Bolsonaro calou a portas fechadas e produziu provas contra si a céu aberto (com comentário nosso)

By | 27/02/2024 12:26 pm

Discurso do ex-presidente foi fraco, mal articulado e perigoso, pois serve como munição contra ele na Justiça

(Da coluna de Eliane Cantanhêde, no Estadão, em 26/02/2024)
Foto do(a) colunaO ex-presidente Jair Bolsonaro não abriu a boca no que seria o seu depoimento à Polícia Federal, a portas fechadas, mas tratou de produzir provas contra si na manifestação de domingo na Avenida Paulista, a céu aberto, para milhares de bolsonaristas, mas também para a PF, o Supremo e quem mais quisesse ouvir. Está gravado, como a fatídica reunião do golpe no Planalto, e não tem como dizer que sua fala foi “deturpada”, “culpa da imprensa” e ele é alvo da “perseguição do ministro Alexandre de Moraes”.

Não foi por falta de tempo, mas talvez por excesso de empáfia, o fato é que Bolsonaro não se preparou devidamente para discursar. Como estaria entre seus seguidores, enrolados em verde e amarelo, esqueceu-se de que tudo o que dissesse seria usado contra ele. Os seguidores ouvem o que querem, concluem o que querem e sempre dão razão ao mito, mas eles não são o Brasil inteiro.

Bolsonaro discursou para milhares de apoiadores na Avenida Paulista
Bolsonaro discursou para milhares de apoiadores na Avenida Paulista Foto: TABA BENEDICTO/ESTADÃO

Sem saída, porque o papel foi encontrado na sua sala na sede do PL, Bolsonaro admitiu a existência e o seu conhecimento de um rascunho de pronunciamento anunciando Estado de Sítio no País. Irônico, perguntou como seria um golpe, se a medida está prevista na Constituição e precisa passar pelo Congresso? Mas o que interessa é que ele articulava, sim, decretação de Estado de Sítio, com objetivo claro: impedir a posse do presidente eleito democraticamente. E isso é golpe.

O ex-presidente também pediu “anistia” para o que chamou de “pobres coitados” que vandalizaram o Planalto, Supremo, Câmara e Senado em 8 de janeiro de 2023. Logo ele, que é contra até “saidinhas” das prisões no fim de ano? Presos comuns têm de ficar trancafiados, mas criminosos que quebraram as sedes dos três poderes e atentaram contra a democracia, ah!, esses coitadinhos têm de ser anistiados.

Racionalmente, o ato foi uma inegável demonstração de força popular, e portanto política, com mobilização de evangélicos, bandeiras de Israel e muitos milhares de militantes, além de deputados, senadores, prefeitos, quatro governadores e a vice-governadora do DF, Celina Leão. Só não havia… militares. Cadê os generais de Bolsonaro?

Mas, também sem paixão, o discurso de Bolsonaro foi fraco, mal articulado e perigoso, pois serve como munição contra ele na Justiça. Seus seguidores podem concordar, proteger o mito e atacar ministros do STF e do TSE, mas não as instituições e o Brasil todo, que não estão cegos e surdos para a realidade e a real tentativa de golpe. O ato de domingo foi bem organizado, mas Bolsonaro não se preparou bem. Pensou na foto, mas esqueceu de novo dos vídeos e áudios – que vão engrossar os autos contra ele.
Comentário nosso
Improvisar discurso não é para todo mundo. O analfabeto ou de “poucas  letras” deve escrever ou mandar escrever os seus discursos para não terminar dizendo besteiras em seus improvisos. Bolsonaro, que não quis falar quando foi prestar depoimentos na Polícia Federal com medo de se enrascar ainda mais, terminou se enrolando ao falar de improviso em sua manifestação na Avenida Paulista. Parte de suas declarações vão terminar servindo de munição para os processos de que se defende. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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