr. Manuel Quinídio Sobral, enquanto a gerência administrativa e financeira ficou a critério do Dr. Chico Soares. Também figuravam como colaboradores: Dr. Dionísio da Costa (diretor de programação), Milton Gomes Vieira (diretor gerente), o técnico Joaquim Araújo de Melo (sob a supervisão do Dr. Bergalo da “Bawon”) e supervisão geral de Teófilo Vasconcelos (que escrevia matérias para a Revista Cruzeiro). O estúdio foi instalado na rua Rui Barbosa, em um velho armazém pertencente ao prefeito Clóvis Sátyro. O primeiro transmissor, um BAYTON, fora cedido por Victor Costa, dono da Rádio Mayrink Veiga – Rio de Janeiro, instalado no almoxarifado da Usina da Luz, onde mais tarde seria construído o hotel JK, operado por José Caunha Sobrinho e João Marrinha. Ao lado, no terreno do futuro Tênis Clube, a antena de madeira com 32 metros, que seria danificada por um boi mascarado que se desgarrara no caminho da Feira do Gado, tendo que ser diminuída e, mesmo assim, mantendo a qualidade de transmissão. Os primeiros locutores foram: Ary Rodrigues, Gilberto Nabor (Gilberto da Estatística) e Professor Rosalvo. Operadores: Júlio Paulo, José Fonseca e Biró Eletricista. A maior atração da emissora, programas de auditório, teve no seu primeiro comando, em termos de organização, o músico Vavá Brandão, dirigindo o Regional da Espinharas, com ele no pandeiro, Raminho no saxofone, Laureano no trombone, Quipinha e Antônio Moreno (violões), Antônio Barros na manola (substituído por Bideca de Pombal) e Valdim no surdo. Os cantores selecionados foram: Diva Xavier, Desterro Lopes, Dé Silva, Jota Sobrinho (Caunha), Ferreira Filho, Jota Vieira, José Inácio, Arnaldo Diniz, Edígio Lima e Luiz Oliveira. Ary Rodrigues comandava os programas de auditório: Festival de Música, as quartas e sábados à noite, Domingo Alegre – pela manhã, tendo como auxiliar seu irmão Zé Rodrigues, que fazia parte dos calouros. Artistas de fora também eram atraídos: José Jataí, os violonistas Aureliano e Cícero, além do cantor Paulo Sobral, todos de Campina Grande. Depois chegaram os irmãos Zé Orlando e Zé  Otoner, que cantavam em dupla e solo, especialmente composições mexicanas. Vale registrar a apresentação no Cine Eldorado, do grupo Los Piconeres – Conjunto Espanhol, show promovido e transmitido pela Rádio Espinharas.

Na área jornalística o destaque era para o Jornal Espinharas, ao meio dia, apresentado pelo professor Rosalvo e Ary Rodrigues, com notícias captadas por telegrafistas contratados pela emissora; Cartão Sonoro, com Neves Soares; Comentário Político, às 17h, com Dr. Quinídio Sobral; A Crônica do Dia, às 18h, com Dr. Chico Soares e Um Tango e uma Poesia, a partir das 22h, com Dr. Dionísio. A programação da emissora era desenvolvida das 06h às 23h45. No período diurno, até as 17h, a energia era fornecida pela Sorveteria Quitandinha, do empresário Souto Maior e até o encerramento com a energia fornecida pelo município. A primeira transmissão feita do meio da rua aconteceu na campanha de Pereira Lira, no mês de agosto de 1950, poucos dias após a inauguração oficial, quando, pela primeira vez, Luiz Gonzaga – o Rei do Baião, com Catamilo no zabumba e Zequinha no triângulo, se apresentou na Capital do Sertão, em frente à casa de Dr. Clóvis Sátyro, na avenida Solon de Lucena.

Com a derrota nas urnas e o desestímulo de Pereira Lira, a UDN perdeu a concessão da Rádio Espinharas para o PSD e uma nova diretoria assumiu a emissora em 1951: diretor-presidente – Wilson Jansen; diretor comercial – José Urquiza, diretor artístico – Dr. Valter Arcoverde; diretor técnico – Didi Barros. O corpo funcional foi mantido, recebendo o reforço do experiente locutor Francisco Jaime Pereira (Chico Espirro), contratado pela Rádio Clube de Pernambuco, no ano seguinte, oportunidade em que chegaram: Luiz Pereira, além de Ramalho Silva e Valdivino, substitutos de professor Rosalvo e Gilberto da Estatística, que se transferiram de Patos. Neste ano, grandes promoções artísticas foram levadas a efeito, com apresentações dos shows de: Augusto Calheiros, Gordurinha, Vicente Celestino, Linda Marival, Jonas Araújo, Marinês, Giseuda Moreira, Arlindo do Piston, Aureliano do Violão, Arnaldo Leão e os Boêmios da Noite. No final de 1952, as emissoras paraibanas tinham como supervisor Teófilo de Vasconcelos que entregou a direção da Espinharas a José Soares, proprietário da Livraria Minerva que, já no início do ano seguinte, passaria a função a José Almeida, por determinação do novo supervisor Benedito Vasconcelos.

