A comunidade médica dos Estados Unidos está preocupada com o excesso de exames para detecção de câncer de próstata em homens em idade avançada e o consequente alto índice de tratamento agressivo nesta faixa etária, mesmo em quadros de baixo risco. Em 2010, cerca de 90% dos norte-americanos com câncer de próstata de baixo risco foram submetidos a cirurgia imediata para remover a próstata ou receberam tratamento com radiação, segundo dados da Associação Americana de Urologia.
De acordo com o jornal The New York Times, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos e do Colégio Americano de Médicos divulgou um novo conjunto de diretrizes que não recomenda a triagem de rotina contra o câncer de próstata para homens com mais de 69 ou 70 anos – ou para homens com menos de 10 a 15 anos de expectativa de vida.
Eles defendem que o tratamento do câncer nessa idade – por cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia – pode causar mais danos do que manter o tumor.
Brasil
Segundo Bruno Benigno, urologista do Centro de Oncologia e Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o cenário norte-americano é diferente do brasileiro. “Lá, há um excesso de exames e diagnósticos, mas aqui, a maioria dos homens descobre a doença em estágio avançado, então precisamos reforçar a comunicação em relação aos exames de triagem, e não o contrário”, diz.
O Inca diz ainda que o câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre a população masculina brasileira e representa 29% dos diagnósticos da doença no País. Em 2022, 16.055 homens morreram em consequência da doença, o que corresponde a cerca de 44 mortes por dia, segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Para mudar esse cenário, Benigno defende que é preciso reforçar as campanhas de prevenção e aprimorar os métodos de análise em relação ao quadro clínico dos pacientes para determinar com mais precisão quando o tratamento é ou não vantajoso.
Afinal, quando fazer exames de próstata?
A Sociedade Brasileira de Urologia segue a Sociedade Americana de Urologia, que indica que os exames devem começar a serem feitos aos 45 anos para todos os homens e aos 40 para os de grupo de risco. Segundo Marcelo Wroclawski, presidente da sociedade, o momento de parar é quando o homem tem entre 5 e 10 anos de expectativa de vida – cálculo que deve ser feito pelo médico, a partir do estilo de vida e quadro geral de saúde do paciente.
Wroclawski diz que a escolha por interromper o rastreio quando o paciente tem idade avançada se dá tanto pelo entendimento de que não há tantos benefícios em tratar o tumor nessa faixa etária, quanto pelos riscos das biópsias. Um dos principais métodos de detecção do câncer de próstata, as biópsias são invasivas e conferem risco de infecção e sangramentos, apesar de alguns centros já oferecerem métodos mais seguros.
A pasta reforça ainda, de um modo geral, que os métodos por imagem possuem um papel limitado tanto no diagnóstico quanto no estadiamento clínico da doença. Assim, a ultrassonografia transretal é o método de escolha para a realização da biópsia prostática, porém com a finalidade de orientar o posicionamento da agulha nas diferentes zonas da próstata. A ressonância magnética tem indicação em casos bastante selecionados. Ambos os métodos também têm baixa acurácia na determinação da extensão local da doença.
Quem é grupo de risco do câncer de próstata?
Fazem parte do grupo de risco do câncer de próstata e por isso devem começar a rastrear a doença aos 40 anos, segundo a SBU:
- Pessoas que ao nascer foram identificadas como do sexo masculino e têm caso de câncer de próstata na família (em especial se quem adoeceu foi o pai ou irmão);
- Pessoas que ao nascer foram identificadas como do sexo masculino e são negras, pois estudos mostram que a incidência e a taxa da mortalidade da doença é maior em negros;
- Pessoas que ao nascer foram identificadas como do sexo masculino e têm alterações genéticas BRCA, que indica predisposição para câncer (rastreio pode ser feito a partir de testes genéticos, mas ainda não é tão comum no Brasil).
Quais são os exames que detectam o câncer de próstata?
Quando vale ou não a pena tratar?
Segundo Benigno, a escolha sobre tratar ou não o câncer de próstata deve ser tomada pelo médico, junto ao paciente e sua família, após análise individual do caso. “O paciente e a família precisam entender os riscos tanto do tratamento, quanto de um possível avanço do tumor”, diz.
Se a expectativa de vida do paciente é inferior a 10 anos e o tumor não aparenta ser agressivo, não tratar pode ser melhor no sentido de garantir a melhor qualidade de vida a esse paciente em seu fim de vida. Já se o paciente idoso tem ótimas condições de saúde e o tumor tem risco de avançar rapidamente, o tratamento pode garantir mais anos de vida.