Em 1955, a única emissora de Patos sairia do ar e só voltaria a operar em 30 de junho de 1958, quando foi adquirida por Drault Ernanny e passou a ser dirigida por Maurício Leite, responsável pela sua reestruturação e modernização em termos de equipamentos. Trouxe valores como Severino Quirino, Joel Carlos e dinamizou o departamento comercial. Adquiriu um transporte próprio (uma Chevrolet, modelo Marineti, do ano), trocada por uma Perua VEMAGET nova, em 1961. Entre 1962 e 1963, a Rádio Espinharas trouxe a Patos grandes atrações: Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Pedro Raimundo, Zé Trindade. Através do empresário Saturnino Benevides, também tornou possível as apresentações de Núbia Lafaiete e o argentino Carlos Ramires, constituindo a época de ouro do nosso rádio. O segundo dono, que também enveredava nos caminhos da política, viria a sofrer o mesmo desgosto depois de ter sido deputado federal e perder a eleição seguinte de suplente de senador. Decidiu, então, por vendê-la à Diocese de Patos, no dia 13 de maio de 1962. Adquirida pelo Movimento de Educação de Base, um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a primeira estação de rádio do sertão recebeu um suporte considerável com a implantação de novos equipamentos, passando a constituir um dos maiores instrumentos de educação e evangelização que não pararia de crescer, chegando à condição de um dos maiores meios de comunicação do Estado da Paraíba. Vale destacar que, até a década de 70, as emissoras de rádio constituíam uma das poucas opções de lazer e, sem a concorrência da televisão atuavam, até mesmo no campo das novelas, com dramatizações permanentes e sequenciadas, a exemplo da Paixão de Cristo, apresentada na Semana Santa.

Em 05 de fevereiro de 1980, é inaugurada a segunda emissora de Rádio, iniciativa do deputado Ernani Sátyro e seu sobrinho Múcio Sátyro, sendo que a constituição da empresa (concessão) datava de 06 de agosto de 1976. A Panati AM, operando em 1 KW, passou a funcionar em sede própria, na Avenida Epitácio Pessoa, 242, centro. A solenidade de inauguração contou com a presença de várias autoridades, a exemplo do governador Tarcísio Burity, e foi marcada por uma apresentação, em praça pública, do Rei do Baião – Luiz Gonzaga. Foi também através da iniciativa dos dois parlamentares que a cidade de Patos ganhou a primeira emissora em frequência modulada a operar em toda a região sertaneja. A Panati FM teve sua liberação pelo Ministério das Comunicações em 1º de janeiro de 1986, passando a servir de escola para vários nomes que passaram a constituir os novos métodos de comunicação, no aprimoramento do setor através da evolução dos tempos.

O Sistema Itatiunga de Comunicação, iniciativa do deputado Edivaldo Motta, iniciou a programação de sua Rádio FM em 08 de junho de 1990, contudo a constituição da empresa data de 09 de julho de 1986, enquanto que a AM funciona desde primeiro de janeiro de 1991, autorizada pelo Ministério das Comunicações em 09 de junho de 1990.

Além das duas FM’s e três AM’s, a cidade de Patos passou a ser servida pelas rádios alternativas: do Centro, conjunto Noé Trajano, Jatobá e Bivar Olyntho, instituídas a partir de setembro de 1997, além das rádios comunitárias FM: Morada do Sol, na rua Vidal de Negreiros; Cidade Morena, no conjunto Nova Conquista (2007), Princesa, na Vila Mariana (2008) e Espinharas (2011). A Rádio Princesa  teve suas atividades suspensas em 2014.

A primeira associação de radialistas de Patos, idealizada por Ary Rodrigues, foi criada em 1961, a partir de uma reunião realizada nos escritórios da Rádio Espinharas, presidida pelo deputado e advogado José Gayoso, especialmente convidado na qualidade de honorário da categoria. Também esteve presente o vice-prefeito, Otávio Pires de Lacerda, que aceitou o convite para fazer parte da entidade, como dentista. Na segunda metade da década de oitenta a cidade ganharia a AIP – Associação de Imprensa de Patos, congregando todos os profissionais da comunicação e, com a sua desativação, surgiria, no início do século XXI, a AISP – Associação de Imprensa do Sertão da Paraíba, idealizada pelo saudoso jornalista, Mário Soares, o primeiro acadêmico de Comunicação Social do município.

Com relação à comunicação televisiva, passamos a ter escritórios e representações das afiliadas das redes nacionais, sediadas em João Pessoa e Campina Grande, a partir das últimas décadas do Século XX, quando estas representações chegaram por intermédio das sucursais de jornais, que integravam os mesmos grupos de comunicação, a exemplo da Rede Paraíba, Sistema Correio e TV Tambaú.

 

A Primeira Voz Feminina do Rádio

Em 02 de agosto de 1950, um dia após a inauguração oficial da Rádio Espinharas de Patos, por uma coincidência do destino, motivada pela ausência do locutor Amilton Carlos, residente em Pombal, surgiu a primeira voz feminina da nossa emissora pioneira: Maria das Neves de Sá Figueiredo (Nevinha). Quase que por uma imposição do Dr. Quinídio Sobral, então diretor, a jovem que se encontrava no veículo de comunicação deveria apenas preencher uma lacuna momentânea, no entanto acabaria descobrindo uma de suas vocações e seria efetivada na função de locutora, titular do programa Cartão Sonoro, musical apresentado no período da manhã.

Filha de João Soares Nascimento Melo e Cecília Soares de Sá, Nevinha nasceu na rua do Prado, tendo como irmãos: Maria da Guia, Socorro, três de nome Luiz (em virtude do falecimento prematuro dos dois primeiros), Inácio, Marluce, Anete e João. Seu pai, depois da atividade agrícola, na condição de arrendatário do sítio Santana, tornou-se conhecido como comprador de algodão e peles de animais. Ainda criancinha, nossa personagem registrava como primeira façanha o fato de ter escapado ilesa da travessia da rua do Prado, quando ainda se arrastava, momento em que o carro de Chico Wanderley (o primeiro automóvel de Patos), transitava na referida artéria, ficando ela entre as rodas e pregando um grande susto na mãe.

Nevinha teve os primeiros contatos com as letras, na condição de aluna da professora Candu, irmã do mestre João Norberto, na avenida Solon de Lucena. Mais tarde frequentou a escola de Lourdes Vieira, na rua em que nasceu, sequenciando o processo educacional no Rio Branco, com as irmãs: Eudócia e Nelita Queiroz. Por decisão dos seus pais, passou a ser interna do Colégio das Damas Cristãs da Imaculada Conceição, em Campina Grande, concluindo o Ginásio em 1942, antes de ingressar no curso Normal, na cidade de Patos, paralelo ao trabalho desenvolvido em sua própria escola, instalada no cruzamento das ruas Prado e Nego. Também foi professora dos colégios Cristo Rei e Diocesano, onde era responsável pelo Admissão. Na Prefeitura, ocupou as funções de inspetora e diretora da Rede Municipal de Ensino.

Em meio às coincidências da vida, Nevinha que sempre foi muito religiosa e na juventude gostava de participar de velórios e sepultamentos, no retorno do enterro do senhor Januário de Oliveira, fitou aquele que seria o seu futuro esposo. O noivado aconteceu em 23 de maio de 1958, com casamento em 06 de dezembro do mesmo ano, às 6h, celebrado por monsenhor Vieira. José Torres de Figueiredo (Torrinho), que tinha como atividade uma revenda de gasolina, depois foi sócio de uma casa de peças de veículos em Pombal e dono de mercearia no bairro Belo Horizonte, antes de ingressar na atividade definitiva de Lotérica, seria seu companheiro durante 58 anos. O filho de Severino Figueiredo de Araújo e Joana Torres de Figueiredo, faleceu em 11 de dezembro de 2013. Do enlace matrimonial nasceu apenas uma filha, Raquel Soares de Sá Figueiredo e três netos: Priscila, Larissa e Renê Filho. Em 2014, quando completou 91 anos de idade, Nevinha já tinha uma bisneta de nome Ester.

As aptidões artísticas, inseridas no contexto existencial de Dona Nevinha, começaram a ser exploradas a partir do artesanato, chegando a ser instrutora na confecção de flores artificiais, durante cursos e oficinas realizados no SESI – Serviço Social da Indústria, atendendo convite de Ignácia Rosa de Lima. Ela também se especializou na confecção de enxovais, vestido de noiva, bordados e outras particularidades da costura. No tocante às artes plásticas, chegou a frequentar, por pouco tempo, o ateliê de Irmã Madalena, que no primeiro momento já a reconheceu como profissional. Muitas são as telas espalhadas Brasil afora, retratando com perfeição o real e o imaginário. Aos 83 anos, ela pintou um pescador, que mantém em um dos cômodos de sua residência, na rua do Prado e em 2014 finalizava um quadro de Santa Cecília, admirado pelo padre José Ronaldo, pároco da Catedral de Nossa Senhora da Guia, pela perfeição dos detalhes.

Relembrando com saudade a época de juventude, rememorou za elegância das moças, rapazes, senhoras e senhores no caminho das missas dominicais, onde a moda predominava no bom gosto como fator preponderante. Roupas trabalhadas, chapéus e luvas, prevaleciam em meio aos acessórios indispensáveis. Outro ponto inesquecível eram as festas de setembro com suas tradicionais rainhas e uma variedade de atrações, em meio à criatividade do povo do seu tempo.

*Quem estiver interessado em adquirir um exemplar da obra ‘Patos de todos os tempos’ pode se dirigir a Garagem Cultural, que fica na Rua Deodoro da Fonseca, nº 180, centro de Patos, ou solicitar pelo telefone em Patos (83) 98140-1462, em João Pessoa (83) 99991-2944. 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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